Aqui está uma matéria nada pacífica, mas muito atual. Cada motociclista tem a sua opinião pessoal e mesmo na Europa Comunitária estamos longe do consenso. A Alemanha é o único país que, legalmente, permite que em algumas autoestradas e condições climatéricas favoráveis não haja limites de velocidade, nas populares “autobahn”.
Focando-nos na realidade do nosso país, continua a ser apontada a velocidade excessiva como uma das principais causas dos acidentes rodoviárias e campanhas como “a velocidade mata, viaje sem pressa” fazem sentido.
Os limites atuais vigoram desde a década de 70 e a sua aplicação deveu-se à necessidade de reduzir consumos, sobretudo porque nesta época ocorreram dois choques petrolíferos.
Daí para cá sabemos que a rede viária melhorou imenso, bem como as condições de segurança dos veículos, incluindo obviamente a dos motociclos e também dos equipamentos de proteção. Até a meteorologia é menos agressiva do que era há algumas décadas, chovendo bastante menos e as temperaturas são mais amenas.
Por outro lado, numa altura de emergência climática, todos sabemos que o aumento da velocidade leva, inevitavelmente a um aumento dos consumos e, em consequência, as emissões também aumentam. Circular mais devagar, em termos práticos, pode significar menos emissões.
Manter, reduzir ou aumentar os limites existentes?
Esta é uma questão que apaixona as pessoas e divide as opiniões, não havendo consensos. Circular numa autoestrada com excelente piso, boa visibilidade e num veículo moderno a 120 km/h acaba por ser cansativo e monótono. Por outro lado, dentro de uma localidade, num local com muita gente, conduzir a 50 km/h ou mesmo a 30 km/h pode ser bastante perigoso.
Há diversos movimentos e organizações a favor do aumento ou da redução dos limites da velocidade. O exemplo recente de, em Itália, haver uma proposta do governo de aumento para os 150 km/h nas autoestradas, em vez dos atuais 130 km/h, contrasta com a proposta de redução de 50 km/h para 30 km/h nas localidades da vizinha Espanha.
Também entre os fabricantes começa-se a assistir a um fenómeno curioso: a auto limitação imposta à velocidade máxima dos veículos, veja-se o caso da Volvo que, eletronicamente, já está a limitar vários dos seus veículos a 180 km/h de velocidade máxima.
Mesmo nas motos esta situação já se verifica, mas habitualmente é para proteger a mecânica ou para garantir que os limites das emissões são cumpridos, nomeadamente com a exigente Norma Euro 5, nos mercados onde ela se aplica.
Existem motos capazes de atingir os 100 km/h (ou mais) logo na primeira relação. Por outro lado, continuamos a assistir às marcas a anunciar potências estratosféricas de 200 cv ou mais e velocidades de ponta superiores a 300 km/h nos seus motociclos que podem circular na via pública.
Será que faz sentido esta opção, quando sabemos que, se cumprirmos a lei e não andarmos em circuito, vamos usar apenas uma ínfima parte da potência e binário disponíveis? Por outro lado, convém ter presente que os limites e regras variam muito pelo mundo fora, o que implica cuidados acrescidos quando conduzimos noutras latitudes.
Mesmo com o aumento de veículos elétricos, incluindo de duas rodas, já existe oferta em que as velocidades atingidas estão muito para além dos limites legais e sem emissões. Contudo, isso é diferente de afirmar que não poluem porque boa parte da eletricidade ainda vem de fontes não renováveis e a produção destes veículos, sobretudo na componente das baterias, está longe de ser limpa.
Tudo somado, é uma matéria que vai continuar a gerar controvérsia. Mesmo a hipotética proibição de veículos a combustão serem comercializados após 2035 (que agora talvez já não seja bem assim com o uso de combustíveis sintéticos) não vai resolver o problema.
Além da perspetiva legal tem de imperar o bom senso. Seja por parte dos condutores que devem adequar a velocidade à via, ao veículo e à meteorologia, das autoridades que devem fazer mais prevenção e menos “caça à multa”, dos peões que devem ser mais cuidadosos, dos ambientalistas que devem evitar fundamentalismos e dos decisores/legisladores que devem decidir ouvindo todas as partes.
Por: Pedro Pereira
Fotos: Arquivo