O projeto no Sítio do Escampadinho, situado na freguesia da Mexilhoeira Grande
Antes do AIA o Sítio do Escampadinho, na freguesia da Mexilhoeira Grande, a cerca de 16 km de Portimão, era apenas mais um local quase perdido no meio da Serra Algarvia, mas graça ao espírito empreendedor de pessoas como Paulo Pinheiro tudo mudou, mas não foi uma tarefa fácil.
Mesmo nos dias de hoje quem vai ao AIA percebe que aquele circuito gigantesco, verdadeira “montanha-russa”, criado no meio de nada, deve ter sido um projeto tremendo. Não existiam acessibilidades, foi necessário comprar terrenos, fazer expropriações, obter licenças, conseguir financiamentos, combater burocracias… uma tarefa verdadeiramente ciclópica, mas Paulo Pinheiro não se deixou abater.
Um pouco antes, mais precisamente em 2001, veio à luz o Global Algarve Motor Park, como sendo um projeto abrangente para o desporto motorizado em Portugal e no qual o AIA seria o elemento mais importante e aglutinador, dotando Portugal de um local com condições ótimas para treinos, apresentações, testes e competições.
Se compararmos com a vizinha Espanha, que oferece condições similares em termos de localização, meteorologia, custos… um espaço destes fazia imensa falta. Espanha tem uma boa meia dúzia deles, que são constantemente usados por nacionais e estrangeiros. Aliás, parte da razão do país vizinho ser um verdadeiro “viveiro” de pilotos vem daí e da “afición” que têm por desportos motorizados.
Finalmente, no dia 2 de novembro de 2008, é inaugurado o Autódromo Internacional do Algarve (AIA). Estava ainda longe de estar completo, continua a receber melhorias ao longo dos anos e atualizações, mas foi-se afirmando como um lugar icónico e dos melhores circuitos mundiais, onde já tivemos provas de Fórmula 1, MotoGP, Superbikes, GTO, visitas das marcas mais icónicas como a AMG ou a Porsche e muito mais.
Nesta entrevista é o próprio Paulo Pinheiro, aquando da comemoração dos 15 anos do AIA, a falar um pouco mais do projeto, dos planos para o futuro, da elevada taxa de ocupação ao longo do ano (também com eventos, testes, apresentações…), a que não é alheia a localização privilegiada, os custos suportáveis ou a possibilidade de correr e treinar ao longo de todo o ano.
Um vídeo de visualização obrigatória e que nos conta muito acerca de Paulo Pinheiro. Produzido pelo diariOnline Região Sul e com apresentação do Jornalista Paulo Moreno vale cada segundo e é apresentado em duas partes:
Parte I:
A sustentabilidade e as novas competências do AIA
Com tal projeção e excelentes condições, a que não é alheia, por exemplo, a vinda da Fórmula 1 em 2020 e 2021 ou o MotoGP desde 2020 e que ainda em março deste ano se realizou, o AIA tem tudo para continuar a dar certo e a diversificar a sua atividade e competências, sendo que as próprias configurações da pista permitem isso mesmo.
Mesmo numa lógica de aquisição de novas competências e valências, a criação do Polo Tecnológico no setor dos Transportes, Mobilidade e Soluções – Celerator em parceria com a Universidade do Algarve e Parkalgar, entre outros projetos, são a garantia que o AIA não quer ser um “elefante branco” com uma ocupação intensiva alguns dias por ano e o resto um espaço fechado, onde estão muitos milhões investidos e que pode e deve ser rentabilizado, a bem do Algarve e de Portugal.
A própria dimensão da sustentabilidade é uma questão estratégica e fulcral e de saldo positivo. Desde o início que foi uma opção, por exemplo, ao nível do aproveitamento das águas pluviais, a produção de energia fotovoltaica, a recolha e separação de resíduos, o uso de combustíveis sintéticos ou o apoio direto ao Banco Alimentar, nomeadamente após as provas e em que há bens alimentares que não chegaram a ser consumidos e podem ser aproveitados.
A própria vinda ao AIA do cada vez mais competitivo MotoE é uma forma de mostrar esse compromisso muito sério com a sustentabilidade e uma aposta muita séria num futuro que todos queremos garantir. Interessante que foi exigência do AIA que todas as baterias das motos fossem exclusivamente carregadas com eletricidade obtida a partir de painéis solares, o que se veio a concretizar.
Vejamos agora a parte II do vídeo em que Paulo Pinheiro aborda também estas questões
Parte II:
A partida do mentor
A morte de Paulo Pinheiro apanhou muita gente de surpresa. Já estava doente há algum tempo, mas sempre fora uma pessoa que prezava a sua vida privada e mesmo as vitórias na competição do filho, Bernardo Pinheiro, não fizeram mudar essa atitude.
Quando a notícia foi conhecida, mais precisamente no dia 10 de julho, a consternação abateu-se um pouco sobre todos nós, em especial os que gostamos dos desportos motorizados e que, em muitos casos, já foi pelo menos uma vez ao AIA, talvez até brilhar com os feitos de Miguel Oliveira ou mesmo fazer um track day e melhorar as técnicas de condução na AIA Racing School, talvez até com o apoio direto do ex-piloto Miguel Praia.
As mensagens de condolências não tardaram a surgir, o que mostra bem a importância do trabalho de Paulo Pinheiro, mas vejamos alguns exemplos, com destaque para Miguel Oliveira:
“O sonho dele tornou-se realidade e nele pudemos todos nós sonhar e construir memórias que perdurarão para sempre. Um homem como tu Paulão nunca morre, vives através da obra que deixas e nos nossos corações para todo o sempre.”
Ou para António Félix da Costa, piloto da equipa TAG Heuer Porsche na Formula E, vencedor da época 2019-2020, que refere Paulo Pinheiro como um “grande homem que fez muito pelo desporto motorizado em Portugal.”
Também o ex-piloto Ni Amorim fez questão de lembrar o homem:
“O automobilismo perde um grande impulsionador e dinamizador. Era meu amigo pessoal, numa relação recíproca e de muito respeito. É uma perda grande para o país.”
Manuel Marinheiro, que há vários anos lidera a Federação de Motociclismo de Portugal (FMP), foi mais uma das pessoas que fez questão de lembrar Paulo Pinheiro ao resumir tudo numa só frase:
“É uma tristeza para o desporto português.”
Até Max Verstappen, o piloto holandês da Red Bull, tricampeão mundial em título da Fórmula 1 (2021, 2022 e 2023) e que conhecia bem Paulo Pinheiro comentou acerca da partida prematura de Paulo Pinheiro: “Descanse em Paz.”
Mesmo o cortejo fúnebre que antecedeu o funeral e que foi acompanhado por muitos motociclistas foi mais uma homenagem ao grande homem e à sua criação.
Na mesma altura em que está a decorrer a ronda nacional das Superbike no AIA, apresentar esta crónica em memória de Paulo Pinheiro, como prometido a semana passada, é também uma forma de o tornar ainda mais presente. Afinal de contas, ninguém morre verdadeiramente enquanto a sua memória estiver viva entre nós!
Para a semana teremos mais alguém bem conhecido do universo do espetáculo, com uma estreita ligação às motos, mas desconhecida por muitos. Quem será?