Alguns comentários
Enquanto estivermos vivos, de preferência com saúde, nunca é tarde para concretizarmos os nossos sonhos, mesmo aqueles que ficaram adormecidos durante muitos anos, como parece ser o seu caso.
Efetivamente, pensando no início da década de 90, a aquisição de um ciclomotor japonês, como os que refere, era a grande aspiração de muitos jovens, rapazes e raparigas, mas não estava ao alcance do bolso de qualquer um.
Tomando por referência a imprensa especializada da época e o ano de 1992, uma Casal Boss custava cerca de 130 contos, uma Yamaha DT LC 50 já ia para 347 contos, a Suzuki Wolf custava 349 contos e uma Honda NSR NSR 50 R uns ainda mais inacessíveis 420 contos! Em termos práticos, uma NSR 50 dava para comprar três Casal Boss e talvez ainda sobrasse alguma coisa!
Não mencionou nas suas opções as motos italianas, também populares à época, mas nem sequer a NSR 50 R era a mais cara de todas. Uma Aprilia AF1 Futura 50 tinha um preço de tabela de 519 contos!
Quanto às suas três propostas, são efetivamente diferentes. A Yamaha DT 50 LC (abreviatura de Liquid Cooled) é de um perfil mais trail e aventureiro, com algumas capacidades de sair fora do asfalto e goza, na atualidade, de uma popularidade sem igual, sendo que se continua a ver pelas nossas estradas, muitas vezes completamente “artilhada” e com performances incríveis.
A Suzuki Wolf 50, que testámos na nossa revista de fevereiro, n.º 95, é uma pura naked, sem carenagens desnecessárias que, muitas vezes, aumentam o peso e as despesas numa eventual queda. A sua popularidade está longe daquela que tem a DT 50, mas nem por isso deixa de ser uma opção interessante, sendo que existem versões, no livrete, com um ou dois lugares.
Por último, a Honda NSR 50 R tem lá os genes das motos de competição da marca e apesar do seu ar mais desportivo e das carenagens, continua a ser uma excelente opção, até para usar no dia-a-dia. Muito popular também, começa a ser mais complicado conseguir algumas peças, nomeadamente ao nível das carenagens. Também aqui existem preparações que “transfiguram” o motor por completo.
Todas elas se caraterizam por estarem equipas com um simpático motor a dois tempos, que gosta de fazer bastante rotação e que funciona particularmente bem nos regimes mais altos, em que a melodia do escape é mais omnipresente, mas também permitem uma condução mais calma sem grandes problemas.
Não há como negar que, na atualidade, fruto da sua grande popularidade, pouca oferta e de um certo saudosismo, os preços estão bastante inflacionados e exemplares mesmo em bom estado de conservação e originais custam valores que, à primeira vista, podem ser absurdos. Porém, o mercado é soberano e a lei da oferta (pouca) e da procura (muito) é quem mais ordena.
Se quer mesmo um exemplar muito fiel ao original parta logo à procura de um e evite ciclomotores que até podem estar num estado razoável, mas depois vão implicar investimentos em tempo e dinheiro. A Old Timer Studio Lisboa costuma ser um bom exemplo de uma empresa especializada com oferta de qualidade, que vai ao encontro do que procura, mas existem muitas outras.
Lembre-se ainda que a compra de um exemplar em muito bom estado e original, não precisa de ser de coleção, vai tendência para conservar o seu valor ou mesmo, com o passar do tempo, continuar a valorizar, como continua a suceder. Além disso, vai ser sempre mais fácil de vender.
Qual escolher?
Esta é a questão fulcral e à qual apenas o Tiago pode dar resposta, melhor ainda se for apoiado pela namorada que deve ser envolvida na pesquisa, até porque ambos gostam de veículos de duas rodas e são, de certa forma, saudosistas.
Tentem perceber se essa compra, mais ou menos impulsiva, é algo ou não passageiro ou se procuram mesmo uma moto para passeios a dois. Se for este caso, talvez faça todo o sentido comprar logo uma 125 cc a quatro tempos que ambos vão poder conduzir, partindo do pressuposto que têm carta para condução de automóvel.
De entre as três indicadas, a Yamaha será a mais polivalente e fácil de encontrar. Apesar do formato trail não vai ter problemas em chegar com os pés ao chão. Sensivelmente a meio da década de noventa surgiu a versão LC d (abreviatura de disk) que tem uma alteração relevante: a adoção de um disco dianteiro, que melhora bastante a travagem, fraqueza comum na geração anterior.
Caso a opção seja a Suzuki, existem geralmente apenas em vermelho ou preto, é possível que possam ser encontradas a um preço mais acessível, mas é de longe a mais minimalista das três, sendo que o espaço para condutor é reduzido e para passageiro pode até ser inexistente. Tem de experimentar para avaliar.
Por último, a Honda é um bom compromisso, até para levar passageiro, mas pode ser complicado encontrar uma em bom estado, sobretudo ao nível das carenagens. Se for esta a opção, não tenha pressa em encontrar uma versão que goste, até porque há muitas evoluções ao longo da história do modelo, não apenas em termos de decoração, mas até em termos técnicos.
Resumindo, conversem os dois com calma e partam já à procura do vosso primeiro veículo de duas rodas que possa envolver ambos, nem que seja para fazer mais tarde os populares passeios, nomeadamente os de chapa amarela.
Além disso, pode ser o princípio de algo que envolve o casal, vai fortalecer a relação e permitir-vos fazer, a dois, algo que vos dará muito prazer.