Ninguém fica indiferente à Indian Chieftain Limited, mesmo aqueles que pouco sabem sobre esta histórica marca norte-americana param e querem saber mais. Uma moto que conseguimos apreciar mesmo sem ser “especialistas”.
Por Pedro Vitorino / Fotos Paulo Calisto
“Não, não é. É uma Indian.” – foi a resposta que mais demos à primeira pergunta da maioria dos curiosos que paravam junto da Chieftain Limited, sendo difícil não tecer comentários comparativos à sua principal (única?) concorrente. Até mesmo nós não conseguimos desligar o modo “comparativo”, apesar de não se tratar de um artigo com esse objetivo. No entanto, quando mais andávamos na Chieftain Limited mais convencidos ficávamos que esta não é uma moto só para “especialistas”. A Indian conseguiu criar uma moto destinada aos apaixonados pelas Customs “long ride” dotando-a de características práticas que a podem transformar em muito mais do que uma moto com estilo.
Gosto pelo estilo
Logicamente há que gostar deste tipo de moto, grande e vistosa como tem de ser uma “cruiser” V Twin, neste caso ao estilo “bagger”, facilmente identificável pela enorme proteção frontal e típico conjunto de malas traseiras estreitas e integradas nas linhas do conjunto.
Para 2019 a Indian continuou a evolução iniciada em 2017 na linha Chieftain com a introdução de uma roda dianteira com 19 polegadas, que substituiu as 16 polegadas que equipavam os modelos anteriores, ao mesmo tempo que abriu o guarda-lamas, deixando ver os 10 braços da jante. A par da renovada carenagem frontal, a Chieftain Limited 2019 mostra-se como uma moto visualmente mais ligeira e que nos transmite de imediato uma imagem de maior manobrabilidade. Na verdade, estamos perante uma mescla de um estilo clássico – com profusão de cromados – com um design mais agressivo, não querendo perder aqueles que procuram uma Custom tradicional, mas abrindo portas a um maior leque de potenciais interessados.
Thunder Stroke 111
É esta a denominação deste motor Indian. Trata-se de um V-Twin a 49 graus, com 1.811 centímetros cúbicos e válvulas à cabeça (OHV) comandadas por hastes (varetas) acionadas pela árvore de cames colocada no bloco do motor, alimentado por injeção eletrónica de combustível. A embraiagem de discos funciona em banho de óleo, que por sua vez também serve para arrefecimento do motor, tal como o ar que atravessa as alhetas dos enormes cilindros.
A Indian encontrou uma solução engenhosa para resolver os problemas de dissipação do calor do cilindro traseiro para as pernas do condutor; quando a temperatura ambiente ultrapassa os 15 graus Celsius, o motor está abaixo das 1.000 rpm (sem acelerador) e em 1ª, 2ª velocidades ou em Neutral, o cilindro traseiro é desligado. Este sistema, denominado Rear Cylinder Deactivation, reduz consideravelmente o fluxo de ar quente para as pernas quando paramos nos semáforos ou no trânsito. Assim que rodarmos o acelerador, o cilindro traseiro regressa à atividade.
Graças ao acelerador “ride-by-wire” podemos optar por três modos de condução; Tour, Standard e Sport. Na prática não sentimos grande diferença entre os dois primeiros modos, mas ao ativarmos o Sport rapidamente damos conta de haver uma ligação mais rápida entre o punho direito e os cavalos disponibilizados na roda traseira.
A caixa de seis é um exemplo de suavidade, notando-se claramente que a última velocidade é quase uma “over drive”. A transmissão final é feita por correia, passando os mais de 150 N.m de binário às 3.000 rpm sem sobressaltos. Aliás, suavidade é a palavra que define melhor o Thunder Stroke 111, um motor sem vibrações e sempre disponível.
Agilidade surpreendente
O chassis da Chieftain tem como base uma estrutura central em alumínio fundido, que também serve de caixa para o filtro de ar, e certamente será o ”segredo” para o comportamento ágil com que esta moto nos surpreendeu. Não nos podemos esquecer que contamos com mais de 360 kg (peso a seco) entre as pernas, com uma distância entre eixos de 1.668 milímetros e com um painel de acessórios montado na forquilha dianteira, mas na verdade tudo isso desaparece assim que a Chieftain entra em movimento.
O conjunto está suspenso por uma forquilha telescópica dianteira com bainhas de 46 milímetros de diâmetro e 119 milímetros de curso, e por um amortecedor único ajustável a ar que desenvolve um curso de 114 milímetros. A distância ao solo é de 130 milímetros, embora curta permite deitar esta Indian nas curvas sem que imediatamente se ouça algo a roçar no asfalto.
Aproveitando a generosidade do motor, facilmente rodamos com a Chieftain a bom ritmo, mesmo nas estradas de província com piso irregular e com falta de avisos nas curvas mais apertadas. Na frente os dois discos de 300 milímetros com pinças de quatro êmbolos são fáceis de controlar e o ABS ajuda a ganhar confiança. O disco traseiro com o mesmo diâmetro não inspira o mesmo nível de confiança, situação que piora em piso molhado, com o pneu (Dunlop Elite 3) a não ajudar quer na travagem quer na aceleração. Em piso seco cinco estrelas!
Infotainment intuitivo
Os sistemas de “infotainment” são o ex-libris das motos deste segmento, disponibilizando todo e mais algum tipo de informação possível de imaginar, navegação, conetividade com os dispositivos móveis de comunicação (smartphones) e um alto som! Pois, não julguem que faz sentido ter uma moto destas sem poder ouvir as melhores bandas de rock em condições.
O sistema de “infotainment” da Indian – designado por Ride Command – mostra-nos um ecrã tátil de sete polegadas altamente personalizável. Com ou sem luvas rapidamente podemos passar os menus (o tempo de reposta de ação é surpreendentemente reduzido) e optar pela configuração pretendida, entre oito opções: meio-ecrã partilhado com GPS com ou sem bússola e informação sobre o veículo (pressão dos pneu, média, modo de condução, etc.), ou ecrã inteiro para o sistema de áudio, navegação, veículo, etc…
Mais impressionante é a forma intuitiva como tudo funciona. Muito fácil. Sem dúvida muito mais fácil do que… a principal concorrente, ganhando tanto na visualização como naquilo que se ouve. O equipamento Premium Audio Sytem fornece 100 watts de som limpo e de qualidade mesmo quando rodamos mais depressa, reconhece as nossas preferências de equalização e volume das estações pré-selecionadas e reduz o nível de decibéis quando paramos nos semáforos. Perfeito!
Hat-trick de prazer
Chegou o momento de explicar o título destas páginas. Ao prazer disponibilizado pelo sistema de entretenimento a “bordo” juntam-se os prazeres de viajar e condução – triplo prazer. Se os dois primeiros são característicos deste tipo de motos para qualquer tipo de utilizador, já o último (o de condução) normalmente apenas está destinado aos tais “especialistas”, mas mesmo sem pertencer a esse restrito grupo, a Indian Chieftain Limited leva-nos a verdadeiros momentos de gozo.
À facilidade com que se insere a mota em curva junta-se a disponibilidade do motor, talvez com menos torque do que a concorrência, mas muito mais divertido. Passamos curva para contracurva numa condução viva, despreocupara e animada. Foi sempre assim durante os mais de 1.000 km de viagem, com uma tirada contínua de 500 km (com um reabastecimento e média de 5,6 l/100km) totalmente fora de vias rápidas ou autoestradas. A solo ou com companhia, a Chieftain deu-nos sempre o mesmo entusiasmo “para abalar sem destino nenhum*”.
*Não como os Trovante na “125 azul” mas com a 1.811cc vermelha!