Há mais de 35 anos no mercado, a Mitt tem vindo a acumular muita experiência com diversos modelos e motos de segmentos diferentes, com foco especial nas motos de 125cc e esta GT-K 750 volta a ser uma pedrada no charco.
O sucesso da marca deve-se a uma parceria bem próxima com diversos parceiros chineses que juntos, permitem que a marca espanhola se desenvolva e ofereça um leque maior de opções aos seus clientes. E apesar de não podermos ignorar que os primeiros anos da Mitt foram complicados, a marca quer reverter a situação e mostrar que está mais madura, e a GT-K pode ser a resposta que precisava.
POR: João Fragoso
FOTOS: Mitt
Inspiração europeia
As Mitt são fabricadas na China, com mão da marca espanhola naturalmente, mas 90% do processo é realizado em solo asiático, nomeadamente o desenho dos modelos base. Esta GT-K deixa poucas dúvidas sobre a sua inspiração e sobre qual o modelos a que a marca olhou para idealizar esta moto de turismo de média cilindrada. É percetível pelos faróis dianteiras e toda a carenagem frontal, assim como as tampas cinzentas na lateral da moto, que nada são senão um apontamento estético.
O painel TFT de enormes dimensões acende também imediatamente luzes na nossa cabeça e oferece quase um déjà vu, mas com muitas certezas de onde já vivemos aquele momento. Toda a GT-K emite uma aura muito germânica, algo que pode ser visto como ofensivo por uns, e uma jogada muito interessante por outros. A verdade é que percebemos que há pequenos pormenores que denunciam esta Mitt, nomeadamente alguns componentes com uma qualidade de construção mais deficitária, como os imensos botões na coluna central de direção, que nos ajudam a navegar no painel, a controlar o vidro elétrico e a ligar o assento e punhos aquecidos. As crash bars dianteiras e traseiras também identificam imediatamente a GT-K.
E apesar de percebermos o seu propósito, provavelmente seria uma das primeiras coisas a retirar assim que moto estivesse na nossa garagem. Não só pelo peso, mas também, e especialmente pela parte estética.








75 cv para 250 kg
Vamos ao coração desta GT-K. Como referimos as parcerias da Mitt estão na china, e por isso mesmo este motor é um dos componentes de fabrico asiático. O seu comportamento fez-nos lembrar de um bloco bem conhecido – da Kawasaki ER-6N – com uma sonoridade bem característica e um comportamento de caixa que nos transporta um pouco atrás no tempo.
E isso pode ter um lado bom, mas também um lado menos positivo. A parte boa é que mecanicamente estamos quase certos de que este bloco será pouco problemático uma vez que a engenharia do mesmo está mais do que comprovada e testada e sabemos que é usado por diversas marcas, em modelos diferentes. O menos positivo é o facto dessa mesma tecnologia ser já algo antiga. Traduzindo isto para as sensações que a GT-K nos proporcionou, podemos dizer que se sente o peso da idade.
A caixa é algo áspera, apesar da embraiagem ser bastante leve, e as vibrações são bem notórias principalmente na faixa entre as 5.000 rpm e as 6.000 rpm. Isso não seria problemático não fosse esta uma moto pensada para longas viagens, uma vez que nessa rotação estamos sensivelmente entre os 130km/h e os 140 km/h. E mesmo tentando passar um pouco essa faixa, sentimos que as vibrações aumentam, apesar de se dissiparem um pouco mais para a zona dos pousa pés. E quando falamos de uma moto que pesa 250 kg, os 75 cv têm de estar muito bem distribuídos para que não nos parece excesso de peso, algo que acabamos por sentir aos comandos desta Mitt.
Não pela parte da ciclística, onde a moto se sente bem mais leve do que está escrito na ficha técnica, mas pela alguma falta e vivacidade do motor bicilíndrico, que apesar de contar com dois modos de condução distintos, não nos pareceram suficientes para oferecer a vivacidade que a moto pede. Numa nota positiva, este bloco aguenta bastante bem circular me baixa rotação com pouco acelerador, em ambiente citadino, o que se reflete nos baixos consumos da moto – a rondar os 5 L/100 km.
Leve e irrequieta
No departamento do ciclística a Mitt quis oferecer o máximo de conforto possível, conjugando o conforto com uma performance interessante, não necessariamente desportiva – nem é esse o propósito duma moto deste tipo. Para isso, na dianteira encontramos uma suspensão invertida ajustável em pré-carga e compressão, que segundo os engenheiros da marca é fabricada pela Showa e um mono amortecedor, também ele com a mesma possibilidade de ajustes que encontramos na frente.
Contudo, o ajuste de pré-carga na traseira da moto não está propriamente acessível ao utilizador comum, sendo necessário recorrer a um concessionário, algo que a Mitt já nos informou estar a trabalhar com os seus parceiros na China, para que seja colocada uma roda que permita o ajuste da mola de forma prática. Sendo isto algo que faz todo o sentido, tendo em conta o segmento e o propósito desta moto. A verdade é que com uma finação base, sentimos a GT-K bastante confortável, com um assento que faz jus ao segmento onde se insere, bastante confortável e largo o suficiente para nos permitir muitos quilómetros sem parar. Algo também possível devido ao depósito de combustível de 24L.
No capítulo da performance, a GT-K fica algo desconfortável com movimentações e transições bruscas, revelando o mesmo comportamento quando enfrentamos algumas irregularidades na estrada. Apesar dos seus 250 kg aparentarem desaparecer assim que começamos a circular, parece quase que essa sua leveza em andamento se torna um problema. Qualquer reação que tenhamos um pouco mais abrupta a moto vai reagir também, com alguma imprevisibilidade, algo que pode assustar os menos experientes. Poderá ser apenas uma questão de afinação da suspensão, uma vez que a mesma nos pareceu demasiado rija, o que torna estas reações mais bruscas também.
Ainda assim, para um ritmo descontraído e relaxado, a posição de condução e toda a ergonomia estão muito bem desenhadas e permitem imediatamente que nos sintamos totalmente à vontade com esta moto. A travagem conta com pinças radiais Brembo na dianteira e duplo disco de 298 mm. Sim, aqui o único senão são os discos de 298 mm que exigem alguma força para parar a inércia de 250 kg a velocidades mais elevadas. O tato é bom, mas a potência fica um pouco abaixo do esperado, tendo em conta o peso da moto. O travão traseiro cumpre o seu propósito, estando também equipado com pinças radiais Brembo e um disco de 220 mm.
Algo que nos agradou bastante nesta Mitt GT-K foi a escolha dos pneumáticos por parte da marca espanhola, equipando esta moto com os Pirelli Angel GT, pneus com provas dadas no segmento turístico desportivo. E deve ser um ponto referido uma vez que muitas vezes vemos as marcas a querer poupar neste departamento, onde pensamos ser aquele que não deve haver poupanças.
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Equipamento de sobra
Um dos grandes argumentos de venda nos últimos anos das marcas que se querem afirmar no mercado e aproximar dos tubarões já bem cimentados, é a oferta de uma enorme panóplia de tecnologia. No caso da Mitt GT-K não é diferente. A marca espanhola equipou esta moto com um painel TFT de 12.3” com ligação ao telemóvel e que apresentou péssima visibilidade… Até termos percebido que alguém tinha colocado o brilho no mínimo. A verdade é que o TFT de enormes dimensões permite ler muito bem toda a informação, com a opção de brilho no nível máximo, mesmo quando o sol está forte e a bater diretamente no painel. E para além de termos uma carenagem frontal praticamente toda ocupada com um TFT esta moto equipa ainda punhos aquecidos, assento do condutor aquecido e malas laterais de 20L cada uma. Tudo mais valias para os viajantes. Como se não fosse suficiente, contamos ainda com um vidro regulável eletronicamente, sistema keyless e uma consola central de botões que permitem controlar praticamente tudo isto, incluindo a abertura das malas laterais e tampa do depósito de combustível.
Trabalho pela frente
A Mitt tem vindo a crescer ao longo dos últimos anos no mercado ibérico e a aposta em segmentos e cilindradas diferentes é uma demonstração de força e de vontade para atingir voos ainda mais altos. A GT-K é uma proposta ambiciosa que tem potencial para vingar no mercado, mas que merece ainda algum trabalho e polimento para que possa chegar ao patamar de concorrer com alguns dos grandes nomes já bem cimentados no mundo das duas rodas. E se há alguns anos as parcerias com o mercado chinês eram mal vistas pelo défice de qualidade, hoje são vistas como uma rampa de lançamento que pode potencializar o crescimento de uma marca, por todo o conhecimento que a indústria chinesa foi adquirindo. Será este conhecimento suficiente para alavancar uma nova moto turística de média cilindrada da marca espanhola? Pelo que vimos, queremos acreditar que sim.
FICHA TÉCNICA
MITT GT-K
Motor: Dois cilindros em linha, refrigerado por líquido
Distribuição: DOHC, 4 válvulas por cilindro
Cilindrada: 730 cc
Potência máx.: 75 cv às 8500 rpm
Binário máx. : 71 Nm às 6700 rpm
Limitável a A2: SIM
Velocidade máx.
Embraiagem: Multi-discos em banho de óleo
Caixa: 6 velocidade
Final: Por corrente
Quadro: Tipo Deltabox em alumínio fundido
Suspensão Dianteira: Forquilha invertida, ajustável em pré-carga e compressão
Suspensão Traseira: Amortecedor, ajustável na pré-carga e compressão
Travão Dianteiro: Dois discos 298 mm, pinças radiais Brembo, ABS
Travão Traseiro: Disco 220 mm, pinça Brembo radial, ABS
Pneu Dianteiro: 120/70-17”
Pneu Traseiro: 180/55-17”
Altura do Assento: 780 mm
Distância entre Eixos: 1465 mm
Depósito: 24 litros
Peso (em ordem de marcha): 249 kg
Cores: Preto, Azul
Garantia: 3 anos
Importador: Puretech Moto
Preço: 10.990€