A 310V é uma custom monocilíndrica da Zontes acabada de chegar ao mercado nacional. A origem é chinesa, mas não há que o esconder nem haveria qualquer necessidade. Tanto pela tecnologia e equipamento utilizados como pela capacidade dinâmica, esta moto passou no nosso teste com distinção!
Por Fernando Neto / Fotos Paulo Calisto
Cada vez existem menos preconceitos acerca de automóveis e motos originários da China, até porque cada vez mais marcas reputadas recorrem a fábricas no referido país para a produção dos seus modelos, beneficiando de mão-de-obra mais acessível e usando a supervisão da cada mãe. Mas quando surge uma nova marca chinesa (neste caso não é assim tão recente, pois já foi fundada em 2003), torcemos sempre o nariz, muito embora neste caso já diversos colegas de profissão espanhóis me tinham dito que os modelos eram de qualidade.
Pois bem, a Zontes pertence então ao grupo Tayo Motorcycle Technology e possui 36 patentes de invenção, tendo já recebido 3 prémios de inovação em ciência e tecnologia. Conta com cerca de 1600 funcionários, 70% deles com formação universitária ou superior, e trabalha com diversos fornecedores reputados de componentes, como é o caso da Bosch ou da Delphi. No nosso país desde 2009 que Zontes tem como importador exclusivo a Terra Bastos Lda, possuindo uma rede de agentes que pode ser encontrada no site da marca.
Quanto à gama de motos, é composta por cinco modelos de 125 cc de estrada/trail, uma estradista de 250 cc e quatro modelos de 310 cc, estes últimos a partilharem o mesmo motor monocilíndrico. Todos os modelos 310 são bastantes futuristas, e falamos da sport turismo X, da naked R, da trail T e agora desta custom V. Além disso, todos os modelos centram-se num nível de equipamento elevado, mas centremo-nos na moto destas páginas.
Super equipada
Goste-se ou não do estilo custom – ainda para mais associado a linhas bastante angulosas e agressivas que normalmente não estão associadas a este segmento – há que reconhecer no entanto que esta 310V tem muita pinta! E mais, apresenta uma qualidade de construção bastante interessante para um veículo desta cilindrada e que pretende ser essencialmente barato. As manetes são reguláveis e apresentam um bom tato, o descanso lateral é bom, o assento também, e todas as passagens de cabos e fios parecem estar bem feitas. Mas há muito mais: a 310 tem ignição sem chave, pelo que basta andarmos com o comando no bolso, e se nos esquecermos de trancar a direção existe um aviso sonoro. O acesso ao depósito é combustível é também sem chave, pois existe um botão para tal. Aliás, no total são 14 os botões a que temos acesso nos comandos, algo curioso mas a que nos habituamos rapidamente. Esta Zontes tem ainda dois modos de condução (Eco e Sport), com resposta mais rápida do acelerador no modo mais desportivo, e possui uma instrumentação TFT a cores em que podemos trocar o fundo por 4 ambientes distintos, notável! A instrumentação é bem completa e durante a condução temos acesso ao consumo instantâneo, autonomia e média de velocidade, para quando pararmos ficarmos com a informação do consumo médio, que no nosso caso foi de 3,7 l/100 km. Querem mais? Os pousa-pés do passageiro ficam habilmente escondidos, todas as luzes e piscas são LED e temos à disposição diurna e noturna. Quando escolhemos a noturna (naturalmente à noite), a capacidade de iluminação é excelente e bastante claro, mas além disso a intensidade da luz do TFT baixa e ficamos com os comandos retroiluminados, e isso é algo que muitas motos topo de gama nem têm. Para finalizar a parte da surpresa, resta dizer que o traseiro é um 180/55-17!!
Motor e ciclística
O motor de 312 cc é um monocilíndrico de dupla árvore de cames e 4 válvulas, com refrigeração líquida e que debita uma potência máxima de 35 cv às 9.500 rpm, sendo o binário máximo de 30 Nm às 7.500 rpm. Na verdade, parece-nos muito semelhante em tudo ao que equipa dois modelos de uma certa marca alemã! Na ciclística encontramos um quadro em aço, mas se o sistema de suspensão é composto por uma forquilha invertida na frente, atrás estão montados dois simples amortecedores, dando ainda nas vistas o complexo trabalho realizado no braço-oscilante. Quanto à travagem, um disco em cada eixo, com ABS da Bosch a ajudar à paragem nos pisos mais escorregadios. O assento está montado a apenas 720 mm do solo e o depósito é de 15 l, sendo o peso em ordem de marcha de 157 kg.
Em andamento
É impossível avaliar a fiabilidade de um modelo durante uma semana, mas nas várias centenas de quilómetros que realizámos não encontrámos nada que nos parecesse estar em risco de avariar, longe disso. A posição de condução é muito agradável para um utilizador de estatura média, com uma correta posição de todo o corpo, e a robustez é total; em que somente na suspensão traseira esta Zontes parece fugir um pouco da restante qualidade geral. Os amortecedores são um pouco fracos e esgotam com facilidade, pelo que colocámos um pouco mais de pré-carga nos mesmos. Não ficou perfeito mas ficou bem melhor, pelo que façam-no até ficar ao vosso jeito. Quanto ao resto, o motor apresenta um desempenho muito certinho e com boas prestações, especialmente acima das 6.000 rpm. As relações intermédias da (precisa) caixa de velocidades parecem curtas, e assim damos por nós a usar uma velocidade de cruzeiro de 120 km/h (não se esqueçam que é um custom, de pés para a frente), mesmo se a velocidade máxima ronda os 150 km/h. A travagem oferece um bom tato na manete e pedal e potência mais que suficiente, enquanto a forquilha invertida garante também um bom desempenho em termos de conforto e dinâmica. Quanto aos pneus, os CST garantem uma boa aderência a seco mas duvidamos que o mesmo aconteça à chuva devido ao desenho super desportivo do piso, sem rasgos no centro. Quanto à discrepância de medidas, o 110 dianteiro iria casar melhor com um 150 atrás, sem dúvida, mas esta foi uma opção puramente estética e na verdade a maneabilidade pouco é comprometida.
Esta Zontes curva bem sem que os pousa-pés toquem no solo e apenas em mau piso a dinâmica será comprometida pelo funcionamento menos perfeito da suspensão traseira. Assim sendo, e por tudo o que já dissemos, parece óbvio que esta Zontes é realmente uma boa máquina. Apresenta um nível de equipamento e tecnologia fantásticos para o segmento e mais do que “ter só porque sim”, tudo funciona realmente bem a nível do sistema keyless, ecrã TFT e iluminação. A qualidade geral também nos agradou, assim como a dinâmica no seu todo e prestações e funcionamento do motor, por isso parabéns! Venham mais modelos como este, seja de que país ou continente forem!