Purple Rain, 1984
Como a quase totalidade dos génios musicais e não só, o sucesso não veio do acaso, mas de muito esforço e dedicação, sendo que aos 17 anos assinou o seu primeiro contrato e logo com a Warner Bros e daí foi sempre a crescer, sendo que o auge chegou bem cedo, quando tinha apenas 26 anos.
Purple Rain foi e continua a ser um sucesso planetário. O álbum vendeu 13 milhões de cópias só nos Estados Unidos e ocupou o primeiro lugar da lista da Billboard durante praticamente meio ano. O resultado foi tão bom que se aproveitou a oportunidade para converter o disco num filme do tipo musical drama em que a grande estrela do filme era o próprio Prince. No papel, quase real, ele é uma estrela da música com muito talento, mas problemático, com uma vida cheia de adversidades, rivalidades e intrigas, à boa maneira de Hollywood. Tal como o disco, o sucesso foi estrondoso e o filme altamente rentável, com pelo menos 80 milhões de dólares de receitas.
Com direção de Albert Magnoli e escrito por Magnoli e William Blinn, o filme acabou mesmo por ganhar o Óscar para Melhor Canção Original. Nele Prince (The Kid) lidera um interessante leque de atores, onde se destaca a atriz Apollonia Kotero, que, no filme, é Apollonia. Ela é a sua namorada, numa relação algo turbulenta e complexa, onde se destaca a rivalidade com o seu colega e também músico Morrys Day, que é Morris.
Neste filme temos uma moto muito especial, ainda que nunca tenha sido um grande sucesso de vendas: uma Honda CM400 Hondamatic, de 1981. Ainda que bastante customizada, incluindo a carenagem e a pintura de cor púrpura e vários adereços de customização, a moto teve um relevante papel no filme e aparece em muitas cenas a ser conduzida por Prince, até com roupa da mesma cor da moto.
Ao que consta, Prince não era um motociclista regular, mas esta moto adaptava-se perfeitamente: não era muito grande, pesada ou potente, sendo também bastante baixa. Além disso, tinha uma embraiagem automática, um pouco na lógica de antecessora das atuais DCT que a Honda usa com imenso sucesso, que lhe facilitava ainda mais a condução, além de ter arranque por pedal e elétrico.
Em rigor, a moto que se tornou extraordinariamente popular em posters e cartazes da época, tinha duas mudanças: uma para baixo e outra para cima, sendo que apenas era necessário usar o pedal nesses dois movimentos e sem necessidade de usar a embraiagem, graças a um conversor de binário. Mais fácil é difícil.
Também com “apenas” 27 cv não havia perigo de ser demasiado rápida, ou seja, era perfeita para o filme. Ao que consta, foram usadas três motos, essenciais para cenas mais ousadas, estas praticadas por profissionais e não por Prince. Após as filmagens Prince ficou com uma delas… que veio a ser usada mais tarde noutro filme! Já o modelo acabou por ter pouco sucesso de vendas e ser descontinuado rapidamente.
O trailer original dá para ficar com uma ideia, mas nada como (re)ver o filme:
Graffiti Bridge, 1990
Seis anos mais tarde, na lógica habitual de muitas outras sequelas de filmes, é apresentado o Graffiti Bridge, como se fosse a continuação de Purple Rain. Porém, ao contrário do esperado, o sucesso não foi ao nível do anterior e mesmo a crítica foi bastante feroz com o filme. Consta que acabou por ser um flop e deu mesmo prejuízo à Warner Bros.
Neste novo filme Prince acaba por ter um papel ainda mais relevante no filme, também ao nível da produção e realização, mas nem isso foi suficiente, do mesmo modo que o álbum com o mesmo nome também esteve longe do sucesso do lançado em 1984.
A trama segue um pouco a sequência da original com a rivalidade entre as bandas The Kid e Morris Day como grandes adversárias, mas que agora vão ter de se unir para sobreviver.
Até a Honda CM400 Hondamatic volta a aparecer, mas agora de forma mais discreta e menos visível, sendo que foi pintada de negro, com apontamentos dourados e se tornou muito menos impactante, se comparada com o filme de 1984.
Ainda assim, vale a pena ver. A banda sonora tem apontamento interessantes e o filme tem uma carga erótica muito forte com algumas cenas bastante ousadas e atrevidas e que, de certa forma, apimentam o filme.
O trailer oficial dá para ficar com uma ideia.
Daí para a frente, ao que consta, a Honda não mais voltou a aparecer no cinema e o próprio Prince, ainda que continuando a cantar e a produzir, afastou-se do cinema e começou a viver de forma mais isolada, fugindo de algum mediatismo e das redes sociais, mas tendo outro tipo de iniciativas, como a denúncia da proliferação das armas nucleares ou a forma quase “escrava” como os músicos e atores se sujeitavam ao trabalho exigido pelas grandes companhias e editoras.
Na fase final da sua vida já tinha vários problemas graves de saúde e quando partiu o mundo das artes ficou mais pobre, até porque não chegou a concluir a sua auto-biografia “The beautiful ones”, que previa lançar em 2017.
Esperamos que tenham gostado desta viagem. Para a próxima semana haverá nova surpresa. Novamente alguém com uma estreita ligação ao mundo das duas rodas e do espetáculo. Quem será?