Alguns comentários
O Guilherme pretende, acima de tudo divertir-se num off-road ligeiro, sem grandes ambições de em termos de complexidade ou grau de exigência e, ao mesmo tempo, poupar a sua fantástica Africa Twin de 1992, uma moto que marcou uma geração.
Curioso que, em boa medida, a Africa Twin foi desenhada para o uso que pretende dar a uma alternativa e só mesmo o peso, em ordem de marcha a rondar os 200 kg pode complicar. De qualquer modo, tem toda a razão quando refere que pretende preservar a sua clássica, até porque há algumas peças, caso dos plásticos, que pode ser uma verdadeira batalha para os conseguir em bom estado.
O seu orçamento ser relativamente baixo não é bom ou mau. É o que tem disponível e é partindo dessa premissa que está a começar a sua busca por uma moto que o possa satisfazer sem ter de partir o seu porquinho mealheiro.
Em primeiro lugar, uma nota prévia: o estado mecânico da moto, seja ela qual for que escolher é crucial. Pode encontrar uma moto por 2000€ com um ótimo aspeto, pneus novos, autocolantes e plásticos a brilhar, mas uma falha mecânica grave ao nível do motor, por exemplo uma biela partir, pode ter um custo de reparação quase igual ao custo da moto! Ou seja, tome muita atenção na compra e pode ser preferível levar um mecânico antes de fechar negócio para mitigar riscos.
Quanto às duas motos por si indicadas, são ambas boas escolhas, mas muito diferentes. A Kawasaki KLX 300R, fácil de encontrar no nosso país é leve, menos de 120 kg em ordem de marcha tem um monocilíndrico a quatro tempos de 292 cc, com refrigeração líquida, capaz de debitar cerca de 33 cv às 8.500 rpm e um binário de 28 Nm às 7500 rpm. Já foi referida antes no pedido do João.
A Suzuki DR 650 SE é um clássico e ainda hoje se comercializa em alguns mercados, tendo uma legião de fãs mundo fora, Portugal incluído. O seu principal problema vai ser encontrar uma em bom estado, dentro do seu orçamento. Equipada com um monocilíndrico a quatro tempos com refrigeração ar/óleo, capaz de debitar cerca de 44 cv às 6500 rpm e um binário de 54 Nm às 4600 rpm e ainda com o bónus do arranque elétrico. Já o peso final em ordem de marcha superior a 160 kg pode intimidar um bocado.
Ou seja, já percebe melhor que são motos comparáveis, mas bastante diferentes e que podemos afirmar serem de “segmentos distintos”.
Para o tentar ajudar vamos propor-lhe mais duas motos do “segmento” da KLX e duas do da DR. pode ser que assim a sua escolha fique mais fácil e alargue os seus horizontes.
A Honda XR 400 tem muitas semelhanças no conceito com a KLX: motor a quatro tempos, arranque por pedal, boas capacidades off-road e mais potência do seu motor de 397 cc. Cerca de 35 cv às 7000 rpm e um binário de 33 Nm às 5500 rpm, ou seja, acima do da KLX e com menos rotação. Também os seus 2000€ dificilmente chegarão para um exemplar em estado razoável.
Já Suzuki DRZ 400E é um misto das duas anteriores com o bónus do arranque elétrico e irmã “revista e atualizada, da DR 350. Equipada com um monocilíndrico de 398 cc, refrigeração líquida, e uma potência de 40 cv às 8500 rpm e um binário de 49 Nm às 6600 rpm, valores muito interessantes, a que acresce um peso em ordem de marcha contido, na ordem dos 140 kg. Comum de encontrar em Portugal, também aqui o problema pode ser o seu orçamento.
Mais ao nível da DR 650 SE sugerimos a Yamaha TTRE, herdeira da XT 500. Uma moto que tem semelhanças com a proposta da Suzuki. Monocilíndrico a quatro tempos, refrigerado a ar/óleo, com 595 cc, capaz de debitar cerca de 42 cv às 6500 rpm e um binário de 50 Nm às 5000 rpm. O peso em ordem de marcha é de cerca de 160 kg. Existem várias versões, incluindo uma R, bastante mais leve, mas sem o motor de arranque que faz muita falta, mais ainda em motores desta cilindrada.
Por último, fazemos menção à Kawasaki KLR 650, mais rara no nosso país e diferente da KLX em vários pontos, incluindo o facto de muitas KLX estarem equipadas apenas com pedal para arrancar. Existiu até uma versão diesel. Monocilíndrico a quatro tempos, refrigeração líquida, com 651 cc, capaz de debitar cerca de 48 cv às 6500 rpm e um binário de 53 Nm às 5500 rpm, sendo o peso em ordem de marcha da ordem dos 180 kg o seu maior óbice e ter uma orientação mais trail.
Notas finais
Face às suas duas possibilidades iniciais, tomámos a liberdade de as separar por segmentos e apresentar mais duas alternativas em cada uma delas para lhe alargar o leque de escolhas.
As especificações, recolhidas da internet, podem não estar completamente corretas, mas dão para perceber que há muitas diferenças entre elas e que podem ir para além do peso ou da potência, incluindo aspetos essenciais como a disponibilidade de peças para manutenção/reparação ou os preços praticados. De um modo geral, desde que cuidadas, todas elas são bastante fiáveis, mas são sempre motos bastante antigas e que podem já ter sido bastante abusadas ou pouco cuidadas.
Talvez, se possível, possa valer a penas tentar subir o seu orçamento até 3000€, mas apenas para uma moto que esteja reconhecidamente em bom estado e que não necessite de grandes despesas. Dois bons pneus, uma simples revisão e um kit de transmissão facilmente custam 400€ ou 500€, exceto se formos nós a fazer o trabalho e mesmo assim pode não ser suficiente!
Não se precipite, veja nos seus contatos, teste várias motos e certamente que vai aparecer aquela que procura e por um preço o mais aproximado possível do seu bolso. Tenha ainda atenção para a moto estar o mais original possível ou, pelo menos vir acompanhada das peças que a possam fazer ficar como tal. É possível que as IPO avancem mesmo em 2025!
Como habitualmente, reforçamos a importância do uso do equipamento, mesmo para quem pretende “apenas” fazer um off-road mais light, como é o seu caso.
Se desejar, mais tarde, partilhe conosco a que escolheu.