A crónica da semana passada teve como eleita uma pessoa muito popular por tudo o que tem feito em prol das motos e do associativismo em Portugal e também além-fronteiras. Foi uma justa homenagem a José Amaro, ele que liderou os destinos do Moto Clube de Faro ao longo de várias décadas.
Ficou no ar a promessa de que na última a crónica de 2025 também o escolhido seria alguém com grande relevância no que ao motociclismo em geral diz respeito e até se deu uma pista sobre quem poderia ser. Era bastante fácil de intuir que nos estávamos a referir a Manuel Marinheiro, o Presidente da Federação de Motociclismo de Portugal (FMP), ele que já lidera o organismo há vários anos, desde 2013, estando agora a completar o seu terceiro e último mandato (2021-2025).
Nascido na Figueira da Foz em 18 de setembro de 1965, é um jovem a caminho dos 60 anos e que ainda tem muito para viver e talvez até para dar ao motociclismo ou não fosse ele uma apaixonado por motos, que usa diariamente, fã da competição ou da defesa dos direitos dos motociclistas.
De seu nome completo Manuel José Teixeira Simões Antunes Marinheiro é mais conhecido apenas pelo primeiro e último nome, sendo que é desde 2013 o timoneiro da FMP e o trabalho da equipa por si liderada ao longo destes anos é o seu melhor cartão de visita.
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Da advocacia para o mundo das motos
Manuel Marinheiro nasceu na bonita região da Figueira da Foz, ainda nos tempos do Antigo Regime, mas a advocacia, que a foi a sua escolha profissional, acabou por lhe mudar ao rumo da vida e ajudou a definir e a moldar o seu futuro.
Começou a exercer em 1989, mas as motos acabaram por lhe ajudar a indicar o caminho e em 1999 tornou-se Presidente do Conselho Disciplinar da FMP. Dois anos mais tornou-se Membro do Painel Judicial da “FIM EUROPE” (Federação Europeia de Motociclismo) e em 2013 veio a ser o Presidente da FMP, sendo que está agora a terminar o seu terceiro e último mandato.
Como se não bastasse, também em 2013, tornou-se Membro da Comissão Judicial da FIM (International Motorcycling Federation), em 2018 Membro da Direção da AMM (Mediterranean Motorcycling Association e em 2019 Vice-Presidente da “FIM EUROPE” (Federação Europeia de Motociclismo). Ou seja, o mundo das motos a nível nacional e internacional está-lhe no sangue!
De sorriso fácil e sempre com uma palavra de ânimo, Marinheiro é conhecido por praticamente todos e é fácil de encontrar num qualquer evento motociclístico, seja num Lés-a-Lés Portugal onde costuma ser participante assíduo, a assistir a uma qualquer prova de motociclismo ou a defender os nossos direitos na Assembleia da República.
Ao longo destes anos tornou-se uma presença incontornável no panorama das motos em Portugal, ajudou a promover várias modalidades e o mototurismo tem conhecido, desde que é Presidente do FMP, um grande desenvolvimento, basta pensar que foi com ele que nasceu o Lés-a-Lés off-road e se vai realizar em 2025 o primeiro Lés-a-Lés Classic.
Uma visão a longo prazo
Muitos de nós certamente que conhecem o extenso areal da Figueira da Foz, talvez até lá tenham assistido a uma parte dos International Six Days Enduro (ISDE) em 2009. Talvez até tenha sido a longa faixa de areia a inspirar Manuel Marinheiro a olhar para mais longe e não apenas a gerir o presente.
Assim se percebe que a aposta tem de ser também no médio e longo prazo. Não basta gerir o amanhã. Há que apostar nas novas gerações, em despertar jovens talentos para competição e, porque não, capitalizar ainda mais o fenómeno Miguel Oliveira!
Numa entrevista ao Jornal Hoje Macau, conduzida por Sérgio Fonseca, é o próprio Manuel Marinheiro a assumir que importa ter laços com Macau, nossa antiga colónia, e apostar nos mais jovens:
“Há quatro anos a FMP criou novas classes de iniciação à velocidade e, com a Oliveira Cup, uma escola de motociclismo de velocidade, proporcionou a captação de novos valores e o aumento do número de jovens pilotos nas corridas do Campeonato Nacional de Velocidade.”
Porém, não se pense que a “trintona” FMP (foi formalmente constituída em 11-05-1994) e que Marinheiro lidera no seu terceiro mandato, apenas está direcionada para a velocidade. As modalidades desportivas são muitas mais: Enduro, Super Enduro, Enduro Sprint, Hard Enduro, Todo-o-Terreno, Velocidade, Rally Raid, Motocross, Supercross, Mototurismo, Supermoto e Trial… partindo sempre do pressuposto que não me está a escapar nenhuma!
A grande aposta no mototurismo é também uma forma de preparar o futuro. Portugal tem condições excecionais para a sua prática, seja por nacionais, seja por quem nos visita. Clima favorável, gastronomia de eleição, custos não demasiado elevados, estradas e trilhos de sonho, gentes hospitaleiras… são alguns dos atributos que urge preservar e manter.
Aliás, tal como divulgámos há poucos dias, já foi apresentado o calendário para 2025 dos eventos em que a FMP está diretamente envolvida e os números impõem respeito e mostram bem o trabalho que a equipa liderada por Marinheiro tem estado a desenvolver:
Quatro eventos da FMP (três Lés-a-Lés e o Dia Nacional do Motociclista que será na Figueira da Foz), 28º Troféu Nacional de Moto-Ralis Turísticos, com oito provas e ainda o envolvimento direto em 27 concentrações, tudo isto sem considerar o envolvimento direto nas diversas provas competitivas já referidas anteriormente, onde se inclui obviamente o MotoGP 2025 no AIA, que já tem data marcada para os dias 7 a 9 de novembro.
E daqui para a frente?
Esta é uma questão a que só o próprio Manuel Marinheiro poderá dar resposta. Bem vistas as coisas, têm sido décadas de dedicação ao motociclismo, com muitas viagens pelo meio, ausências de estar com a família e amigos, intermináveis reuniões, negociações complexas, pouco tempo para ter vida pessoal, muita exposição mediática…
Que irá Manuel Marinheiro fazer agora? Vai continuar umbilicalmente ligado à FMP, mesmo sem ser presidente? Vai apostar talvez num cargo na FIM, cujos destinos são liderados pelo também português e seu amigo Jorge Viegas? Vai antes tentar dedicar-se mais à família, aos amigos e, quem sabe, talvez mesmo à advocacia?
São muitas questões para as quais não temos resposta e talvez mesmo o próprio ainda esteja a ponderar o que quer fazer agora da sua vida, mas a obra feita à frente da FMP nestes anos fala por si, tal como tudo o quem tem sido feito em prol do motociclismo no nosso país.
Terminamos com um vídeo que mostra bem o seu conhecimento e a vontade férrea de defesa dos nossos interesses. No Podcast do ACP Manuel Marinheiro, ainda antes de se saber que as inspeções aos motociclos não iriam avançar, é o primeiro a afirmar: “Não somos contra as inspeções, mas não são necessárias.”
São 18 minutos que nos podem fazer refletir e que ilustram bem a posição de muitos de nós, aqui apresentadas de forma clara e precisa. Simplesmente imperdível.
A todos vós desejamos um Feliz 2025.