Quase centenária, a FB Mondial atravessou momentos difíceis, mas nos últimos anos tem se vindo a afirmar a pouco e pouco como uma proposta diferenciada, essencialmente pela ousadia das linhas dos seus modelos. A nova Piega 452 volta a ser um exercício de estilo, que não deixa ninguém indiferente e que além disso promete muita diversão.
POR: Bruno Rebelo
FOTOS: Rui Jorge
Ultimamente temos assistido à chegada de muitas marcas novas, incluíndo diversas históricas, que por um motivo ou por outro, a determinado momento tiveram problemas e que, graças ao investimento dos grandes grupos asiáticos, foram agora recuperadas. O objectivo não é inocente, é a melhor forma de “entrar” na Europa, fazer renascer nomes históricos, mas com produção total na China, que significa baixos custos e preços muito competitivos, pese embora muitas dessas históricas continuem a ter muito de europeu, como, por exemplo, o design. A FB Mondial é um bom exemplo disso.
Nascida nos finais dos anos ’20 (1929) em Itália pelas mãos dos quatro irmãos Boselli (daí o seu nome, F de “Fratelli” e B de “Boselli”, teve na sua génese, uma vez mais, tentar criar opções económica para a Itália do pós-guerra. Os irmãos, aficcionados das corridas, depressa começaram a desenvolver motos de competição preparadas para competir no campeonato do Mundo, já muito disputado à época. A Mondial competia com marcas como a MV Agusta, Gilera ou Moto Guzzi e entre 1949 e 1957 ganhou nada mais nada menos do que cinco campeonatos do Mundo com cinco títulos Mundiais de construtores e outros cinco títulos Mundiais de pilotos. Um feito notável para uma marca tão jovem e tão pequena.
Bonitas e avançadas
Na altura em que competiam, além de serem as mais belas, utilizavam soluções técnicas muito avançadas para a época, grande parte graças aos engenheiros da marca, que procuravam soluções técnicas “fora da caixa”. Quando estas funcionavam, colocavam-se imediatamente na frente da concorrência… exemplo disso foi o desenvolvimento do famoso sistema Desmodrómico, vendido e desenvolvido para a Ducati. A Mondial atravessava uma fase tão boa que em 1957 Soichiro Honda pediu ao Conde Boselli para lhe vender umas das motos de competição com que acabara de ganhar os títulos Mundiais de 125 cc e 250 cc. O Conde Boselli viria a oferecer uma das suas motos à Honda (que ainda hoje está exposta no Museu da Honda no Japão), sendo a única marca além da Honda a ter lugar cativo nesse Museu. A Honda capitalizou bem essa oferta e com base nessa moto desenvolveu vários modelos e produtos, que viria a catapultar a Honda para uma marca à escala Mundial.
Nova era
A convite do importador nacional da FB Mondial, a Moteo Portugal, fomos conhecer o mais recente membro da família Mondial, a Piega, a 452. O primeiro impacto é marcante, não ficamos indiferentes ao design arrojado da 452, que nos prende de imediato a atenção devido à dupla saída de escape (bem aos estilo das motos de competição), assim como o monobraço e a jante traseira.
Para onde quer que se olhe, o design é cativante, actual com muito cuidado nos detalhes e da responsabilidade de Rodolfo Frascoli da “Frascoli desing”, o mesmo responsável pelo design de alguns modelos marcantes da Triumph, por exemplo.
Em termos de equipamento, destaque para o motor bicilíndrico de 8 válvulas a 4 tempos, 449 cc de cilindrada, refrigerado por líquido, capaz de debitar 46,4 cv às 10 000 rpm e com um binário de 39,1 Nm às 6500 rpm e caixa de 6 velocidades. No que toca a dimensões, é uma moto tão compacta como aparenta, como nos mostram os 1965 mm de comprimento, ou os 775 mm de largura e 1100 mm de altura. A distância entre eixos é de 1355 mm, a altura do assento aponta a uns generosos 850 mm, mas o peso aponta a uns simpáticos 177 kg já contando com o depósito de 10 litros de combustível totalmente cheio.
No departamento da ciclística, temos em destaque o conjunto de suspensões composto por uma forquilha invertida de 41mm na dianteira, com curso de 120 mm, enquanto que atrás temos então o espectacular monobraço com amortecedor multilink com curso de 120 mm. A assegurar uma travagem potente e equilibrada temos um disco de 320 mm com pinça com quatro pistões Brembo de montagem radial e ABS e na traseira contamos com um disco de 240 mm com pinça de dois pistões. Para assegurar a maior eficácia possível no asfalto, temos os confiáveis pneus Pirelli Angel GT nas medidas 120/70/17” na frente e 160/60/17” atrás.
Como moto moderna que é, brinda-nos com eletrónica de última geração, onde além do ABS contamos com controlo de tração (que pode ser totalmente desligado assim como o ABS) no modo “Race”, mantendo as ajudas operacionais quando rodamos no modo “Piega”. Ainda dentro da parte tecnológica, contamos ainda com um painel TFT de 5” a cores, com conectividade.
Conjunto viciante
Um dos pormenores responsáveis por tornar esta moto tão viciante é o som que os silenciadores emitem e que, minha nossa senhora, nos deixam com um enorme sorriso no rosto e capaz de fazer virar cabeças por onde quer que passamos, com direito a uns “pops and bangs” cada vez que cortamos gás. A posição de condução é correcta, o conjunto apresenta dimensões compactas o que será de esperar que utilizadores mais altos a possam achar algo acanhada. Mas para nós, cuja estatura não vai além do 1,63m, desfrutámos “à grande” das qualidades dinâmicas, principalmente nas estradas mais reviradas, acompanhados por um motor muito cheio e disponível até nas recuperações.
Mostrou-se um conjunto muito estável, com as suspensões a apresentarem um “setting” muito versátil. A travagem cumpre e são potentes, mas o tacto pode ser melhorado numa próxima atualização. Como naked que é, é com naturalidade que constatamos que as incursões à auto-estrada fazem-se pagar com alguma resistência do corpo à passagem do ar, devido à reduzida capacidade aerodinâmica, nada que intimide o público alvo do modelo, os mais jovens e detentores de licença A2.
Já disponível para o nosso mercado, a Piega 452 vê o preço começar nos 6399€, com cinco anos de garantia e disponível em duas cores, preto e cinzento. Para quem acabou de tirar a carta e pretende evoluir das 125 cc, temos na Mondial Piega 452 uma mais valia para quem gosta de ser diferente e ser notado por onde passa. Além disso, estamos certos de que esta poderá ser uma boa e importante escola para os mais recentes encartados visto ser uma moto com prestações mais sérias mas sem ser uma moto demasiado exigente. A Mondial veio “refrescar” o segmento e ainda bem que o fez, motos destas nunca são demais.
FICHA TÉCNICA
FB Mondial Piega 452
Motor: Bicilindrico em linha, refrigerado por líquido
Distribuição: DOHC, 4 válvulas por cilindro
Cilindrada: 449 cc
Potência máx.: 46,5 cv às 10 000 rpm
Binário máx. : 39,1 Nm às 6500 rpm
Embraiagem: Multidisco em banho de óleo
Caixa: 6 velocidades
Final: Por corrente
Quadro: Estrutura em tubos de aço
Suspensão Dianteira: Forquilha invertida KYB de Ø41 mm, curso 120 mm
Suspensão Traseira: Monoamortecedor, com ajuste da pré-carga da mola, curso 120 mm
Travão Dianteiro: Disco de 320 mm, pinça de quatro pistões, ABS
Travão Traseiro: Disco de 240 mm, pinça de dois pistões, ABS
Pneu Dianteiro: 120/70 -17”
Pneu Traseiro: 160/60-18”
Altura do Assento: 820 mm
Comprimento: 1965 mm
Largura: 775 mm
Altura: 1100 mm
Distância entre Eixos: 1355 mm
Depósito : 10 litros
Peso (ordem de marcha): 177 kg
Cores: Preto e cinzento
Garantia: 5 anos
Importador: MOTEO PORTUGAL
Preço: 6399 euros