Ainda há alguns dias referíamos a situação delicada em que se encontrava o Grupo KTM e uma das possibilidades de tentar salvar o grupo era abrir mão de alguns dos seus ativos, marcas incluídas.
Tudo aponta para que a primeira vítima seja a histórica marca italiana MV Agusta, da qual o grupo liderado por Stefan Pierer era detentor da maioria do capital e até já transferira a produção de motos para a Áustria.
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Um pouco de história
A MV Agusta nasceu em 1907, fruto da genialidade do apaixonado pela aviação Conde Giovanni Agusta, mas as motos chegaram mais tarde, em particular logo após o final da Segunda Guerra Mundial em Itália, com criação da marca MC – Meccanique Verghera e o seu primeiro modelo, a MV 98, apresentada ainda em 1945.
Daí para a frente a marca começou a apostar na competição e os resultados não tardaram a surgir. Participar na competição tinha vários objetivos: reconhecimento da marca, inovação, melhoria da qualidade dos produtos, vendas… e todos foram sendo atingidos e a MV Agusta cresceu imenso em pouco tempo.
Entre altos e baixos, a década de 60 viu chegar um dos maiores pilotos do século passado e que deu um grande prestígio à marca: Mike Hailwood (Mike the Bike). Logo a seguir chegou outro nome que todos conhecemos também: Giancomo Agostini (Ago)! Ele e a MV Agusta ganharam praticamente tudo o que havia para ganhar (13 campeonatos mundiais e 18 italianos), mas marca começava a passar por dificuldades sérias, apesar dos sucessos com o piloto Phil Read. Estava a chegar a invasão japonesa!
A marca deixou de operar no mercado ainda na década de 70, mas regressou nos anos 90, após aquisição pela Cagiva, liderada por Claudio Castiglioni, mas após um sucesso inicial, muito alimentado pelos saudosistas da marca as coisas voltaram a não correr bem, mais ainda com o fim do império de Castiglioni, que levou até ao desaparecimento da conhecida marca Cagiva.
Já neste século, em 2017, é o magnata russo Timor Sardarov que decide investir na marca com o objetivo de lhe trazer uma nova glória. São lançados novos modelos e a marca volta a ganhar protagonismo, mas não chega e acaba por ser suficiente. Numa fase algo complexa ocorre nova mudança de mãos.
A Pierer Mobility AG, que já agregava agregava a Ktm, Husqvarna e GasGas, aumentou a sua participação na MV Agusta, ao ponto de chegar a uma posição maioritária de 50,1%, sempre com o objetivo de fazer renascer o fabricante italiano com sede em Schiranna (região de Varese), mas foi sol de pouca dura, como já percebemos.
E agora?
A situação do grupo KTM é bastante delicada e para sobreviver vai ser necessário reduzir custos, bem como o número de motos em stock e não é garantido que a marca se fique apenas por abrir mão da MV Agusta.
Segundo a publicação especializada Paddock-GP, a marca italiana já não se enquadra na estratégia de longo prazo do grupo austríaco. Ao que se sabe, a decisão já foi formalizada durante uma recente reunião com os sindicatos na Confindustria Varese, e só resta à MV Agusta ser novamente independente e voltar à sua produção em Itália.
Será uma oportunidade de ouro para sobreviver? Vai necessitar de um parceiro, talvez até oriental para se reerguer? Que vai acontecer às motos que estão construídas na Áustria? E aos trabalhadores e à maquinaria? Como vão ficar as concessões e importadores da marca, incluindo no nosso país? Outra questão fundamental é perceber se para os clientes MV Agusta vão ocorrer alterações? Em caso afirmativo, quais? O que via acontecer à histórica marca “que não só fabrica motos, mas cria emoções”?
Muitas questões ainda sem respostas claras e globais. Resta acreditar que pode estar aqui uma possibilidade de a MV Agusta renascer das cinzas e voltar a ter um estatuto de estrela, mesmo que num ambiente complexo e sem poder, nesta fase, dedicar-se à competição com que foi tendo sempre uma ligação quase umbilical.