É do domínio comum que a divulgação da Proposta de Orçamento para 2024 comporta um agravamento muito significativo no Imposto Único de Circulação (IUC), fazendo com que também muitos veículos da Categoria E (ciclomotores, motociclos, triciclos e quadriciclos) que até aqui estavam isentos deixem de estar e outros que em que o aumento percentual é muito superior ao valor da inflação.
Também sabemos que o argumento para esta atualização tem a ver com a denominada “componente ambiental”, que não era considerada. Além disso, está prevista uma “norma travão” de acordo com a qual o aumento poderá ser gradual, estendendo-se a atualização por vários anos, uma vez que o aumento anual nunca será superior a 25€.
Entretanto, o primeiro-ministro, António Costa, já veio reforçar que não recua no agravamento do IUC, mesmo que a questão venha a ser debatida na Assembleia da República e que a petição que está a decorrer já tenha sido assinada por mais de 200.000 pessoas.
Como também sabemos da crónica aversão dos portugueses à Matemática, apresentamos a seguir três exemplos do que nos pode esperar, tendo por base as tabelas do site impostosobreveiculos.info.
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Importa ainda salientar que há alguns aspetos pouco claros, nomeadamente na questão dos veículos mais antigos que têm ou não as suas emissões de CO2 (g/km) definidas (os valores a cobrar serão diferentes) e exatamente quais são de acordo com a Norma NEDC (mais antigo e “otimista) ou WLTP (mais recente e “realista”).
Todos os exemplos são no plano teórico e resultam da aplicação das tabelas já conhecidas a veículos matriculados entre 1992 e 2023.
Veja também agravamento de IUC para motociclos anteriores a 2007
Exemplo I: 125 cc, matriculada em 1992
Tem uma singela 125, não interessa se de ciclo 2 ou 4 tempos, matriculada no ano 1992. A cilindrada nem é rigorosamente 125 cc, mas é acima de 120 cc pelo que a componente ambiental vai aplicar-se sobre ela.
Relativamente às emissões de CO2 não existe informação disponível e não foi possível obter essa informação no fabricante/importador, sendo que a marca até já pode ter saído do mercado.
Até 2023, inclusive, este veículo teria de pagar 6,19€, mas como as Finanças não cobram valores inferiores a 10€, acabava por não haver lugar a qualquer pagamento.
Porém, a componente ambiental aqui aplica-se, mesmo não havendo informação disponível sobre as emissões, sendo o valor aplicado de 10€.
Somando os dois valores (6,19+10), vai pagar em 2024 um total de 16,19€.
Exemplo II: 350 cc, matriculada em 2000
É dono de um motociclo, matriculado no ano 2000. A cilindrada nem é rigorosamente 350 cc, ficando ligeiramente abaixo, mas já sabe que a componente ambiental vai aplicar-se sobre o seu veículo.
Relativamente às emissões de CO2 existe informação disponível e o valor declarado, de acordo com a Norma NEDC, é de 70 g/km. Vai ser esse o valor usado para a componente ambiental.
Até 2023, inclusive, este veículo teria de pagar 8,76€, mas como as Finanças não cobram valores inferiores a 10€, acabava por não haver lugar a qualquer pagamento.
Porém, a componente ambiental aqui aplica-se e até já há informação disponível sobre as emissões, sendo o valor aplicado de 20€.
Somando os dois valores (8,76+20), vai pagar em 2024 um total de 28,76€.
De referir que, neste caso específico, a “norma travão” não se aplica porque o aumento (20€) é inferior a 25€.
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Exemplo III: 750 cc, matriculada em 2006
É dono de um motociclo, matriculado no ano 2006. A cilindrada nem é rigorosamente 750 cc, ficando ligeiramente abaixo, mas já sabe que a componente ambiental vai aplicar-se sobre o seu veículo, além de que já pagava IUC agora, mas por ser anterior a 2007 existia uma bonificação, sendo que o valor que pagou em 2023 foi de 36,41€.
Relativamente às emissões de CO2 existe informação disponível e o valor declarado, de acordo com a Norma NEDC, é superior a 100 g/km. Vai ser esse o valor usado para a componente ambiental.
Em 2024 o valor a pagar, expetável, seriam os 36,41€, mais uma atualização ligada ao valor da inflação.
Porém, a componente ambiental aqui aplica-se e há informação disponível sobre as emissões, sendo o valor aplicado de 30€.
Somando os dois valores (36,41+30), vai pagar em 2024 um total de 66,41€.
De referir que, neste caso específico, a “norma travão” já se aplica porque o aumento (30€) é superior a 25€. Assim, em princípio, o valor a pagar será de 61,41€.
Uma vez que ficou uma parcela da componente ambiental retida nesse ano, isso significa que, em 2025, o valor a pagar, fora um eventual ajuste por causa da inflação, será de 66,41€.
Exemplo IV: 1300 cc, matriculada em 2020
É dono de um motociclo, matriculado no ano de 2020. A cilindrada nem é rigorosamente 1300 cc, ficando ligeiramente abaixo, mas já sabe que a componente ambiental vai aplicar-se sobre o seu veículo, além de que já pagava IUC agora, sendo que o valor que pagou em 2023 foi de 134,26€.
Relativamente às emissões de CO2 existe informação disponível e o valor declarado, de acordo com a Norma WLTP, é superior a 117 g/km. Vai ser esse o valor usado para a componente ambiental.
Em 2024 o valor a pagar, expetável, seriam os 134,26€, mais uma atualização ligada ao valor da inflação.
Porém, a componente ambiental aqui aplica-se e há informação disponível sobre as emissões, sendo o valor aplicado de 30€.
Somando os dois valores (134,26+30), vai pagar em 2024 um total de 164,26€.
De referir que, neste caso específico, a “norma travão” já se aplica porque o aumento (30€) é superior a 25€. Assim, em princípio, o valor a pagar será de 159,26€.
Uma vez que ficou uma parcela da componente ambiental retida nesse ano, isso significa que, em 2025, o valor a pagar, fora um eventual ajuste por causa da inflação, será de 164,26€.