A nova Panigale V2, ou como é carinhosamente conhecida “baby Panigale” estreia uma nova fase da sua vida, exacerbando ainda mais a divisão de opiniões. Mas no final das contas, a opinião é unânime, estamos perante um potencial (outro…) caso de sucesso da marca de Bolonha e uma potencial dor de cabeça para a concorrência no mundial de SSP!
Por Domingos Janeiro
Fotos Ducati

A versão atualizada da Panigale V2, é sem dúvida um ponto de viragem na trajetória das motos desportivas bicilíndricas de Borgo Panigale, que tantas vitórias têm conquistado no campeonato do mundo de superbike. A nova V2 é uma moto totalmente redesenhada, que do modelo anterior, apenas herda o nome e, graças ao novo motor V2 a 90°, torna-se a Panigale mais leve de sempre (-17 kg em comparação com o modelo anterior, na versão V2 S) produzida pela Ducati. Uma moto moderna, de última geração, que pretende manter o legado da 748, 848 e 959 bem vivo, mas que estreia uma abordagem de design completamente nova.

Enquanto os modelos anteriores eram verdadeiras motos de corrida, focadas no máximo desempenho na pista, sacrificando aspectos como a facilidade de condução e o prazer na estrada, a nova Panigale V2 consegue manter todo este desempenho de alto nível, mas passa a estar mais divertida e agradável para o dia a dia. Além disso, e pese embora a concorrência esteja mais competente que nunca, a nova versão desportiva da Ducati, pretende lutar para defender o bi-campeonato mundial de Supersport, sendo que a diminuição da potência (tem cerca de menos 35 cv face à anterior geração), além de não se fazer notar de forma “escandalosa” graças ao grande trabalho feito na cura de emagrecimento e na evolução da ciclística/tecnológica, preparam a nova V2 para o futuro, onde é esperada a entrada em força por parte das marcas chinesas. Nos testes efetuados em traçados como Vallelunga, a nova Panigale V2 foi apenas dois décimos de segundo mais lenta que o modelo anterior, mostrando- se superior em todas as situações desde a travagem, entrada e saída de curva, e tração, exceto a velocidade em reta.

Por outro lado, e cada vez mais importante, na estrada, mostrou ser uma das desportivas da Ducati mais divertidas de sempre. Fácil e intuitiva de conduzir, oferece uma excelente sensação de condução desde o primeiro contacto. Graças à entrega de binário rica na faixa média de rotações, brinda-nos com uma capacidade de aceleração vigorosa e utilizável precisamente onde é mais necessária, ao sair das curvas e nas recuperações. Comparada com o modelo anterior, a posição de condução é mais confortável, natural e relaxada, inclusivamente ao nível da sensação térmica do condutor.

Estilo e tecnologia
Embora seja um projecto totalmente independente e tenha sido desenhada a partir de uma “tela em branco”, o design da nova desportiva V2 deriva, naturalmente, da também nova Panigale V4, recentemente apresentada, com traços que recriam algumas das suas superfícies angulosa mas limpas, remetendo-nos de imediato para o puro ADN desportivo, de alto desempenho e evoluído da Ducati. Mas o cuidado no conforto para o “dia-a-dia” é por demais evidente e não só ao nível da postura de condução mais relaxada, como é o caso do novo sistema de refrigeração e ventilação, que canaliza o ar fresco para o condutor e afasta o ar quente proveniente do radiador.

É verdade que testámos a nova Panigale V2 exclusivamente em circuito, mas estava um dia de calor e não sentimos “ponta” de calor aos comandos da nova desportiva italiana. No campo da estética, a frente apresenta uma forte referência à Panigale V4, com uma ótica “full-LED” e o respetivo sistema de iluminação diurna (DRL), que é um dos novos elementos estilísticos da linha Panigale. O design do depósito de combustível, concebido para apoiar o condutor na condução desportiva, também nos remete para a nova Panigale V4, agora adaptado à nova base mecânica e à diferente ergonomia, desenvolvida para reduzir a carga sobre os pulsos do condutor, mas ainda assim, mantendo uma excelente confiança na frente durante as curvas, onde se destacou o excelente “feedback” com o qual nos brindou.
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A secção traseira não deixa margem para dúvidas, com o design inspirado na Desmosedici de MotoGP e, claro está, na Panigale V4, uma traseira curta, esguia, mas com tremenda personalidade. Na traseira temos um dos elementos que mais discórdia causou: o duplo silenciador, bem ao estilo das motos de SBK, que nos remete de igual forma para a eterna e exclusiva “Superleggera 1299”, com os dois silenciadores colocados por baixo do assento. Pessoalmente, apreciámos o design, mas não podemos negar que com o kit Termignoni, que lhe retira grande parte do volume (e peso), a moto fica “outra”, dotando a Panigale V2 de mais 6 cv de potência. No entanto, esse escape é um opcional e de uso exclusivo para circuito, uma vez que não está homologado para estrada. Por fim, salta-nos também à vista as jantes em liga leve com braços em “Y” da Marchesini, que recebem pneus Pirelli Diablo Rosso IV com as medidas 120/70-17” na frente e 190/55-17” atrás.

O V2 mais leve de sempre
Em estreia temos a nova geração do motor V2, a 90º, com distribuição variável das válvulas de admissão, já com homologação Euro5+, 890 cc, 120 cv de potência e 93,3 Nm de binário. O seu peso de apenas 54,4 kg (menos 9,5 kg em comparação com o Superquadro anterior) faz dele o bicilíndrico mais leve alguma vez produzido pela Ducati. A curva de binário, com 70% do valor máximo logo disponível a partir das 3.000 rpm, assegura uma condução divertida, mesmo na estrada. Se o nosso desejo é levar a Panigale V2 para dar umas voltas em circuito, então esta versão S que testámos (e cuja grande diferença para a versão base são as suspensões, neste caso totalmente Öhlins em vez da forquilha invertida Marzocchi na frente e amortecedor KYB na traseira) é a opção mais indicada, pois além das suspensões, temos ainda à disposição uma eletrónica mais completa. Os 120 cv de potência, surgem acompanhados por um peso reduzido de 175 kg (versão S) que resulta numa relação peso/potência de 0,69 cv/kg.

Ciclística e eletrónica
O quadro monocoque da Panigale V2 é leve, rígido e eficiente, utilizando o motor como elemento estrutural. O braço oscilante de alumínio inspira-se no design do utilizado na Panigale V4 e oferece os mesmos benefícios em termos de estabilidade e rapidez, principalmente nas rápidas inserções e saídas de curva. A acompanhar a tremenda eficácia e leveza estrutural, temos uma Panigale V2 base com suspensões totalmente ajustáveis, mas que sobem de nível nesta versão S, com o conjunto Öhlins a resultar muito bem, totalmente ajustáveis e mais leves. Por falar em leveza, e porque todas as gramas contam neste tipo de moto, a bateria é de iões de lítio de última geração para poupar peso. Ducati que é Ducati é sinónimo de tecnologia avançada, mais ainda quando o modelo em questão é uma desportiva. Assim, a plataforma inercial de seis eixos suporta um pacote eletrónico que conta com ABS em curva com funcionalidade “slide-by-brake”; Controlo de Tração Ducati (DTC); Anti-Cavalinho Ducati (DWC); Controlo do Travão Motor (EBC) e o novo sistema de quickshift, Ducati Quick Shift 2.0 (o mesmo utilizado na Panigale V4). Além disso, temos à disposição quatro modos de condução: Race, Sport, Road e Wet, cada um deles oferece níveis de intervenção predefinidos e personalizáveis para todos os controlos e resposta do motor. O painel de instrumentos é um novo TFT de 5” com interface baseado no “Infomode” da Panigale V4. As três opções de apresentação de informação – Road, Road Pro e Track – foram projetadas para permitir que o condutor se concentre na condução, destacando as informações mais relevantes para cada contexto.
Total comando! Diversão total!
Para conhecermos ao pormenor a nova “Baby Panigale”, a marca de Bolonha reuniu a imprensa internacional no novíssimo circuito de Sevilha (sevillacircuit. com) para um dia preenchido, com seis sessões de 20 minutos em pista, muitas voltas, portanto, para conhecermos em detalhe este “pequeno, grande” modelo. Este é um modelo que está envolto nalguma discórdia, pois para muitos, é um retrocesso nas prestações, que não conseguem compreender. Mas, o facto é que a Ducati tem os pés bem assentes na terra e sabe, melhor que ninguém, o melhor caminho a seguir. Muitas vezes, potência por potência não é sinónimo de alto desempenho, se não tivermos uma ciclística e, mais que tudo, um conjunto devidamente dimensionado a pensar nas altas performances. É tudo isto que a nova V2 apresenta. Ok, assumimos já que para os mais experientes, passadas algumas voltas, começa a ser “curta” de prestações, mas, com o incremento de potência conseguido pelo escape, os tais mais 6 cv e ainda menos peso no conjunto, consegue-se agradar a “gregos e troianos”. Para o nosso nível de condução, assentou-nos como uma luva, mostrando-se muito confortável, leve, equilibrada, ágil e sempre muito disponível. Uma confiança e segurança que nos fez desfrutar em larga medida deste circuito novo, aqui tão perto de nós… Como a utilização foi cem por cento em circuito, a Ducati optou por equipar todas as motos com uns Pirelli Diablo Superbike, pneus slick, de uso exclusivo em circuito… um incremento extra à belíssima experiência de condução. Na primeira sessão, ainda a conhecer os “cantos à casa” notámos que as suspensões estavam demasiado permissivas, algo que os técnicos presentes rapidamente corrigiram, presenteando-nos com outra moto!
Que maravilha!
O motor, sente-se forte, com um binário sempre muito disponível desde as baixas rotações. Os regimes médios permitem retomadas enérgicas e, depois, na faixa mais elevada, a Panigale V2 brinda-nos com uma veemência que nos deixa de sorriso rasgado. No entanto, notámos que, para sairmos rápido das curvas, temos que levar a mudança certa, que nos segure o motor num regime mais elevado, para ao abrirmos o punho direito, ela parta para a frente sem qualquer hesitação. O quickshift 2.0 continua a não permitir erros ou falta de determinação dos pilotos. Temos que ser precisos para não dar margem a erros involuntários. Contamos com uma moto muito confortável, nada física, que nos deixa muito à vontade para estarmos sempre a evoluir de sessão para sessão. A geometria de condução está mais amigável dos condutores, menos extrema, com o guiador colocado de forma mais elevada, mas, para os utilizadores que continuam a preferir uma postura mais extrema, têm na lista de acessórios uma opção mais extrema. A nível tecnológico, é-nos possível ajustar todos os parâmetros eletrónicos ao gosto pessoal de cada um. Devido ao cenário do nosso teste, rodámos sempre no modo Race, fazendo algumas alterações ao nível do controlo de tração, efeito travão motor, mais ou menos entrega de potência, e fazendo a nossa condução evoluir com isso, até chegar ao momento em que já tínhamos todas as ajudas desligadas para sentir as reações da moto de forma natural. A travagem é super potente, não perde eficiência com o aquecimento e transmite grande confiança. A Panigale V2 S deixa-se conduzir de forma fluída e muito divertida e pese embora tenha menos potência face à anterior geração, é um belíssimo passo em frente, com uma qualidade geral realmente incrível. Já disponível nos concessionários, na cor vermelha, está disponível em duas versões, a base e esta S. Além disso, em ambas as versões é possível optarmos pela variante 35 kW para carta A2. Em termos de preço, a versão base tem um preço de referência de 17 410€ enquanto que a versão S sobe para os 19 760€.
CONCLUSÃO
Sem dúvida alguma que estamos perante uma excelente evolução da anterior geração da Panigale V2, que a coloca num bom patamar para fazer frente à investida chinesa que é esperada para os próximos tempos neste segmento, tanto dentro como fora da competição!
Ficha técnica
DUCATI PANI GALE V2 S
Motor Bicilíndrico em V a 90º, refrigerado por líquido
Distribuição DOHC, 4 válvulas por cilindro
Cilindrada 890 cc
Potência Máxima 120 cv às 10 750 rpm
Binário Máximo 93,3 Nm às 8250 rpm
Embraiagem Multi-discos em banho de óleo
Caixa 6 velocidades, Ducati Quick Shift 2.0
Final Por corrente
Quadro Monocoque em alumínio
Suspensão Dianteira Forquilha invertida Öhlins Ø43 mm, curso 120 mm, totalmente ajustável
Suspensão Traseira Amortecedor Öhlins, curso 140 mm, totalmente ajustável
Travão Dianteiro Dois discos de 320 mm, pinças Brembo M50 de 4 pistões, ABS cornering
Travão Traseiro Disco de 245 mm, ABS cornering
Pneu Dianteiro 120/70-17”
Pneu Traseiro 190/55-17”
Altura do Assento 837 mm
Distância entre eixos 1465 mm
Depósito 15 litros
Peso (a seco) 176 kg (a seco)
Cores Ducati Red
Garantia 3 anos
Importador Ducati Ibérica
PVP 19 760€ (17 410€ versão base)