O MOTOTURISMO ENQUANTO REALIDADE SOCIAL E ECONÓMICA
1) O contexto
Recorro a alguns pressupostos de base para poder tornar utilizável a informação estatística disponível sobre o Turismo em Portugal (ver “Conceitos estatísticos”).
Para lá das definições para sabermos em concreto do que se fala, recorri ao conceito de “zona costeira vs zona não costeira”.
Assumi no início que o mototurista “foge” dos grandes aglomerados turísticos, desde logo toda a zona balnear dos 800km da costa portuguesa. O critério estatístico estabelece a fronteira a 10km da costa o que nesta perspectiva me parece demasiado curto, preferiria algo entre os 25 e 50 km – sabendo nós que a largura do nosso território é próxima de 200km – mas é preferível trabalharmos com dados concretos em vez de fazermos suposições.
O que pretendo provar é o potencial existente no interior do País – onde se situam as melhores e menos frequentadas estradas, as mais bonitas paisagens e onde é possível encontrar o Portugal mais genuíno. Aquilo que o mototurista procura, afinal.
Por outro lado, realçar algo que todos sabemos: o foco do turismo nacional encontra-se no litoral. Até a própria divisão administrativa do território esquece (ou favorece) esse “inclinar” para a costa. Por exemplo, a Região de Turismo do Centro abrange regiões tão díspares como as praias da Figueira da Foz, as Aldeias de Xisto ou a Serra da Estrela.
Vamos então aos números (referentes ao ano civil de 2022) que nos podem ajudar a explicar a realidade:
Os “alojamentos turísticos” são cerca de 70 mil – 83,4% na zona costeira. Ou seja, apenas 11 mil se situam a mais de 10km da costa.
Creio que os Mototuristas terão a preferência pelos classificados como “Turismo no Espaço Rural e Turismo de Habitação”. São no total 2.600. Dos quais 67% se situam fora da zona costeira
São apenas 1.700, mas poderão ser muitos mais e constituirem assim um factor de desnvolvimento das economias locais do interior. Um ponto a favor do desenvolvimento e da aposta no mototurismo.
O “número de dormidas”, mantendo a divisão costeira/não costeira, tem a proporção de 80% / 20% no Continente (obviamente influenciado pelo peso do Algarve e zonas de Lisboa e Porto que por si só representam 74%!). Se mais não fosse necessário dizer, potenciar o número de dormidas no interior poderá traduzir-se no acréscimo de riqueza das zonas que, como sabemos, são as menos ricas do território nacional.
Vejamos então, em termos de receita, se esta conclusão se mantém.
Para o total de “proveitos totais” (ver “Conceitos estatísticos”) de 5 mil milhões de euros, o contributo das zonas não costeiras representou apenas…14%!
Só as 3 regiões atrás mencionadas arrecadaram 68% dos proveitos totais.
Está demonstrado que o mototurismo pode ser um caminho – sejamos realistas, não o único, nem sequer o de maior peso – para dinamizar a procura turística no interior do País.
E fugindo à frieza dos números, pensemos que outra oferta turística leva a procurar um restaurante ou uma dormida no Torrão (Alentejo e no percurso da EN2), em Mação (Beira Baixa e junto à EN3), em Rebordelo (Trás os Montes, na EN103) ou Águas Boas (Beira Alta na Serra da Lapa)?