Não faço parte dos que passam o tempo a dizer mal dos seus empregos. Afinal de contas, trabalho na profissão que escolhi, há mais de 20 anos, e continuo a gostar (muito) do que faço, embora não haja nada perfeito na vida, e muito menos empregos. Isto para dizer que existem viagens de trabalho muitos chatas de fazer e que por vezes não correm nada bem (os leitores não têm culpa, e por isso cá estamos para fazer as reportagens o melhor que sabemos ou para dar o todo o feedback da moto); e outras são uma maravilha, e nessas ocasiões sentimos que somos uns autênticos privilegiados! Mas atenção, pois não é por isso que as coisas mudam: uma moto pode ser tão boa numa apresentação no Cacém como na Croácia, tal como pode ficar aquém das expetativas no Kartódromo do Bombarral ou no Circuito do Qatar. Profissionalismo acima de tudo, sempre foi o meu lema!
Então e onde é que incluímos a reportagem da EICMA nesta crónica? A tal maior feira de motos do mundo, onde todas as marcas querem estar? Vamos então contar como foi a nossa presença na edição deste ano. Pois bem, por razões diversas, não estive nas últimas edições desta feira, mas como já havia marcado presença há uns anos atrás, não sentia a mesma emoção da minha afilhada quando sabe que vai ao Toys “R” Us! No fundo, sei que vou adorar cada viagem à EICMA, mas também que me vai sair do pelo… Tudo começa sempre com uma viagem que tem início ainda de noite (madrugada), para chegarmos já cansados a Milão (ok, estou a exagerar um pouco), até porque durante a viagem de comboio do aeroporto até ao centro da cidade não há lugares sentados. Durante a parte da tarde existe algum tempo livre, mas convém não andar muito a pé, já que o “EICMA Iron Man” ainda nem começou. À noite, no pré-início da feira, existe o tradicional jantar organizado pela Honda com todos os jornalistas, um momento sempre de boa disposição e bom vinho à mesa. Obrigado Honda! Regressamos a pé ao hotel, fazemos as fotos da praxe na zona da Catedral de Milão e vamos dormir. Ainda nem visitámos a EICMA e já temos 10 km nas pernas!
Os dois dias seguintes são uma azáfama. Enganamo-nos no metro, faço uma selfie com o Kevin Schwantz, que havia entrevistado há 20 anos, e quase perdemos as primeiras apresentações, e são cerca de 35 as realizadas somente no primeiro dia!
Decidimos ir apenas às que dizem mais respeito ao mercado português, por serem de marcas já cá implantadas, mas ainda assim é impossível assistir a todas, com muitas delas separadas por 15 minutos (e mais de 500 de metros de distância, em pavilhões diferentes). Ou seja, normalmente quando uma apresentação está a meio, já outra está a ter início noutro local. Tentei dar o meu melhor, com a ajuda das minhas leves sapatilhas, o mesmo se passando com o Domingos que, acompanhado pelo nosso engripado diretor geral, ia realizando imagens para o YouTube e para o programa Moto+, no canal ABola. Eu, ia fazendo apontamentos para mais tarde escrever na revista e ia registando fotos para as redes sociais e algumas para a posteridade quando via algo que me deixava a babar. Sim, ainda existe muita coisa que me deixa a salivar num grande salão de motos e nem estou a falar do que vocês estão a pensar.
Motos de competição, alguns brinquedos com as novas Norton ou o protótipo da CFMOTO V4 fazem-me sentir como um miúdo outra vez, e nestes momentos fico novamente com as pernas mais leves! Seguimos caminho, encontramos alguém conhecido do setor que nos faz ficar 15 minutos na conversa e perdemos mais uma apresentação. Depois precisamos de almoçar rapidamente e perdemos mais uma apresentação… Mas afinal de contas, perguntam vocês, qual é a necessidade de irmos às apresentações?
Boa pergunta! Acima de tudo gostamos de ser os primeiros a ver o destapar das motos. Ouvimos também as explicações dos técnicos sobre as características das motos e vamos tentando registar tudo. Se não o fizermos, quando lá voltarmos ao stand, duas horas mais tarde, vamos encontrar 30 motos espalhadas e uma série de jovens bonitas, fechadas a vácuo, que não saberão informar-nos de nada! É claro que a internet ajuda muito hoje em dia, e seja por email, redes sociais, etc, vamos sabendo ao longo do dia o que as marcas estão a mostrar. Mas o ideal é ser mesmo omnipresente e estar assim em todas as apresentações…! Neste primeiro dia a última apresentação foi a da Ducati, às 19h00… A plateia era enorme mas somente na primeira fila conseguia ver-se alguma coisa. As restantes centenas de pessoas fazem uma competição para ver quem tem o selfie stick maior. Longa viagem de metro até ao hotel, tentar não adormecer pelo caminho e procurar o restaurante mais perto, pois no dia seguinte havia mais para ver!
O último dia de feira é um bocadinho mais calmo, pois existem menos apresentações, mas por outro lado as portas abrem ao público e começamos a ver mais pessoas do que motos. E claro, há que passar por todos os stands que não conseguimos visitar no dia anterior. A tática também muda para o último dia: o objetivo é não voltar a nenhum pavilhão, ou seja, se estamos no 4, é ver tudo o que há de interessante e seguir para o seguinte. A tática é boa mas acaba por não resultar, e acabamos por regressar sempre a algum pavilhão, onde havíamos estado mesmo ao lado do importante.
Mas não há lugar a frustrações, e mesmo com pernas que parecem ter feito a caminhada até Fátima (e sem termos visto tudo), acabamos sempre felizes por mais uma sensação de dever cumprido, e por sermos os tais privilegiados que, mais uma vez, foram os primeiros a ver estas motos de sonho. E um dia mais tarde, certamente, vamos testá-las, portanto não há que chorar. A ideia é descansar finalmente no avião, este que, por sinal, levantou de Milão 3 horas depois do previsto… Ossos do ofício! Por tudo isto, ir à EICMA é bom, mas se não fosse em trabalho se calhar seria menos stressante e melhor para as pernas!
Quanto à feira propriamente dita, não percam em breve tudo nas páginas da revista Motos e no programa Moto+. Aqui vou só dizer o que já não é surpresa para ninguém: os fabricantes chineses estão a fazer mais e melhor, a cada ano que passa!
Vemo-nos na próxima EICMA? Um abraço a todos!
