Três irmãs
Dentro do segmento do enduro trail, até à data conviviam “saudavelmente” a KTM 690 Enduro R e a Husqvarna 701, dois modelos com caraterísticas quase idênticas, e nascidos no seio da mesma família. Agora o mercado recebe a chegada tão esperada da sua nova irmã, a GasGas ES 700, que representa uma incursão acertada da antiga marca espanhola no animado mundo das motos polivalentes.
Por: Carlos e Marcos Larreta
Fotos: Israel Gardyn
Se não fosse a cor, quase que poderíamos falar de trigémeas, uma vez que as três motos acima mencionadas partilham quase tudo.Tendo tomado as rédeas da GasGas em 2019, os austríacos começaram a ocupar os mercados mundiais de motocross e enduro com modelos em três cores. E agora estão a repetir a mesma fórmula, mas num âmbito diferente, e a reduzir ao mínimo as diferenças entre os produtos oferecidos pelas três marcas.
Posição de Enduro
A GasGas ES 700 oferece uma excelente posição de condução (sentados) para fazer enduro. De pé, há um ligeiro desconforto nos joelhos, mas ainda assim, apresenta linhas estreitas e uma liberdade de movimentos inigualável, especialmente nos pés. Tudo parece estar na posição certa, numa moto que é muito funcional, garantindo uma adaptação imediata ao condutor.
O guiador é idêntico ao de qualquer outra moto de enduro. Sentimo-nos tão à vontade com ele que nem alterámos a sua posição. As manetes, seletor de mudanças, pedal de travão e pousa-pés que tínhamos instalados nesta unidade de testes não eram os de origem e mais vocacionados para o enduro, tal como o escape Remus, proteções das bainhas, batentes do guiador ou o protetor de cárter em alumínio.
Os espelhos proporcionam uma excelente visibilidade, mas no off road é melhor retirá-los já que, devido à sua posição e tamanho, não se dão bem com os ramos. Gostámos do raio de viragem ajustável e sentimos falta de uma pega para poder agarrá-la por trás. O painel de instrumentos é muito espartano, estilo enduro, e para veres as diferentes informações disponíveis no ecrã terás de utilizar alguns botões minúsculos, o que não é muito intuitivo. Por outro lado, na parte esquerda do guiador, há um pequeno botão que agrupa os controlos que correspondem à ativação/desativação do controlo de tração e à seleção de um dos dois modos de condução disponíveis: Street e Offroad.
De roda no ar
O motor é um brioso monocílindro de 43,4 kg que confere às três irmãs o seu carácter tão peculiar. Em baixas rotações, a verdade é que se sente uma certa lentidão, uma certa relutância em subir de rotações, razão pela qual convém puxar mais as mudanças se quiseres um ritmo mais alegre, auxiliando com a embraiagem. Mas quando atinges a zona média, tem cuidado, porque a relação peso/potência desta diaba vermelha é propícia a acelerações potentes e à elevação da roda dianteira nas três primeiras velocidades, daquelas que levantam de verdade… O quickshifter vem instalado de série e a embraiagem (com torque assist) tem um toque muito agradável e suave, ao contrário da caixa de velocidades, com um acionamento duro e com um ponto morto que terás dificuldade em encontrar, caso estejas a usar botas. Na transmissão vais notar que, em algumas secções off road que abordarias em terceira com uma moto de enduro, tens que usar uma segunda. Em uso urbano, a resposta do motor a baixas rotações faz-te lembrar logo uma coisa: não tens dois cilindros entre as pernas, mas sim um, com tudo o que isso implica em termos de uma sensação de condução diferente e menos refinada. E na estrada, a rigidez do assento, o sopro do vento e o nível de vibrações também podem realçar o carácter endurístico do modelo. Mas claro, andar fora da estrada com a ES 700 é outra história: se compararmos a condução off road desta moto com uma trail, estamos a falar de uma leveza muito superior, não só do conjunto, mas sobretudo da frente, o que significa mais confiança até nas trialeiras mais técnicas.
Sensações Racing
A ver quem é que te consegue apanhar numa pista com este foguete que, quando atinge a sua zona média explosiva, obriga-te a segurar bem o guiador, como acontece com uma enduro de competição. Claro que existem as inércias e, em particular, o peso da parte posterior que, com o controlo de tração desativado, dá mais “coices” que uma enduro convencional; mas as derrapagens são controladas com naturalidade e os pneus dão muita confiança. As magníficas suspensões, totalmente ajustáveis, são montadas para suportar mais peso do que uma enduro standard, pelo que os enduristas puros podem achá-la um pouco dura no início. E nós gostámos mais ainda da resposta do amortecedor – filtra tudo – mais do que da forquilha. Depois, no asfalto, a ES 700 não mostra a firmeza própria dos modelos trail de maior envergadura, e se rodas muito o punho, rapidamente verás que se move um pouco de traseira apesar de, como contrapartida, ser inigualável a sua agilidade e rapidez nas mudanças de direção. Em relação aos travões, com o ABS desativado – com o modo Offroad selecionado – o desempenho do travão traseiro é extraordinário, permitindo bloqueios controlados da roda, encorajando a uma condução ao estilo supermotard. Não é à toa que são comercializadas versões supermotard, tanto da GasGas, como das suas duas irmãs. E o próprio ABS parece-nos estar muito bem calibrado para utilização em estrada, onde também o travão dianteiro é mais do que adequado, mesmo que não seja tão vigoroso.
Conclusão
A GasGas ES 700 é uma ferramenta fabulosa para offroad, com verdadeiro potencial enduro, mas sem as comodidades próprias das motos menos radicais. Talvez se pudesse mimar um pouco mais a faceta trail do modelo, “humanizando-a” dentro do possível com a incorporação de simples pormenores, tais como uma grelha de carga, algum elemento de proteção aerodinâmica ou um painel de instrumentos menos austero.
FICHA TÉCNICA
GASGAS ES 700
Motor Monocilíndrico, 4 válvulas, refrigeração por líquido
Cilindrada 692.7 cc
Potência 74 CV às 7.500 rpm
Binário 73.5 Nm às 6.500 rpm
Caixa 6, Quickshift
Vel. Máxima N.D.
Quadro Treliça em tubos de aço
Suspensão dianteira Forquilha invertida WP-USD XPLOR de 48 mm, multi-ajustável, Curso de 250 mm
Suspensão traseira Amortecedor WP XPLOR, multi-ajustável, sistema Pro-Lever. Curso de 250 mm
Travão dianteiro Disco de 300 mm, pinça de 2 pistões, ABS
Travão traseiro Disco de 240 mm, pinça de 1 pistão, ABS desconectável
Pneu dianteiro 90/90-21”
Pneu traseiro 140/80-18”
Dist. entre eixos 1.505 mm
Altura do assento 935 mm
Peso 146 kg (a seco)
Depósito 4,3 L.
Consumo (anunciado) 13.5 litros
PVP 12.091 €