A pequena cidade espanhola de Cantalejo, a 50 km de Segóvia, recebeu no passado fim de semana de 11 a 14 de janeiro mais uma edição do carismático encontro invernal “La Leyenda”.
Este ano, os portugueses estiveram em destaque, com António Rosado, convidado a ser um dos oradores e Zé Amaro, Presidente do Moto Clube de Faro, homenageado com a “Leyenda de Ouro”. O nosso colaborador e viajante Carlos Martins marcou presença no evento e conta-nos tudo na primeira pessoa!
As previsões meteorológicas não eram animadoras, mas ficar em casa não era opção! Fui desafiado pelo meu amigo António Rosado, que por sua vez havia sido convidado para ser um dos oradores no Encontro Invernal La Leyenda. Não sou um motociclista de concentrações, mas o convite e a companhia era irrecusável. Mil e duzentos quilómetros em pleno inverno com temperaturas perto do zero era um desafio muito interessante.
La Leyenda continua e há-de continuar.
Embora este encontro, neste local e com este nome tenha começado em 2016, é um legado com 41 anos. Os organizadores Mariano e Maité têm um acumulado de 41 anos de concentrações invernais. Muita experiência que se traduz numa organização que prima pelo profissionalismo e simpatia, muita simpatia que se estende aos mais de 70 voluntários, todos membros do Moto Clube La Leyenda.
O encontro decorre num local à saída da cidade, extremamente agradável mesmo considerando que estamos no inverno, um complexo desportivo autárquico, rodeado por um frondoso e belo pinhal.
Melhor local para montar as centenas de tendas era difícil de conseguir, chão macio sem pedras e muito espaço, ninguém precisa de ficar em cima de ninguém.
O encontro tem o seu início na quinta-feira e termina no domingo, o que dá imenso tempo para descobrir os inúmeros pontos de interesse desta região.
Muita lenha à disposição e gratuita, cada grupo tem a sua fogueira comunitária. À volta do calor do lume as histórias fluem, neste encontro invernal, embaladas pelo crepitar das fagulhas. O ambiente criado pelas fogueiras remeteu-me para o filme “O Gladiador”, a cena do acampamento romano depois da batalha. São daquelas experiências que só vivendo.
La Leyenda é um encontro de amigos, as motos e as viagens são o mote para belas tertúlias à volta da fogueira, a amizade acontece mesmo em quem acaba de se conhecer, a média de idades é alta, mas todos parecem alegres crianças num belo jardim de infância.
As “charlas” como os espanhóis chamam às apresentações dos viajantes convidados, decorreram numa tenda bem aquecida e foram interessantíssimas e muito participadas. Uma viagem ao Cabo Norte em pleno inverno, um piloto TT Ilha de Man já aposentado, entre outros e claro o nosso António Rosado.
O António, com a sua apresentação intitulada “A vida é uma viagem” emocionou-me a mim a muita gente na assistência, houve até quem não conseguisse conter uma ou outra lágrima. O António é um viajante de mão cheia, mas é principalmente uma pessoa extremamente sensível e cativante.
Mas a participação portuguesa não se ficou por aqui, a organização este ano decidiu e muito bem homenagear alguém que vive e respira motos e que dedicou grande parte da sua vida ao Moto Clube de Faro, claro que estou a falar do Zé Amaro. Foi-lhe entregue a Leyenda de Ouro.
Achei muito interessante a atenção e a importância com que os nossos vizinhos nos brindaram, talvez por isso o grande número de participantes lusos. Por falar em números, segundo a organização La Leyenda 2024 contou com cerca de 12.000 participantes, impressionante.
Foram muitas as histórias que escutei sempre com muita atenção, impossível reproduzir aqui todas, vou destacar apenas uma, a história do Mudo.
Luis Ballesteros tem a alcunha de Mudo, porque… Nunca se cala, é um comunicador nato. Com 71 anos, tem 509 concentrações no currículo, grande parte delas levando a mãe à pendura na sua Moto Guzzy California II, que conta com 433.000 kms. De assinalar que foi aos Elefantes a mais dura concentração invernal, que decorre nos Alpes alemães, fê-lo numa Vespa 200. O Mudo é uma figura.
Gostei muito desta concentração a que faço questão de chamar “Encontro”.
TEXTO e FOTOS: Carlos Martins