Mantendo a sequência prevista, publicamos hoje o nosso terceiro roteiro por um distrito de Portugal Continental e ilhas, sendo que a viagem se vai continuar a fazer no sentido Sul para Norte. Vamos sempre partilhar alguns dos melhores segredos do nosso País para visitar de moto, mas essa descoberta fica um pouco à decisão de cada, com a certeza que muito há por (re)descobrir e nunca conhecemos tudo!*
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Distrito de Évora: tanto por descobrir em 14 municípios
Logo a seguir a Beja, que é maior distrito em área de Portugal, Évora apresenta um honroso segundo lugar e, tal como Beja, também chegou a ser conhecida por fazer parte do “Celeiro de Portugal”, graças à sua produção de cereais, em especial trigo, mas esses tempos já lá vão. O distrito de Évora tem hoje muitos encantos a descobrir, melhor ainda se for de moto, seja a só ou acompanhado.
A cidade de Évora, capital do distrito, pode ser um bom ponto de partida para conhecer melhor o Alentejo, mas com uma certeza: entre capelas, museus, o Templo de Diana, a Sé Catedral, a Universidade, vários restaurantes com gastronomia de eleição… não pense que um dia chega para a cidade!
No mínimo, um fim-de-semana e aproveite para andar a pé, talvez até estacionando a moto junto ao hotel. Évora é daquelas cidades que se descobre, com tempo em cada ruela ou esquina e apesar de estar a ser positivamente invadida por turistas não perde o seu encanto, a que não é não são alheios os cuidados para garantir que o perímetro interno das muralhas não se altera. Quase parece que parou no tempo!
Se desejarem, podem chamar-lhe casco urbano e, ainda por cima, tem vários pontos à volta que urge descobrir, tal como pelo menos uma visita à Capela dos Ossos, que faz parte integrante do Convento e Igreja de São Francisco de Évora. Pode parecer algo tétrico, mas o célebre letreiro tem toda a razão:
Nós ossos que aqui estamos, pelos vossos esperamos!
Ao que consta, são pelo menos 5000 crânios de vários tamanhos e feitios e, como se não fosse suficiente, existem ainda duas múmias protegidas por expositores de vidro. São ambas do sexo feminino, uma com cerca de 30 anos de idade e uma criança com cerca de dois anos e meio. Não é para ter medo!
Deixemos agora o lado lúgubre e aproveitemos tudo o resto, sendo que a Praça do Giraldo bem que pode servir com ponto de orientação. Afinal de contas é para aí que confluem praticamente todas as ruas da cidade e com o seu Rossio tem muito para apreciar.
Este distrito faz fronteira com Espanha, com o de Beja, Portalegre, Setúbal e Santarém. Ao contrário dos dois que já apresentámos, Évora não tem nenhum concelho que faça fronteira com Oceano Atlântico, mas não faltam praias fluviais, com especial destaque da Albufeira do Alqueva, uma vez que parte significativa do lago fica no distrito, sendo que a própria água da rede é oriunda do Alqueva e veio resolver um problema crónico de abastecimento de água à cidade, nos meses mais quentes do ano.
Naturalmente que o peixe do rio desempenha um importante papel na gastronomia da região, mas há tanto mais para nos fazer ganhar calorias! Pode ser algo mais leve como umas migas de espargos, mas e se for antes uma boa açorda? Porque não uma bela Alhada de Cação ou uns secretos de porco preto? Consegue resistir a um ensopado de borrego? Talvez para si seja suficiente uma bifana em Vendas Novas? Se gosta de pratos de caça… está no local certo!
Se é guloso, tenha cuidado, em especial com os doces conventuais! Uma encharcada do Convento de Santa Clara, uns pastéis de toucinho de Arraiolos, talvez mesmo umas trouxas de ovos ou uma cernelha em Montemor? Que lhe parece?
Falar de vinhos no distrito de Évora é quase uma redundância! São tantos e tão bons que o melhor mesmo é não ir conduzir a seguir! Com uma tábua de enchidos e queijos, acompanhado de bom pão alentejano e azeitonas e está o repasto feito!!!
A não perder
O distrito de Évora é cheio de contrastes e isso percebe-se facilmente com uma visita aos seus vários pontos de interesse, que abundam em todos os concelhos, mas vamos deixar alguns, apenas para lhe abrir o apetite de ir ou regressar.
Claro que a imperdível EN 2, que rasga Portugal de Norte a Sul, sempre pelo Interior do país merece destaque e atravessa vários concelhos deste distrito, apesar de não passar por Évora. Atravessa os concelhos de Mora, Montemor-o-Novo e Viana do Alentejo. São todos concelhos com tanto para descobrir e ao contrário do que possa pensar, as estradas não são apenas retas, embora o reino das curvas da EN 2 fique a sul na Serra do Caldeirão e mais a norte comece no concelho de Sardoal.
Depois de Ponte de Sor, no distrito de Portalegre, entre no concelho de Mora e vá ao Fluviário de Mora (convém marcar antes). Não se esqueça de uma paragem no km 500 no Ciborro, talvez para beber uma pequena caneca gelada de cerveja (só uma!). Em Avis aproveite talvez para visitar a vila e se for na altura certa não perca o Travelers Event!
Montemor será uma agradável surpresa, mas se o tempo for mesmo curto há dois lugares imperdíveis: as ruínas do castelo e Santiago do Escoural, com a sua Anta-Capela de Nossa Senhora do Livramento. Para finalizar a sua estadia do distrito na não se esqueça de parar em Viana do Alentejo para visitar a Igreja Matriz e talvez até almoçar ou jantar e dormir.
Mais próximo de Lisboa fica o concelho de Vendas Novas que nos encanta com as suas bifanas, mas o Museu da Artilharia é uma ótima surpresa e certamente que o vai surpreender. Depois da visita vai perceber melhor.
Fica agora o convite para rumar mais ao interior do distrito, onde fica a maior parte dos seus concelhos, além de que é onde vai encontrar algo que não existia há algumas décadas no Alentejo: produção intensiva de vinha, olival, amendoal… fruto da atividade humana e da água oriunda do Alqueva.
Os tapetes de Arraiolos são inimitáveis, mas o preço mostra também isso mesmo. Fuja das imitações orientais! Estremoz e Borba são encantadores e requerem uma visita com caráter de urgência, tal como o Palácio Ducal de Vila Viçosa (visite com tempo, ideal para toda a família), as vinhas do Redondo são a perder de vista, mas o castelo é magnífico. No já raiano Alandroal dê um salto a Juromenha, Reguengos é imperdível e Monsaraz é esmagador pela vista e pelo sossego. Quando estiver em Mourão pode sempre dar um salto ao outro lado da fronteira e poupar alguma coisa no depósito de gasolina, mas talvez longe da poupança de outros tempos! O seu castelo merecia melhor sorte!
Pode encerrar a visita em Portel, com uma visita ao seu bonito castelo. Faça tudo para ter oportunidade para ouvir cantar o Grupo de Cantares de Portel e vai ver que não se arrepende e um salto à Marina da Aguieira vai valer muito a pena! Talvez até com um passeio de barco!
Já ficam aqui tantas sugestões e dicas para o distrito de Évora, mas pode ter a certeza de que há muitas mais! Não se fique por estas! Esqueças as aplicações de navegação e o GPS e atreva-se a deixar-se perder pelo Alentejo! Fale com as pessoas que moram lá e gostam de ser abordadas, de contar histórias e, regra geral, até gostam de motos!
São 14 concelhos, uma área geográfica de 7392 km2 e cerca de 150000 habitantes, mas este distrito é bem mais do que isso! Há uma fauna e uma flora riquíssimas à sua espera, e lugares verdadeiramente mágicos que o vão seduzir e querer voltar! Cromeleques, antas, dólmenes e outras surpresas esperam por si!
*A distribuição geográfica tem por base a Reforma Administrativa de 1835 e, apesar de nos dias de hoje se falar menos de distritos e mais de regiões, o facto é que a regionalização nunca avançou e mesmo tendo sido extintos em 2011 os Governos Civis, essa divisão administrativa ainda faz algum sentido.
Daremos sempre alguns dados de caráter estatístico, gastronómico, possíveis roteiros, lugares imperdíveis ou qualquer outra informação que seja considerada mais relevante, nomeadamente para os amantes do mototurismo.
Por mera opção pessoal a viagem será feita de Sul para Norte, semana a semana, até se chegar às ilhas que compõem os arquipélagos da Madeira e dos Açores. Venha daí connosco neste roteiro virtual, que pode sempre tornar real!