Eis-nos de novo de regresso à Índia. Vamos, de novo, abordar a Royal Enfield, mas agora num modelo com uns modestos 350 cc e cerca de 20 cv.
O seu orgulhoso proprietário é o João Casaca. Ele que tem uma experiência enorme de motos e já viajou por dezenas de países, mas atentemos o seu testemunho e lição de vida. A paixão é tanta que até escreve mais que a média habitual dos nossos leitores.
Veja também a moto do leitor Keeway RKS 125
1. Fala-nos de ti e da tua experiência no mundo das motos:
O meu fascínio pelas duas rodas começou muito cedo.
Primeiro pela doideira que tinha por montar tudo o que era bicicleta, desde uma pequena que pertencia à filha de um colega do meu pai, (que curiosamente quase nunca lhe pegava), até evoluir atravessado “de ladecos” em pasteleiras enormes, todas as que os respetivos donos dessem autorização, em abono da verdade algumas foi mesmo sem autorização. Eram tempos difíceis, nasci no pós-guerra, ter brinquedos não era fácil e muitas vezes o meu ciclismo resumia-se a empurrar uma roda metálica com uma forquilha do mesmo material, era o monociclo possível e por estranho que pareça dava um enorme gozo aos “putos” daquele tempo.
Sempre à briga com a vida, lá acabei já depois de casado, por adquirir a MINHA própria bicicleta de corrida, com o dinheiro que ganhei num ano em que sacrifiquei o meu mês de férias a trabalhar para juntar dinheiro para a dita.
Motos? Ia “pilotando” umas 50 dos colegas ou dos amigos, uma Kawasaki 125 que um amigo que foi para a tropa deixou ao cuidado de um primo meu. Enfim, experiências fugazes, mas que me enchiam de prazer e alimentavam o desejo de, um dia, ter algo meu.
Esse dia viria a chegar cerca dos meus 40 anos, já com a vida mais estabilizada fui buscar uma Suzuki Bandit 400. Finalmente tinha uma moto e havia que recuperar o tempo perdido!
2. Que tipo de motociclista és:
Defino o meu tipo de motociclista como o “Topa Tudo”, qualquer bocadinho de tempo que tenha disponível aí estou eu em cima delas a matar o vício! Depois da Suzuki, e encontrado o caminho de vida que me permitia concretizar os sonhos, sucederam-se debaixo de mim 27 motos, dos tipos mais díspares, desde motinhas até motões, todas elas amei, a todas prometi amor eterno e todas traí, sendo que tenho agora dois amores como o outro, uma KTM 790 ADV S e a moto de que vou falar hoje, a Royal Enfield 350 Classic.
3. Porquê esta moto em particular e o que mais e menos gostas nela:
A Royal Enfield foi uma marca que conheci em Inglaterra, país onde estive um ano a trabalhar. Nessa altura não lhes podia chegar, ganhava o meu dinheiro mas não dava para isso, anos 60, vivia-se no Reino Unido a época das disputas entre grupos de jovens, os Mods (que se caracterizavam por montarem Lambrettas e Vespas,etc etc muito bem decoradas e aprimoradas, e vestirem uns anoraks lindissimos e caros), e os Rockers (malta de trabalho, jovens operários assalariados, blusões negros de cabedal, jeans, botas dignas desse nome, e montavam ruidosa e rapidamente as Triumph, as BSA, as Norton e as ditas Royal Enfield). Acho que é fácil adivinharem com que grupo eu me identificava mais, e onde eu ia buscar mais lenha para os meus sonhos …
Mas passaria muito tempo até eu montar uma RE, tal veio a acontecer em 2010, numa viagem que fiz à India com amigos, país onde viríamos a alugar várias RE, todas iguais, modelo Bullet 500, nas quais fizemos um périplo desde Cochim até Goa, entre as praias e as montanhas. Adorei a experiência e percebi nessa altura, em que já só pilotava motos de alta cilindrada, que, por muito estranho que parecesse queria uma moto daquelas. Era o sonho da juventude a impor-se de novo.
Tal foi possível em 2022, quando a marca já estava implantada por toda a Europa, em Portugal também, e eu fui a Leiria (FHIMotos), buscar a delícia que agora tenho na garagem a acompanhar a KTM. Uma Royal Enfield 350 Classic, um “motão” com 349 cc, monocilíndrica, quatro tempos, refrigerado a óleo e ar, com injeção de combustível, 20,2 poderosos cavalos de potência a 6.100 rpm e um torque máximo de 2,7 kgf.m a 4.000 rpm.
Na minha mão ainda nunca gastou mais do que 2,8 lts aos 100, sendo que o consumo mais habitual anda pelos 2,5 pelo que com o seu deposito de 13 litros, a sua autonomia anda facilmente pelos 400 kms. Inicialmente pensava utilizá-la apenas nos circuitos citadinos e/ou pequenas deslocações, mas à medida que a fui conhecendo estou-lhe a “enfiar com” cerca de 1.000 kms mensais.
Adoro a sua simplicidade e manobrabilidade, vai bem no asfalto e fora dele.
Não ultrapassa os 110 kms hora, o que no início julgava vir a incomodar-me, mas já não me incomoda nada. É assumir o que se leva entre as pernas e já está.
4. Prevês sucessora? Em caso afirmativo, qual?
Creio que não a trocarei nem venderei, mas já disse isto muitas vezes …
De qualquer modo quererei ter sempre uma coisa igual ou muito parecida, enche-me de gozo.
5. Que conselhos dás a quem anda de moto? E a quem não anda?
Do alto da minha escassa sabedoria motociclística, o conselho que dou a quem sente este pulsar pelas motos é muito simples: andem muito, sempre dentro dos vossos limites, algo que aconselho que encontrem rapidamente. Disfrutem o mais possível, mas sempre pensando em quem temos em casa, na família.
A quem não anda de moto direi … não sabem o que estão a perder … mudem lá o chip!!! Espero que ainda vão a tempo …