O oito vezes campeão do mundo, Marc Márquez, cumpre neste fim de semana a sua última corrida na equipa Repsol Honda, ao serviço da qual esteve 11 anos, tendo ganho seis títulos mundiais.
Nesta breve entrevista que deu à Box Repsol, pouco mais de oito minutos, realizada pouco antes do início da prova o piloto, agora com 30 anos, com os nervos à flor da pele, conta-nos um pouco da sua trajetória. Como chegou aqui, as mudanças que foi sofrendo ao longo da carreira, algumas das razões porque Valência é tão especial, sendo que se pode resumir quase tudo numa única frase por ele pronunciada:
A equipa Repsol Honda será sempre a equipa da minha vida e é ao serviço dela que serei lembrado!
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Alguns excertos da entrevista – PARTE I
Vais disputar o teu último Grande Prémio com a equipa Repsol Honda. Qual é a tua expetativa?
Estamos na quarta-feira do Grande Prémio de Valência, o último Grande Prémio do ano. É óbvio que agora as bancadas estão vazias e é um pouco mais calmo do que será mais tarde, porque durante o fim de semana há muita azáfama. Ser o último Grande Prémio do ano é sempre especial, mas este é diferente. Não gosto de dizer que é o meu último Grande Prémio com a Honda, porque nunca se sabe no futuro. Mas será o fim de um período com a equipa Repsol Honda em que alcançámos muito sucesso e será um fim de semana de muitas emoções.
Como é que trabalhaste mentalmente para o fim de semana?
É sempre muito difícil trabalhar a forma de enfrentar um Grande Prémio, e ainda mais quando se trata de emoções. Haverá com certeza momentos inesquecíveis neste Grande Prémio em Valência, pois quero dar o meu melhor em pista e para isso tenho de estar 100% concentrado.
O que é a Equipa Repsol Honda para ti?
A Repsol Honda Team tem sido e será sempre a equipa da minha carreira desportiva e da minha vida. Estou com eles há 11 anos, onde ganhámos seis títulos mundiais, e não o vou fazer com outra equipa. Tenho 30 anos e a carreira desportiva de qualquer desportista ou piloto, neste caso, dura o tempo que durar e será a equipa com a qual obtive mais êxitos a nível pessoal e coletivo.
Reconheces a moto que está atrás de ti e que recordações te traz?
Foi aqui que tudo começou. Foi a minha estreia e foi uma estreia de sonho: primeiro ano e vitória. Para mim foi o ano mais divertido porque não havia pressão nenhuma, tudo valia a pena e tudo correu bem. Tive a oportunidade de entrar na equipa onde os meus ídolos tinham corrido, além de partilhar a box com um dos meus ídolos que era, e é, o Dani Pedrosa. A partir daí começaram estes 11 anos que, se virmos bem, foram de sucesso.
Qual é a diferença entre o Marc de 2013 e o Marc de 2023?
Aprendemos mais com os momentos difíceis e os golpes que recebemos durante todos estes anos, mas também desfrutámos e dançámos muito com os bons momentos. Não se pode comparar um miúdo de 20 anos com um “homenzinho” de 30, que tem ideias mais claras e é mais maduro. Aprendi muitas coisas e as decisões que tomei agora, aos 30 anos, não as poderia ter tomado aos 20, 22, 23, 24 ou 25 anos, porque não tinha maturidade para as tomar.
O que é que não mudou em ti ao longo dos anos?
O meu carácter não mudou, o meu sorriso e, sobretudo, a minha ambição, que continua a ser a mesma de quando comecei. Estou aqui para tentar ser o melhor em pista e, para isso, há que tentar encontrar a melhor solução. Há muitas alturas em que é difícil, mas não dormiria descansado se amanhã me retirasse com dúvidas ou “e se tivesse feito isto ou aquilo? Sou sempre um piloto que, dentro e fora da pista, faz o que sente e o que acha necessário para tentar lutar pelos lugares cimeiros.
Alguns excertos da entrevista – PARTE II
Ao longo de todos estes anos com a Repsol, há algum momento que se destaque para ti?
Com a Repsol há muitos momentos e, acima de tudo, os momentos no circuito ficam-me na memória. Há muitos pormenores, lembro-me de quando me puseram no avião deles… fizemos muitos eventos. Os jantares de domingo em Valência quando acabava a época, faziam festas muito divertidas, são momentos que nunca esquecerei. Como estou na Repsol há muitos anos, vi muitas pessoas entrarem e saírem da Repsol, diferentes equipas, desde a comunicação ao patrocínio, e fizeram sempre um excelente trabalho e senti-me muito bem tratado, sinto-me privilegiado.
Achas que ter o apoio de uma marca como esta o ajudou em termos de reconhecimento em Espanha?
Todo o paddock quer ser um piloto da Repsol Honda e quer estar com a Repsol porque é o patrocinador com mais história no MotoGP, o que está ligado ao motociclismo, à competição… E, obviamente, vocês são a inveja do paddock. Toda a gente gostaria de ter uma mota pintada pela Repsol e estar em todo o lado.
Quando estás sozinho e pensas em quem és, no que conseguiste e no que significas para o desporto, o que te vem à cabeça? O que sentes?
Todas as pessoas que nos apoiam, damos-lhes muito valor, não só nos bons momentos, mas também nos maus momentos e, para mim, não faz sentido andar sozinho no circuito, para mim faz sentido competir, criar emoções nas pessoas, ver o paddock cheio, ver uma menina ou um menino chorar ou ficar parado, são reacções que criamos nas pessoas que eu nunca teria imaginado. Quando se é miúdo, imagina-se a vida como cavaleiro, mas não se imagina a vida como estrela.
Como foi essa estreia com pilotos como Lorenzo, Rossi e Pedrosa na pista?
A primeira corrida no Qatar, quando consegui ir atrás do Pedrosa e do Valentino. Foi fantástico ver o nome do Pedrosa, do Rossi e do Lorenzo quando estamos a correr e é ele que está à nossa frente… estamos na Moto3, depois na Moto2, mas são coisas que não são realistas. Depois, quando se chega lá e se vê, percebe-se que é uma coisa importante.
Qual é a corrida que mais te lembras de ter ganho?
Há muitas que não ganhei por ser o mais rápido, ganhei por ser o mais inteligente ou por gerir a corrida de uma forma diferente. Algumas de Montmeló ganhei não por ser o mais rápido, mas por gerir a corrida da melhor forma, e muitas outras, ganhei na Holanda, que é um circuito em que não sou bom, mas já ganhei muitas vezes. Ficam-nos na memória, mas foram tantas… é bom esquecê-las.
E qual foi a mais difícil?
A mais difícil? Acho que 2013, aqui em Valência. Não foi a mais difícil, mas foi a mais longa de longe, porque eu tinha de terminar em quarto se Lorenzo ganhasse a corrida. E foi muito longa porque quando vais ao limite vais superconcentrado e passas as voltas rápidas, mas quando vais com dúvidas, não vais ao limite, não podes cair, pensas em mais coisas… a corrida demorou uma eternidade, mas deu-me o título em 2013.
Estamos na curva 1 de Valência, não te faz lembrar nada?
Nesta curva, no Campeonato do Mundo de 2017, a curva 1 em Valência foi onde fiz a mítica defesa da esquerda, uma das melhores defesas que já tive. Essa manobra foi a manobra mais arriscada, eu estava numa corrida tão calma que tentei liderar e afastar-me para criar essa tensão e voltar a concentrar-me na corrida e, numa dessas, quase me despistei.
Do que é que vais sentir mais falta da sua experiência com a Repsol?
Do que é que vou sentir falta da Repsol Honda? Vou sentir falta de tudo, desde a entrada na box, às cores, às pessoas, à mota… Não fiz mais nada. Desde que entrei em 2013 estou com as mesmas pessoas, as mesmas cores, a mesma box, com tudo igual… a questão é do que não vou sentir falta.
Que mensagem tem para os adeptos que o seguem e que vestem as mesmas cores?
Penso que muitos adeptos que são adeptos da Repsol Honda vão continuar a apoiar a 93 também, porque como disse no meu post quando foi anunciado e continuo a acreditar: estamos separados, mas sempre unidos, de alguma forma estamos unidos. Será a equipa, faça eu o que fizer, e seja qual for a minha nova etapa, esta será a equipa da minha vida, da minha carreira desportiva e aquela pela qual serei recordado.