No nosso país há uma longa tradição de considerar que as pessoas para serem consideradas especiais têm de morrer primeiro. Em vida podem ter feito grandes feitos, mas o passo maior rumo ao reconhecimento é deixarem-nos fisicamente.
Talvez Paulo Pinheiro seja mais um caso desses, mas a sua obra fala por si e apesar de ter tido sempre uma postura mais ou menos discreta, o facto é que a sua visão, capacidade de trabalho e energia positiva foram determinantes não apenas para o seu amado Algarve, mas para colocar Portugal no mundo, no que aos desportos motorizados diz respeito.
Natural de Portimão, nasceu a 8 de outubro de 1971 e iria completar 53 anos, se antes a doença não tivesse afastado definitivamente de nós. As malditas pragas oncológicas que ainda não conseguimos travar fizeram mais uma vítima e levaram precocemente o principal responsável, no bom sentido, de se ter conseguido por de pé o Autódromo Internacional do Algarve (AIA).
A autarquia de Portimão, numa justa homenagem, propôs que mudasse de nome para Autódromo Internacional do Algarve Paulo Pinheiro. Uma bonita forma de imortalizar, ainda mais, o ilustre filho da terra a que todos os que gostam da velocidade, da Fórmula 1, do MotoGP, ou das SBK… estão eternamente gratos.
A própria Presidência da República apresentou uma nota de condolências pela partida tão precoce de Paulo Pinheiro.
Veja também: Paulo Pires: modelo, ator, embaixador do mundo das motos, pai e motociclista
Como tudo começou
Paulo pinheiro teve uma infância e adolescência normal e feliz, numa pequena, à data, cidade algarvia de Portimão, numa altura em que o Algarve ainda estava longe da Meca do Turismo em que se veio a tornar.
Cedo se interessou pelas competições de velocidade e a sua estreia foi como piloto de karts por volta dos 13 anos, mas a sua natural inclinação para a mecânica encaminhou-o para tirar o curso de Engenheiro Mecânico, futuro que veio a abraçar sempre, mas de forma mais abrangente do que alguma vez imaginara.
Também as motos eram uma grande paixão e conta um amigo que viveu com ele nos seus tempos de juventude que Pinheiro tinha uma Suzuki GSX-R 750, numa época em que esta cilindrada era bastante popular, e conduzi-a como ninguém, inclusive pelas estradas de Portimão. Dito de outra forma, além da irreverência típica da juventude, Paulo tinha ótimos dotes de condução, também nas duas rodas.
Trabalhador incansável, sempre desejoso de abraçar novos desafios, é um dos grandes responsáveis por, em 2004, conseguir por de pé a Parkalgar Racing Team. Da mesma chegou a ser diretor e, em parceria com a Honda, a equipa participou no Campeonato do Mundo de Motociclismo, com o duplo objetivo de competir e promover internacionalmente o AIA.
O projeto acabou em 2011, após a conquista de 12 vitórias e dois vice-campeonatos mundiais, mas cumpriu a sua função mais importante: promover o Algarve, o jovem Circuito que se estava a criar e colocar novamente Portugal no radar mundial do automobilismo e do motociclismo.