Descontração total. Foi assim que andei com a Himalayan Adventurer, sem me preocupar com selecionar o modo de condução, das suspensões ou do controlo de tração… Apenas andei a curtir a moto. Uma moto trail na sua mais pura essência.
Por: Pedro Vitorino
Fotos: Paulo Calisto
Sempre gostei de motos trail precisamente por serem simples, por permitirem rodar em qualquer tipo de piso sem grandes preocupações e com muita liberdade, desfrutando dos locais e, oportunamente, da condução em terra, sempre com um nível de segurança superior ao que encontramos na estrada. Pela lógica do mercado essas motos trail (simples) praticamente desapareceram e são cada vez menos utilizáveis fora de estrada. Todos compreendemos que boa parte do tempo estas motos rodam com os pneus no asfalto, mas aquilo que perdemos ao direcioná-las para esse tipo de utilização estradista, não é comparável com o que ganharíamos se tivéssemos uma moto mais simples, leve e fácil de levar por essas estradas de terra que mos levam a lugares incríveis.
Trail pura
É isso que a Royal Enfiled Hilmalayan é; uma trail na sua mais pura essência. O motor monocilíndrico de 411 centímetros cúbicos arrefecido a ar, com árvore de cames simples à cabeça e alimentação por injeção eletrónica digital assenta num clássico chassi de duplo berço em aço. A potência anunciada é de 24,5 cavalos às 6.500 rpm, desenvolvendo o binário máximo de 32 Nm entre as 4.250 e 4.500 rpm. Prestações modestas, sem dúvida. Mas se estiver bem distribuída e nos permitir fazer aquilo que queremos, podemos aplicar a velha máxima de que a “potência não é tudo”…
A caixa de 5 velocidades – de uma suavidade incrível – está muito bem escalonada e permite-nos aproveitar muito bem os (poucos) cavalos disponíveis. Logicamente, não temos motor para entrarmos numa autoestrada e fazer os quilómetros desaparecerem à velocidade da luz (ou de uma maxi trail). Também não é isso que procuramos numa trail pura. Pelo contrário, queremos maneabilidade e capacidade para ultrapassar obstáculos inesperados, e a Himalayan dá-nos isso.
Bem equipada
O conjunto de suspensões é também ele básico, mas funcional e eficaz. Na frente encontramos uma forquilha convencional com tubos de 41 milímetros de diâmetro e 200 milímetros de curso e na traseira um único amortecedor com sistema de bielas ligado ao braço oscilante em aço que garante um curso à roda de 180 milímetros. Apenas na traseira temos afinação na pré-carga da mola, o que nos permitirá ajustar a resposta do amortecedor à capacidade de carga da Himalayan, que nesta versão Adventurer vem equipada com um conjunto de malas em alumínio montadas numa robusta estrutura metálica, que garante ainda um pequeno porta-bagagem traseiro, útil para instalar top-case ou fixar algum equipamento.
Na frente encontramos barras de proteção ao depósito e ao motor, bem enquadradas e solidamente montadas. A roda de 21 polegadas conta com um guarda-lamas junto ao pneu, que limitará o spray e projeções de gravilha, e com um “bico-de pato” montado na mesa inferior da forquilha. Esteticamente, na nossa opinião, o conjunto está bem conseguido.
Um pouco mais estranho fica o farol dianteiro, de dimensão generosa, suportado pela estrutura de proteção do depósito.
Apesar de simples e com soluções básicas, esta Himalayan Adventurer está equipada com um painel de instrumentos bastante completo, com toda a informação necessária e habitual nas motos modernas, indicador de combustível e bússola, numa distribuição lógica e com fácil leitura. E conta inclusive com detalhes que vamos apreciar, por exemplo, a passagem à reserva de combustível é acompanhada de um Trip a “0” que ficará intermitente, uma informação muito útil em viagem.
Verdadeira globetrotter
Com o equipamento apresentado não temos dúvida em afirmar que a Royal Enfield Himalayan Adventurer é uma verdadeira globetrotter. À capacidade para transportar bagagem, proteções e solidez do conjunto, junta-se a boa autonomia. Não que o depósito tenha uma capacidade extraordinária, são apenas 15 litros, mas o consumo nunca passou os 3,6 litros aos 100 km, mesmo espremendo sem dó nem piedade o monocilíndrico, o que significa cerca de 350 km sem contar com a reserva.
Apesar dos modestos valores de potência e binário anunciados, o motor é extremamente rápido na subida de rotação, permitindo gozar em pleno estradas de terra com menos aderência. E como já dissemos, mesmo com alguns abusos nunca sentimos o valente “mono” indiano aquecer e limitar o nosso andamento:
Os mais “aventureiros” poderão achar que a Himalayan está limitada nas prestações, tratando-se de uma moto com a qual se pretende percorrer milhares de quilómetros. Com já afirmámos, nunca poderá esta Royal Enfield rivalizar com as trail de maior cilindrada, no entanto existem outros fatores a considerar e tudo depende do espírito com que se deve encarar uma longa viagem à descoberta e aventura.
Vertente utilitária
Um desses outros fatores será a vertente utilitária e Himalayan Adventurer será uma excelente opção para quem procura uma moto despretensiosa, prática, versátil e económica. Muito económica. Não só no preço de aquisição, como também na manutenção e consumíveis. As medidas dos pneus – 90/90-21 e 120/90-17 – permitem encontrar uma infinidade de soluções, sendo a maioria de baixo custo. O mesmo se passa com as pastilhas de travão, com um único disco na frente com pinças de duplo pistão e na traseira um disco com êmbolo simples. Apesar do sistema de travagem básico, a Himalayan cumpre neste capítulo, com um ABS eficaz na estrada mas não desconectável, o que obriga a uma condução adaptativa em fora de estrada. No entanto, conseguimos em algumas situações bloquear a roda traseira, pois o ABS apenas entra em funcionamento a partir dos 5 km/h, o que nos poderá ajudar em algumas manobras na terra.
O conforto nas deslocações diárias também está garantido, com um ecrã frontal que proporciona alguma proteção aerodinâmica e com dois assentos individuais espaçosos e muito macios, com o do condutor a ficar posicionado a 800 milímetros do solo.
Não se esqueça que estamos a falar de uma moto que custa praticamente o mesmo que uma 125cc topo de gama e que mostra um nível elevado de qualidade de construção, com soldaduras bem feitas, boa pintura e detalhes que revelam cuidado neste capítulo.
Confiança!
Deixei a Royal Enfield Himalayan Adventurer com um sentimento de confiança, que seria uma moto capaz de me levar a qualquer parte do mundo, tanto pelas soluções apresentadas – simples, básicas e fiáveis – como pela atenção dada ao detalhe; as passagens de cabos e tubos revestidas com proteções, a sólida fixação das proteções ao quadro e até mesmo os acabamentos finais de pintura. O motor de comportamento vivo, com uma caixa de velocidades suave e bem escalonada, rapidamente nos leva a esquecer que no papel apenas tem vinte cinco cavalos e meio. E acreditem que quando o alcatrão acabar vão encontrar todas as razões para ter uma moto como a Himalayan.