A nossa viagem continua. Hoje publicamos o sétimo roteiro por um distrito de Portugal Continental e ilhas! A viajar pelo distrito no sentido Sul/Norte, partilhamos com os nossos leitores alguns dos melhores segredos do nosso país para visitar de moto (meramente sugestivos…), com a certeza que muito há por (re)descobrir e nunca conhecemos tudo, às vezes nem sequer a nossa terra!*
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Distrito de Santarém: o primeiro a atingir a vintena de concelhos
Depois de na semana passada nos termos dedicado ao Distrito de Lisboa, eis que agora chegamos ao distrito de Santarém. É o primeiro de todos os visitados até agora em que existem pelo menos 20 concelhos. Aliás, para ser mais preciso, são 21, sendo que a maior parte fica a Norte do Tejo, mas também há vários e a Sul e até quem abrace as duas margens, caso de Abrantes.
O nome Riba Tejo assenta que nem uma luva a este distrito. Afinal de contas, é o rio que lhe molda o caráter e o define, mesmo se vários dos seus concelhos não são por ele diretamente atingidos. Por outro lado, é um verdadeiro distrito de transição. Na margem sul imperam as explorações agrícolas de maior dimensão e planícies, mas a norte torna-se mais montanhoso e vários dos seus concelhos mais a Norte têm nítidas influências beirãs, casos de Ferreira do Zêzere, Mação e Sardoal.
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Como tem sido prática habitual nos nossos roteiros vamos começar pela capital de distrito, também conhecida por Capital do Gótico e não é para menos! São vários os monumentos desse estilo na cidade. A ter de destacar apenas um, talvez a Igreja de Nossa Senhora da Graça.
Contudo, Santarém é muito mais que monumentos. Uma visita ao Jardim das Portas do Sol é obrigatória (muitos de nós, onde me incluo, já lá foram muito felizes e as vistas são incríveis), tal como uma visita à Feira Nacional da Agricultura ou da Gastronomia, já para não falar nos fãs da fiesta brava que abundam no Ribatejo e se sentem em casa em Santarém.
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Tomando Santarém como o coração do distrito a dificuldade será agora por onde começar o nosso roteiro. Aquela capital de distrito estende-se por todas as direções e está mesmo junto ao Rio, sendo que a sua localização é crucial há muitos séculos, podendo até recuarmos ao tempo da Reconquista Cristã, que teve lugar em 15 de março 1147, sob liderança do Rei D. Afonso Henriques.
Santarém não é uma cidade muito grande e o próprio município tem cerca de 552 km2 e não mais de 60.000 escalabitanos. O ideal da cidade é para se visitar a pé, perder-se no seu casco antigo e deliciar-se com a sua gastronomia e doçaria de eleição. Uma sugestão que não vai certamente defraudar será a conhecida Taberna do Quinzena. Uma alternativa pode ser, por exemplo, a Grelha, mas há muitas outras até menos conhecidas e não falta oferta hoteleira para pernoitar.
A não perder
Abandonemos agora Santarém e vamos dividir o roteiro em duas partes: uma a Sul do Tejo e outra a Norte, sendo que para uma visita minimamente detalhada vão ser precisos vários dias, mas não se vai arrepender.
Mais a Sul de todos os concelhos fica Benavente, já como vizinho de Alcochete e no distrito de Setúbal. De entre os seus muitos destaques, caso da agricultura, é em parte do seu concelho que vai ficar o Aeroporto de Alcochete e que poderá transfigurar toda a região. É também atravessado pela magnífica estrada EN 118 (liga Alcochete a Alpalhão), que já referimos como um ótimo roteiro.
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Ao seu lado e sempre a Sul do Tejo temos o gigante Coruche, com forte tradição agrícola, tal como Salvaterra de Magos, em produções intensivas de tomate, milho, pimentão, tal como Almeirim, também muito conhecida pelos seus vinhos, a Sopa da Pedra ou as Caralhotas (pequenos pães no forno que podem ser recheados e são deliciosos).
Em toda a Margem Sul do Rio as motos têm forte tradição, nomeadamente em competições, caso das várias provas do MX do Ribatejo e daqui continuam a sair grandes pilotos, caso de David Megre ou César Peixe.
Ao lado de Almeirim e também a piscar o olho a Santarém está Alpiarça e a sua Casa dos Patudos, sendo que a sua vizinha Chamusca é substancialmente maior, tal como as produções agrícolas de melão ou melancia, mas vamos continuando a viagem e sem atravessar a Ponte de Ferro que nos poderia levar à Golegã. Fica para outra vez.
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Ainda na Chamusca, mais precisamente na Freguesia do Arrepiado fica um dos miradouros mais fantásticos do país, uma vez que tem visão privilegiada para o Castelo de Almourol. Construção única que fica numa pequena ilhota no meio do Rio Tejo. Se tiver tempo, pelo lado norte, faça uma visita de barco ao castelo que não se arrependerá. É uma joia única.
Ainda temos Constância (abrange ambas as margens do Rio, mas a sede do concelho fica a Norte) e chegamos ao concelho de Abrantes, sempre pela margem sul… até chegar ao Rossio a Sul do Tejo! Se continuar em frente, junto ao Tejo, vai chegar a Alvega (lembram-se do Major Alvega) e entram no concelho de Gavião, já o Alto Alentejo ou então atravessam a Ponte da Barragem da Ortiga (cuidado com as curvas), rumo a Mação.
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Abrantes tem a maior parte da sua área na margem sul do rio e faz a ligação da EN2, vinda do Sardoal, rumo a Ponte de Sor. Uma ida ao seu Castelo e comer Palha de Abrantes (doce de ovos) são obrigatórios, isto antes de entrar no concelho de Mação que marca o fim do distrito e tem na Barragem da Ortiga, entre outras praias fluviais, caso do Vergancinho, um dos seus muitos encantos.
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Ao seu lado fica Sardoal, o pequeno concelho é atravessado pela Nacional 2 (muita gente comete o erro de ir pela Variante e perde um dos melhores pedaços do trajeto). Tem um centro histórico que merece ser visitado e há a hipótese, nunca confirmada, de ser a terra natal de Gil Vicente que a refere na sua “Tragicomédia Pastoril da Serra da Estrela”.
Mais a Norte temos Ferreira do Zêzere que marca definitivamente a transição para a Beira Baixa e o Pinhal Interior. Uma ida a Dornes é obrigatória, tal como uma visita ao Lago Azul e, se possível, um passeio de barco pela Albufeira de Castelo de Bode vai ser tempo muito bem empregue e um deleite para os sentidos. Aproveite para comer peixe do rio.
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Um pouco mais para Sul temos o concelho templário. Tomar tem conhecido um grande desenvolvimento e tem um forte polo universitário, tendo imenso para conhecer, com destaque inevitável para o Convento de Cristo ou a Feira dos Tabuleiros, mas Tomar é bem mais que isso e descobre-se a pé, com tempo. Liga-se intimamente a Abrantes porque ambos partilham a Barragem e Castelo Bode, a tal que abastece de água um terço da população portuguesa!
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Ao seu lado e na extremidade do distrito fica Ourém, com o seu magnífico centro e um Castelo intemporal, mas Ourém é mais que o seu centro e vinhedos. Basta pensar que é nesse concelho que fica Fátima, lugar onde se realiza a maior peregrinação de motos em Portugal e que se recomenda vivamente a fazer pelo menos uma vez. Este ano a Bênção dos Capacetes será em 21 de setembro. Não se esqueça de marcar na sua agenda.
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Aqui também fica parte da Serra de Aire e Candeeiros que é Parque Natural e abrange também parte do Concelho de Torres Novas e do seu histórico castelo. É terra de frutos secos e aguardente de figo, a consumir com moderação. Constância, que já referimos antes fica próximo e é a Vila Poema, onde viveu Camões e tinha o antigo nome de Punhete (podem rir, mas refere-se a uma pequena luva, sem os dedos). A confluência dos rios Tejo e Zêzere dá-lhe um encanto único.
Ao seu lado está a vizinha Vila Nova da Barquinha, fortemente marcada pela influência do Rio Tejo e o mesmo acontece com a Golegã, onde se realiza a inigualável Feira que atrai multidões de todo o país e do estrangeiro. Mesmo ao lado fica o Concelho dos Fenómenos. Entroncamento é hoje um centro urbano em crescimento acelerado e a ferrovia tem uma influência determinante no seu desenvolvimento. Também aqui a atividade motociclística é muito relevante.
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A seu lado está Alcanena que é terra de curtumes, de grutas e de serras e também tem muito para visitar, incluindo uma paragem obrigatória em Alcanede, isto antes de entrar no vizinho concelho de Rio Maior. Este marca a extremidade do concelho e tem ótimos locais para umas caminhadas, sendo que uma visita às Salinas é urgente e com tempo, talvez até para conhecer a sede do seu motoclube.
Para o final ficou o concelho do Cartaxo, já bastante mais próximo do distrito de Lisboa, com o qual faz fronteira. Muito conhecido pelos seus vinhos, o Cartaxo, tem no seu Museu Rural e do Vinho uma visita obrigatória. Escusado será dizer que para qualquer motociclista que se preze uma visita à Fábrica das Peles do Cartaxo é inevitável, mesmo que não chegue aí a comprar nada! Há sempre muita coisa para ver e, em vários casos, a preços bastante apetecíveis, mas nada como ver com os seus olhos.
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E eis que está apresentado um pequeno roteiro do Ribatejo, mais precisamente do distrito de Santarém. Como já perceberam, aqui reina a diversidade e as diferenças entre uma margem e a outra são imensas, mas há tanto para fazer e visitar! Come-se bem, bebe-se ainda melhor, as pessoas, como é tradição em Portugal, são muito hospitaleiras e as motos muito apreciadas. Ou seja, tudo bons motivos para fazer deste distrito uma visita obrigatória, melhor ainda se decidir perder-se e fugir dos roteiros tradicionais e previamente marcados. Vá com tempo, esqueça o GPS, aventure-se em estradas rurais, fale com os locais e descubra um pouco mais do nosso país.
*A distribuição geográfica tem por base a Reforma Administrativa de 1835 e, apesar de nos dias de hoje se falar menos de distritos e mais de regiões, o facto é que a regionalização nunca avançou e mesmo tendo sido extintos em 2011 os Governos Civis, essa divisão administrativa ainda faz sentido.
Daremos sempre alguns dados de caráter estatístico, gastronómico, possíveis roteiros, lugares imperdíveis ou qualquer outra informação que seja considerada mais relevante, nomeadamente para os amantes do mototurismo.
Por mera opção pessoal a viagem será feita de Sul para Norte, semana a semana, até se chegar às ilhas que compõem os arquipélagos da Madeira e dos Açores. Continue connosco neste roteiro virtual, que deve tornar real!