A festa foi linda, pá! Aliás, mais do que simples festim, foi um verdadeiro festival o arranque do 27.º Portugal de Lés-a-Lés, mostrando muitos pontos de interesse do concelho de Penafiel por entre sorrisos e pândega, farra e banquete. Houve de tudo no Passeio de Abertura e nem o mítico bandoleiro Zé do Telhado faltou à chamada. Não provou o caldo de piçalhos (que o politicamente correto aconselha a chamar de ‘pessalhos’), mas também não será uma completa novidade para o mais famoso bandido da história do concelho. Mas para evitar problemas com a bandidagem, todos os pertences (leia-se motos) foram verificados antes de sair para a estrada. Afinal, respeito e segurança são princípios de que a Federação de Motociclismo de Portugal não abdica.

Foram 70 quilómetros percorridos sem preocupações de horários ou controlos, em arrebatadora descontração mototurística logo após as obrigatórios Verificações Técnicas e Documentais no Campo da Feira, aproveitando a frescura proporcionada por enormes plátanos. É que, para fazer os 1263 quilómetros até Faro há que ter as máquinas em perfeitas condições de iluminação, ruído dentro dos limites legais e pneus com piso suficiente. Além de ter um seguro válido, título de registo de propriedade, cartão de motociclista e um kit para reparar um eventual furo durante a grande maratona mototurística. Não vã um simples contratempo estragar a jornada de uma caravana que não pode parar ao mínimo contratempo!

Verificações que decorreram com eficácia acrescida graças à inovação tecnológica permitida por uma aplicação informática já testada com os pelotões mais pequenos do Lés-a-Lés Off-Road e Classic, e que assim permitiu mais tempo para rever amigos e colocar a conversa em dia. Afinal são as pessoas que motivam muitos a voltar. Uma e outra vez. Como o portuense Paulo Mendes, um dos quatro participantes que esteve presente em todas as edições do Lés-a-Lés.
“Continua a ser uma forma de conhecer pessoas interessantes e, não menos importante, em muitos casos a única oportunidade de as rever ano após ano”.

Depois, mantendo tradição que vem desde 2016, a cidade que acolheu o final da edição de 2024 foi ponto de partida para o Passeio de Abertura, num regresso a Penafiel que permitiu descobrir mais alguns detalhes de terras durienses. E, entre promessas de divertidos assaltos e gastronomia regional, começou com a visita ao Museu Municipal, ajudando a melhor compreender este arranque de Lés-a-Lés. No antigo Palácio dos Pereira do Lago, edifício setecentista que já foi casa de boas famílias, colégio privado, dependência do Liceu Nacional, Casa do Povo, Jardim de Infância, Delegação Escolar e Junta de Freguesia, redesenhado pelo arquiteto Fernando Távora e eleito como o melhor museu de Portugal em 2010, foi desvendada boa parte da história, arqueologia e etnografia do concelho penafidelense.

Com a barriga a começar a dar horas, a primeira surpresa gastronómica aconteceu no Mosteiro de Paço de Sousa, fundado ainda Portugal não era uma nação, e onde está sepultado Egas Moniz, aio de Afonso Henriques que entregou a sua vida a Afonso VII, Rei da Galiza, de Leão e Castela. Com uma corda ao pescoço juntamente com a esposa e os filhos, apresentou-se ao monarca descalço e apenas com umas singelas vestes brancas, para redimir-se da palavra dada e não cumprida por parte do rei de Portugal após o levantamento do cerco a Guimarães.
Episódio narrado no Canto III d’Os Lusíadas que passou para segundo plano quando foi dada a provar a Sopa Seca e torta de São Martinho. Pastel de massa folhada com recheio de carne picada e polvilhado com açúcar e canela cujas origens se perdem no tempo, enquanto a primeira é doce feito com pão, açúcar e vinho do Porto. Especialidades penafidelenses validadas pela Confraria da Sopa Seca, de Duas Igrejas, e das simpáticas senhoras do Centro Cultural e do Rancho Folclórico de Paço de Sousa.
Doçaria que, curiosamente, surpreendeu ao destoar do menu tradicional, servida antes da sopa, com o grupo de amigos das motorizadas, Os Bota Fumo, a Junta de Freguesia e o Grupo de Jovens de Guilhufe a proporcionarem a descoberta do caldo de piçalhos. Continuidade da gastronomia regional com uma iguaria popular, recordando o caldo feito antigamente pelas famílias desta região, em potes de ferro, em que se aproveitavam as carnes da matança do porco, incluindo as partes genitais do porco. Depois juntavam-se as batatas, as couves e outros produtos agrícolas e, tal como hoje, era servido em tigelas de barro, as mesmas que os participantes levaram como recordação desta visita.

Barriguinha composta faltavam apenas uns poucos quilómetros até ao final, com passagem obrigatória no Monumento ao Motociclista, edificado na rotunda da N15, junto à saída da A4 e mesmo à porta do dinâmico Moto Clube do Vale do Sousa. Associação bem capitaneada por Fernando Gomes que convidou todos a visitarem a Casa do Motociclista que além de sede social do clube também acolhe motociclistas em viagem. A passagem por bem organizados vinhedos e bem preservadas casinhas rurais até à Quinta da Aveleda, com todo o charme e nostalgia, e onde são produzidos alguns dos melhores vinhos verdes da região, rematou um dia descontraído preparando o jantar.
Repasto oferecido no Pavilhão de Feiras e Exposições pela Câmara Municipal de Penafiel e pelo seu presidente motociclista Antonino de Sousa. Que não enjeitou a ocasião para recordar que “se dúvidas houvesse, Penafiel é agora e com toda a propriedade, amiga dos motociclistas, depois de receber os grandes eventos de duas rodas, como o Dia do Motociclistas, por duas vezes, uma chegada e uma partida do Portugal de Lés-a-Lés entre tantos outros eventos”. E deixou um desejo: “Que o 27.º Lés-a-Lés fique gravado nos corações de todos os que visitaram Penafiel como vai ficar gravado no de todos os penafidelenses”.
Um dia em cheio, preparando uma das maiores etapas de sempre do Lés-a-Lés entre Penafiel e Alcobaça, longa de 426 quilómetros e mais de 12 horas de condução. Que terá um arranque madrugador, a partir das 5.30 h. no Campo da Feira.