A nossa viagem continua. Hoje publicamos o nono roteiro por um distrito de Portugal Continental e ilhas! A viajar pelos distritos no sentido Sul/Norte, partilhamos com os nossos leitores alguns dos melhores segredos do nosso país para visitar de moto (meramente sugestivos…), com a certeza que muito há por (re)descobrir e nunca conhecemos tudo, às vezes nem sequer a dois passos de casa!*
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Distrito de Castelo Branco: o encanto de 11 concelhos muito diferentes
Depois de na semana passada nos termos dedicado ao Distrito de Leiria, eis que agora chegamos ao distrito de Castelo Branco. Deixamos o mar e vamos para o interior, para a região da raia e do frio no inverno e calor no verão. Mais uma vez, apesar de serem somente 11 concelhos, temos um distrito bastante multifacetado e diverso, com vários concelhos umbilicalmente ligados a Espanha. Castelo Branco faz fronteira com Portalegre, Santarém, Leiria, Guarda e Coimbra.
Este distrito, em termos de área, é o quarto maior, com um total de cerca de 6675 km2, mas enferma do mesmo problema que a maioria dos distritos do Interior do país: dificuldade notória em fixar as novas gerações que acabam por ir para as regiões do Litoral ou mesmo emigrar, aumentando o êxodo rural.

No distrito residem menos de 200000 habitantes e a média de habitante por km2 é bastante baixa; cerca de 27 habitantes por km2, perfeito para quem não aprecia grandes multidões ou para quem gosta de andar de moto sem confusão ou tráfego! Além disso, com a abolição das Portagens das SCUT a A23 (auto estrada da Beira Interior) deixou de ser portajada que reduz os custos das deslocações.
Na prática, a A23 é um importante motor de desenvolvimento deste distrito e atravessa vários dos seus concelhos, mas se tiver tempo disponível aceite uma sugestão: percorra este distrito (e todos os outros) sempre que possível optando por estradas secundárias! Os pontos que o vão encantar são tantos que vai ser difícil resistir à tentação. Fuja das AE, IP e IC, sempre que possível…
Tal como temos feito nas crónicas anteriores vamos começar pela sede do distrito. A encantadora cidade de Castelo Branco, cujos habitantes são os albicastrenses e não, como erradamente se ouve dizer, os Castelenses! O nome deriva do latim album castrum, ou seja, castelo branco, que é um afluente da margem direita do Rio Tejo, que nasce no distrito de Castelo Branco.
A cidade é encantadora e, como de costume, a melhor forma de a conhecer é a pé, mais ainda porque boa parte dos seus principais encantos ficam relativamente próximos uns dos outros e a caminharmos é como andarmos de moto: não olhamos apenas para a paisagem! Fazemos parte dela!
O próprio concelho tem apenas cerca de 50000 habitantes pelo que não vai encontrar grandes aglomerados de gente, tirando talvez em ocasiões de festa ou talvez na Piscina Praia de Castelo Branco, particularmente concorrida durante os meses mais quentes do ano. Já agora, uma visita no inverno é altamente aconselhada, talvez até para apreciar o Natal Branco Albicastrense, mas vá bem agasalhado e pode sempre aproveitar para dar um salto ao cume da Serra da Estrela.

Naturalmente que a Sé Catedral não pode faltar à visita (tal como já mencionamos antes a Diocese está unida à de Portalegre, mas cada uma tem a sua sé), tal como o Palácio Episcopal (os jardins são sublimes), calcorrear pela judiaria e subir ao castelo (vista 360º) ou visitar a Fundação Manuel Cargaleiro são apenas alguns dos obrigatórios, mas não se fie demasiado nas experiências dos outros. É preferível servirem apenas como guia orientador e poder criar as suas próprias.
É como nos locais onde degustar um bom prato. Podem sugerir-lhe ir à Dona Ferreirinha ou no Cabra Preta e certamente vai ficar feliz em ambos, mas pode sempre atrever-se a experimentar noutros locais, talvez até menos conhecidos.

Ainda dentro do concelho de Castelo Branco parte dos seus encantos ficam fora da cidade, espalhados pelo distrito e pela região e vão muito para além das aldeias históricas ou outras mais ou menos preservadas. Há encantos na fauna e na flora, na gastronomia, nas estradas e desfiladeiros, nos montes e vales, nas praias fluviais e nos penhascos. Só mesmo visitando!
A não perder
Castelo Branco fica sensivelmente no meio do Distrito. Por mera opção, sugerimos começar o roteiro pelo concelho mais a Sul de todos: Vila de Rei. O simpático concelho que é atravessado pela EN 2, antes desta ir para o Ribatejo no Sardoal. Apesar da área relativamente pequena, cerca de 192 km2, tem imensos encantos para os motociclistas: basta pensar no Penedo Furado, na Água Formosa e no Centro Geodésico (Picoto da Milriça).

Ao seu lado fica a Sertã, nome de tipo de tacho de cozinha, também atravessado pela EN2 e com imenso para visitar e aproveitar a gastronomia, com destaque obviamente para os maranhos ou o bucho. A visitar sugere-se a Ponte Filipina sobre o Zêzere, a Ponte dos Quatro Concelhos ou o centro da própria vila, mas há muito mais, incluindo magníficos passeios pedestres.
Ao seu lado fica Oleiros. O nome já diz quase tudo, mas quando lá for terá de provar um cabrito estonado. Para visitar, além do centro da vila ou das suas várias praias fluviais, recomenda-se a Cascata da Fraga de Água d’Alta ou o Miradouro do Cabeço Mosqueiro, mas são apenas algumas sugestões. Vá com tempo, ande muito a pé deixe-se encantar.

Um pouco mais a Sul fica o concelho de Proença-a-Nova. Representa a transição entre a serra e o Alentejo que cria contrastes magníficos e uma fusão que se nota até na gastronomia. Os seus percursos pedestres são um dos seus grandes encantos, tal como os trilhos de off-road que abundam em toda a Beira Baixa. Nas suas várias praias fluviais a da Fróia é obrigatória, mas há tanto mais para ver, basta pensar no Miradouro da Serra das Corgas e em todo o Geopark Naturtejo.
A seu lado e mesmo juntinho ao Rio Tejo temos Vila Velha de Ródão, cuja fama ancestral se deve ao monumento natural das Portas do Ródão e que merece uma visita, idealmente de barco, talvez até com almoço à mistura, mas há muito mais para ver e fazer. Apesar de ter pouco mais de 3000 habitantes os atrativos são vários. Deixamos apenas a menção à Foz do Cobrão e o Castelo de Ródão ou Castelo do Rei Wamba. O resto descubra por si.

Já depois de Castelo Branco e totalmente colado a Espanha está Idanha-a-Nova. Comece pelo seu centro histórico, mas vá preparado para muito mais, incluindo uma ida a Idanha-a-Velha e prepare-se para recuar no tempo e talvez até ficar enfeitiçado. Descubra mais sobre adufes e adufeiras e guarde um dia para (re)visitar a aldeia de Monsanto. Faça-o com tempo, depois logo percebe o motivo. Aqui não há pressa, tal como numa visita a Penha Garcia. Se puder, vá ao menos uma vez na vida à Romaria da Senhora do Almortão…
Penamacor fica já na extremidade do distrito e tem muito para visitar também, logo na própria vila, mas não só. Visitar o Castelo, a Ribeira de Meimoa ou a zona balnear de Meimão são apenas algumas sugestões. É também aqui que fica parte da Reserva Natural da Serra da Malcata onde, entre muitas outras espécies, ainda é possível encontrar exemplares do lince-ibérico. A serra é partilhada também com o vizinho Sabugal, já no distrito da Guarda.

Mais para o interior fica o Fundão e boa parte da tão afamada Cova da Beira, terra das deliciosas cerejas e maçãs, mas há tanto mais para apreciar. Os queijos de cabra e ovelha são uma perdição e fazer caminhadas pela Serra da Gardunha, pelas Aldeias do Xisto da Barroca e Janeiro de Cima ou simplesmente pelas margens do Zêzere, que nasce um pouco mais acima, em plena Serra da Estrela. Não perca também o centro da cidade do Fundão.
A seu lado fica o concelho da Covilhã. Terra ancestral de fiação e lanifícios que sofreu imenso com a concorrência de outros mercados e quase sucumbiu a essa ameaça. É hoje uma cidade moderna, com um importante Pólo Universitário e magnífica porta de entrada para a Serra da Estrela. Tem mesmo de visitar a cidade, conhecer a sua arte moderna e à sua volta há imenso para fazer. Se quiser poupara um pouco as suas pernas o funicular de Santo André vai ajudar, mas prepare-se para andar bastante e num relevo bastante montanhoso.

Para o fim ficou o simpático concelho de Belmonte, terra de Pedro Álvares Cabral. Apesar de menos de 120 km2, o mais pequeno de todo o distrito, os seus pontos de interesse são inversamente proporcionais ao seu tamanho! O seu castelo, o Solar dos Cabrais, a sinagoga e museu judaico ou a Feira Tradicional de Enchidos e Sabores de Belmonte são alguns dos seus encantos! Situado num maciço granítico a elevada altitude bem que merece uma visita. Afinal de contas, é mesmo um Bel Monte!

E eis que está apresentado um minúsculo roteiro distrito de Castelo Branco. Um distrito com uma área geográfica relevante, mas com poucos habitantes, com uma história milenar e habitado desde sempre, como mostram as suas gravuras e a arte rupestre. Este distrito orgulha-se da sua história, do seu passado, das lutas com Espanha e continua virado para o futuro que se quer mais próspero, mas sempre com respeito pelo ambiente e pelas tradições das suas gentes.
*A distribuição geográfica tem por base a Reforma Administrativa de 1835 e, apesar de nos dias de hoje se falar menos de distritos e mais de regiões, o facto é que a regionalização nunca avançou e mesmo tendo sido extintos em 2011 os Governos Civis, essa divisão administrativa ainda faz sentido.
Daremos sempre alguns dados de caráter estatístico, gastronómico, possíveis roteiros, lugares imperdíveis ou qualquer outra informação que seja considerada mais relevante, nomeadamente para os amantes do mototurismo.
Por mera opção pessoal a viagem será feita de Sul para Norte, semana a semana, até se chegar às ilhas que compõem os arquipélagos da Madeira e dos Açores. Continue connosco neste roteiro virtual, que deve tornar real!