Contacto – Moto Morini X-Cape 700. Na edição de 2019 do Salão de Milão, a Moto Morini, recém adquirida pelo grupo chinês Zhongneng Vehicle Group apresentou-se em grande forma. Mas houve um modelo em particular que recolheu grande parte da atenção deste esperado regresso ao mercado da histórica marca italiana: a X-CAPE 649, uma trail de linhas rally, muito acessível e com equipamento de luxo, que ganha nova vida através desta evolução.

POR Domingos Janeiro • Fotos Paulo Calisto
Renascida das cinzas em 2019, a Moto Morini rapidamente captou a atenção do mercado europeu, que recebeu a X-CAPE 649 com grande entusiasmo e nem mesmo os três anos de espera que se seguiram entre a apresentação do modelo e a sua entrada em produção e posterior entrega aos clientes, refreou os ímpetos dos potenciais clientes. A partir de 2022 começaram então a ser entregues as primeiras unidades e depois, foi deixar os argumentos da trail italiana falar mais alto e fazer o resto do trabalho. Mas, não tardaram a surgir pequenos detalhes, que a marca se encarregou de ir corrigindo, à medida que os seus clientes iam transmitindo o seu feedback. Algumas das críticas que os proprietários faziam era ao nível do desempenho do motor, claramente limitado e onde sentíamos que o bicilíndrico tinha muito mais para dar do que realmente nos dava. Isto estava perfeitamente identificado pela marca, mas a ideia foi transmitir uma imagem de confiança e fiabilidade do conjunto, para ganhar a confiança do público, enquanto os engenheiros trabalhavam em Itália para apresentar novos produtos e soluções.

Um passo firme
Uma dessas novas soluções é precisamente esta X-CAPE 700, uma clara evolução da anterior geração, onde o grande destaque acaba por ser a evolução do motor bicilíndrico refrigerado por líquido, que vê a cilindrada subir para os 693 cc, e, consequentemente, faz crescer a potência 10 cv, passando agora a debitar uns enérgicos 70 cv às 8500 rpm e um binário de 68 Nm às 6500 rpm. Isto só por si deixa-nos perante uma moto com um comportamento totalmente diferente e mais de acordo com aquilo que realmente esperávamos deste modelo. Na versão anterior, para soltarmos um pouco mais as prestações, era necessário fazer alguns ajustes, como alterar a relação da transmissão, ou até colocar um sistema de escape diferente, com coletor incluído. Esta 700 cc vem-nos dar precisamente esse “plus” que procurávamos. Por outro lado, bastaram-nos poucos quilómetros para detetarmos de imediato outra grande atualização: a X-CAPE passa a trazer de série as “milagrosas” tampas laterais no topo do motor, bem como outra interior, na zona do radiador, que eliminam quase por completo e de forma espectacular o calor que o motor nos transmitia para as pernas e que chegava a ser mesmo desconfortável. A Moto Morini já havia detetado esse problema e por isso disponibilizava estas tampas como opcional. Agora e demonstrando grande consideração pelos clientes, passam a vir instaladas de série!

Potência, leveza e versatilidade
Sem grandes alterações, a estética continua a ser protagonista neste modelo, assim como o bom desempenho. Se no motor temos importantes diferenças, na ciclística encontramos poucas alterações, mantendo o conjunto de suspensões entregues a um conjunto Marzocchi, através de uma generosa forquilha invertida de 50 mm e um monoamortecedor traseiro da Kayaba. Em comum têm o facto de ambos serem ajustáveis e de curso generoso, já que falamos em 175 mm na frente e 165 mm atrás. Quando pegámos na X-CAPE, notámos que o setting estava ajustado a pensar mais no conforto do dia a dia na cidade, obrigando-nos a fazer pequenos ajustes para a colocar mais firme, quando pretendemos rolar de forma mais empenhada em estradas de montanha.
Depois desses ajustes feitos, parece que temos uma moto nova, a pisar firme, previsível e segura, com os pneus Pirelli Scorpion Rally STR a dar uma importante ajuda, quer no asfalto como fora dele. Continuando a falar de componentes de luxo, passamos à travagem, onde encontramos dois discos de 298 mm com pinças de dois pistões da Brembo e um disco traseiro de 255 mm com pinça de dois pistões. O ABS não se mostra demasiado intrusivo e pode ser desligado apenas na roda traseira, quando selecionamos o modo off road no painel de instrumentos, também este em tudo igual ao da anterior geração. O tacto do travão dianteiro é um pouco brusco de mais no início, requerendo um período de habituação. A travagem mostra-se muito potente, principalmente quando usados ambos os travões em conjunto. No que diz respeito à eletrónica é muito simples e básica, sem mapas de potência ou controlo de tração. Tem sim dois modos de apresentação da informação no painel, o modo Ride que exibe as informações que damos preferência ver em estrada e o modo Off Road, que apresenta grafismos diferentes e nos permite desligar o ABS.

Ergonomia
A postura de condução, remete-nos de imediato para a versão anterior: corpo chegado atrás e braços esticados e abertos, como consequência do desenho do depósito de 18 litros de combustível e do guiador com altura quase perfeita e largo o suficiente para nos transmitir confiança extra. Devido à largura do depósito e do assento, rodamos de pernas abertas e a altura do assento ao solo, que pode variar entre os 820 mm e os 845 mm parece mais elevada porque o arco das pernas é um pouco largo. Para completar esta geometria à qual rapidamente nos adaptámos, temos a colocação dos pousa-pés, baixa e recuada e, para “baralhar” ainda mais as coisas, nas primeiras viagens batemos com os calcanhares nos apoios dos pousa pés traseiros. Mas, tal como foi supra referido, bastam-nos alguns quilómetros para nos adaptarmos a todas estas questões e encontrar o nosso próprio conforto.

Ainda devido à colocação dos pousa pés traseiros, não conseguimos baixar diretamente o descanso central, mas para isso basta-nos baixar este, através do apoio específico colocado por baixo do descanso e depois levantar a moto sem grande esforço. Atenção que ao baixar temos que dar um toque com o pé para que este recolha totalmente.
Confortável em todos os cenários
E pensada para o ser com condutor e passageiro, em qualquer cenário de utilização. Regressamos ao assento para dizer que este além de largo é plano (mas dividido em dois) e confortável, com o passageiro a ter pegas traseiras para sua segurança. Em termos de equipamento, é um dos modelos mais completos do segmento, oferecendo descanso lateral e central, defletores de calor no motor, proteções de mãos, tomada USB e USB-C, painel TFT com conectividade e navegação, jantes de raios centrais e câmaras de ar, câmara HD na dianteira, proteções laterais de cárter, barra de suporte para GPS por cima do painel TFT e para-brisas ajustável de forma manual em duas posições. Como nem tudo é perfeito, no caso da nova X-CAPE 700 as leves vibrações que nos transmite, por vezes fazem com que haja algum ruído proveniente dos plásticos que são rijos.

Evolução que se sente
Embora as diferenças não sejam “enormes” dá claramente para ver as atualizações estéticas e até da colocação de alguns componentes como é o caso do silenciador, mas as principais diferenças são “sentidas” em andamento. Desde logo e, como já referimos, o motor agora com mais potência sente-se muito cheio e disponível desde as rotações mais baixas até às mais elevadas, com grande elasticidade e muito honesto nas recuperações. No entanto, na passagem dos baixos para os médios regimes, notamos um corte na injeção… algo a rever numa próxima atualização. No que a consumo diz respeito, não é difícil superar os 5 litros por cada 100 km percorridos, mas basta-nos ser mais gentis com o punho direito para que essas cifras baixem.

CONCLUSÃO
No geral, é uma moto que continua a cativar pela bonita estética, disponível em três opções de cor (vermelho, preto e branco). Esta nova versão demonstra ser um um passo importante na evolução do modelo que nos continua a surpreender principalmente a curvar rápido, onde demonstra uma estabilidade notável, permitindo correções de última hora sem qualquer problema. A vocação off road também está bem presente no equipamento, deixando-nos conduzir de pé com grande à vontade e os pousa-pés permitem-nos desmontar as borrachas para maior aderência nos pés.
Já disponível nos concessionários pelo preço de 7.890 euros, mais 1000€ face à anterior 649.



