As nossas sugestões
Usando a expressão do João, o “bichinho” do enduro é tramado. Quando morde, dificilmente vai embora sem deixar a sua marca, o que não é necessariamente mau. Afinal de contas, andar de moto em off-road, mesmo em modo soft, é todo um novo mundo experiências e permite chegar a lugares onde uma moto normal nunca iria porque não foi criada para tal.
Já a escolha de moto pode ser um processo mais complicado, até porque o seu orçamento apenas lhe permite chegar a motos já bastante antigas, tipo a Yamaha WR 426 que refere. Na prática, é fundamental, antes de fechar negócio, perceber o real estado da mecânica para não ter dissabores que lhe podem sair muito caros. Mais que uns plásticos mais ou menos bonitos ou uma ponteira de escape vistosa, o motor da moto é o ponto essencial.
Relativamente ao equipamento usado é um risco, pelo menos ao nível do capacete. Até pode comprar um fato usado, umas botas, joelheiras, colete, mas opte por um capacete novo. Um usado pode parecer em ótimo estado e ter tido uma queda (e estas são comuns no off-road) que não deixou marcas, mas comprometeu a segurança.
Lembre-se ainda que, qualquer que seja a moto que escolher, há uma curva de evolução e vai levar algum tempo a ganhar prática, a saber “ler” o terreno, a melhor forma de abordar os obstáculos ou até a adotar a posição mais adequada em cima da moto, que passa muito por andar de pé.
A WR 426, lançada em 2001 e digna sucessora da inovadora WR 400 é uma boa escolha, mas trata-se de uma moto de competição pura e dura. Não espere grandes doses de conforto, mas a diversão é garantida e o motor enérgico, mesmo a baixas rotações. Muita atenção ao estado mecânico e à caixa de velocidades que costuma ser algo problemática. Ruídos estranhos no funcionamento do mesmo é logo para evitar a compra dessa moto.
Se possível, leve alguém consigo que tenha conhecimentos de mecânica. Uma reparação séria num motor destes pode facilmente ficar em metade do que lhe custou.
Na mesma sequência, a WR 450, lançada em 2003 e já com botão de arranque é uma excelente evolução, mas talvez seja mesmo demasiado para começar.
Outra possibilidade, da mesma altura, pode ser uma KTM EXC 400 (evite as mais antigas LC4). Lançada em 2000 é ainda mais leve e ágil e vem com um elemento muito importante: o motor de arranque! É comum ser algo instável, em boa medida por causa do sistema de amortecimento traseiro ser de ação direta (PDS) e as suspensões dianteiras de 43 mm não ajudarem. Tem ainda o bónus da caixa de seis velocidades.
Evite uma 450 (mais recente) ou a 520/525 que facilmente são demasiado para quem está a começar. Em 2004 houve uma evolução significativa, nomeadamente ao nível da suspensão dianteira e quadro.
Agora algumas sugestões mais trail. Menos radicais, mas igualmente divertidas e muito fiáveis, sendo que a Honda XR 400 é uma ótima escolha. Perdoa muitos erros, motor muito fiável e robusto e um conforto acima da média, além de não ser muito exigente em termos de manutenção. A falta do motor de arranque é a sua principal limitação.
A Kawasaki KLX 300 é uma boa alternativa, sendo ainda mais ligeira e tendo um motor mais evoluído, refrigeração líquida e suspensão dianteira invertida. Não tem tanto binário em baixas como a XR 400, mas é igualmente divertida e pode ser uma boa escolha para começar. Também aqui se faz notar a falta do “botão maravilha”. Incrível que, mesmo atualizada, ainda é comercializada em alguns mercados na atualidade. Além disso, a base mecânica é ainda usada pela atual Voge 300 Rally.
A Suzuki DRZ 400 E também pode ser a moto que procura. Não tem a agilidade da WR 400/26, sendo mais trail, mas é fácil de conduzir, o seu motor é potente, mas sem exageros e as suspensões, mesmo não sendo muito evoluídas, cumprem com o exigido. O bónus do motor de arranque é uma importante mais-valia (existe também uma versão R sem motor de arranque). Também ainda é possível comprar nova em alguns mercados, tal como a sua mana mais velha, a DR 650.
Mesmo que mais recentes e matriculadas, evite as motos que, na sua génese, eram motos de motocross, caso da Yamaha YZ 400 ou KTM SX 400, já para não mencionar a Honda CRF 450. São motos com uma entrega de potência demasiado agressiva, suspensões de origem bastante duras e, frequentemente, sem equipamento básico como um sistema de iluminação.
Se não tiver pressa em fechar negócio, faça algumas pesquisas, invista algum do seu tempo a testar/procurar outras motos que caibam no seu orçamento, mesmo até um pouco menos potentes, como uma Yamaha WR 250F. No caso específico desta, desde 2003 que vinha com motor de arranque e em 2007, o quadro começou a ser de alumínio. Pode ser uma boa escola e permite uma excelente curva de aprendizagem.
Reafirmamos que mesmo para quem faz sobretudo estradões e não coisas agressivas como trialeiras, o motor de arranque é sempre uma mais-valia. No dia em que, por exemplo, deixar “afogar” a sua moto por a ter deixado cair ao lado e estiver suado e cansado, 10 minutos a dar ao pedal de arranque ou a ter que desmontar a vela vai perceber melhor o valor do “botão maravilha”.
Já agora, não esqueça a Regra dos 3 R´s:
Respeito por si, pelas suas capacidades e limitações;
Respeito pelos outros que andam pelos trilhos, desportistas, agricultores, caçadores…
Respeite pela natureza, seja vegetação, cursos de água, aves ou animais.
Bons passeios!