Há algum tempo, foi feita e detalhada a mesma operação para o pneu dianteiro, sendo que ficou a promessa de proceder de igual modo para o traseiro, que é apresentação que se segue.
Uma vez mais, para esta troca é necessária alguma técnica e atenção, mesmo quando se trata de motos em que tal tarefa é mais simples, caso das motos de enduro ou motocross.
Nas motos de maior cilindrada ou em que a tarefa é mais delicada, exigindo, por exemplo, calibração, faz todo o sentido entregar a profissionais. Porém, saber trocar uma câmara de ar no meio do nada, pode fazer toda a diferença, além de que muitos de nós gostam de “sujar as mãos” e são adeptos “do faça você mesmo”, seja por gosto pessoal ou mesmo para poupar algum dinheiro.
Uma vez mais, a moto volta a ser a Honda CRF 250L, que usa câmara de ar. São apresentados um total de 10 passos, cumpridos com um mínimo de ferramentas, de modo que qualquer um, com um pouco de boa vontade e jeito, o possa fazer.
Uma vez mais, a operação efetuada não é vinculativa, mas pode servir como orientação, mostrando que não é muito demorado ou complexo, desde que se cumpram regras básicas e se dê prioridade à segurança. Na dúvida, peça ajuda a alguém mais habilitado ou entregue a tarefa a um profissional.
Veja também Dicas: Trocar o pneu da frente em 10 passos
1 – Porque vai trocar o pneu?
É aqui que tudo começa. Qual ou quais as razões subjacentes para a troca, mais ainda quando sabemos que os pneus têm vindo a subir significativamente de preço. Desgaste? Furo? Querer montar um pneu com outras especificações? Idade do mesmo?
Neste caso específico o motivo não foi a idade (pode ser lida na lateral em que, dentro de um círculo, estão quatro dígitos, dois para a semana e dois para o ano). Foi mesmo por desgaste. Já estava bastante “coçado”, sem sequer chegar a fazer medições. Na prática, esta é uma matéria em que não se pode facilitar. São os pneus o único contato com o solo e a causa de muitos acidentes.
2 – Que pneu escolher?
Aqui importa fazer o trabalho de casa e não ir completamente às escuras. Importam obviamente os gostos pessoais, talvez o preço e o fim a que se destina. Fundamental também ver a questão das dimensões do pneu (apresentadas no respetivo Livrete/Documento Único), por questões de segurança e também porque será, certamente, um item inspecionado nas futuras Inspeções (IPO), que se prevê começarem em 2024.
Neste caso concreto, as medidas são muito comuns: 120/80R18 e existe imensa oferta no mercado para jante de 18 polegadas nesta relação largura/altura. A escolha acabou por recair num Mitas nas medidas indicadas no manual e no DUA, sendo que se pretendia um pneu misto, mas sem demasiadas aspirações off-road já que a maior parte da sua utilização será em estrada ou num off-road mais light.
3 – Tudo preparado antes de começar
Estamos por nossa conta, mais ainda se não tivermos ninguém para ajudar, nem que seja uma criança pequena ou um animal de estimação como espetador. Há que garantir que tem o material necessário para fazer todas as tarefas. Ferramentas, forma de elevar a moto, compressor de ar ou equivalente e, muito importante, o “manual da moto”. Vai ser-lhe muito útil, pois tem toda a informação, nomeadamente em termos de binários de aperto.
Faça o trabalho num espaço arejado, com muita luz, limpo e com um local específico para ir depositando tudo o que for desmontando, até para garantir que não vão sobrar/faltar peças. Lembre-se que, sobretudo nas primeiras vezes, vai levar mais tempo e exigir mais esforço. Tutoriais online podem ajudar, mas nada vai substituir o seu trabalho.
4 – Processo de desmontagem
Já tem a moto elevada e num local adequado e vai deitar mãos à obra, de preferência com luvas. Alivie o parafuso do eixo da roda (vai estar bastante apertado, pode até necessitar de ajuda) com uma chave adequada e quando retirar o eixo da roda esta ainda não sai, porque a corrente não deixa. Empurre um pouco a roda para a frente para poder desencaixar a corrente da cremalheira e a roda sai sem problemas. Caso sejam retirados, guarde cuidadosamente os esticadores da roda e não troque a sua localização.
Esvazie por completo o ar no interior do pneu/câmara de ar, podendo mesmo desmontar a válvula. Retire o parafuso que impede a válvula de entrar no pneu e mãos à obra. Esta fase é crucial. Sugere-se o uso de três desmontas, dois maiores e um mais pequeno. O trabalho pode ser feito sobre o novo pneu e com o auxílio dos joelhos. Ao contrário da roda da frente, a de trás pode dar mais luta (mais pequena e mais larga) e uma máquina manual de montar/desmontar pneus dá uma boa ajuda.
Especial atenção para não “trilhar” a câmara de ar e para ir fazendo de forma gradual e ir colocando as chaves desmonta, uma a uma, a curtas distâncias. Quando tiver finalizado de um dos lados, retire cuidadosamente a câmara e repita o processo do lado oposto e fica com a jante livre. Respire fundo e saiba que já é uma vitória.
5 – Antes de iniciar o processo inverso
Tal como na roda dianteira, aproveite a ocasião para ver o aperto/tensão dos raios. O tilintar com uma simples chave metálica dá para perceber se estão ok, mas uma chave dinamométrica para verificar os apertos é a melhor solução. Aproveite também a oportunidade para ver o estado dos rolamentos da roda, o desgaste das pastilhas e respetivo disco, a corrente, ver como está a jante, incluindo a fita interior que protege a câmara da cabeça dos raios. Substitua se necessário.
Tenha em atenção o sentido de rotação do pneu (nem todos têm) e, para o processo de montagem ser mais simples, use massa para montagem de pneus. Se não tiver, a utilização de água com sabão em spray pode ser uma boa ajuda. Também deixar o novo pneu ao sol algum tempo antes da montagem pode ser um auxiliar, já que a borracha fica mais flexível.
6 – Montagem do pneu
Estamos na fase mais delicada. Deve ser feita com tempo e ainda mais atenção que o processo anterior. É fácil trilhar uma câmara de ar e ter de repetir todo o processo, com mais uma despesa (há que remende camaras de ar, mas não é muito recomendável e demora algum tempo). Não se apresse, use a máquina, sobretudo na fase final. Se não tiver, use os joelhos e o peso do corpo como apoio e se estiver a fazer mesmo muita força é porque está a fazer algo errado. Faça uma pause. Não há pressa. O que interessa é o resultado. Não está numa prova de enduro em que vai ser penalizado.
Pode optar por inserir logo a câmara na jante ou só depois de ter inserido o pneu de um dos lados. É uma escolha pessoal. Lembre-se ainda que a câmara deve ter um pouco de ar apenas para lhe dar forma. Começar/acabar junto ou afastado da válvula é uma opção pessoal. Se for ver tutoriais vai encontrar soluções distintas. Afinal de contas, não há uma só forma de conseguir o seu objetivo.
Depois de finalizada a montagem da câmara e do pneu é o momento da verdade. Ainda antes de encher a câmara verifique se o alinhamento da válvula foi perfeito e, se necessário, faça uma pequena correção com ao auxílio de ambas as mãos. Neste caso concreto a roda não tem “tranca pneu”, mas se tiver a montagem deve ser ainda mais cuidadosa para não trilhar a câmara de ar e garantir, no final, que o pneu fica bem preso e não se vai deslocar com a força de tração a que vai ser sujeito.
7 – Encher o pneu
Já aparafusou o parafuso que fixa a válvula à jante e agora é que vai saber se não fez asneira. Encher o pneu pode ser feito usando um compressor ou qualquer outra estratégia, mas não encha logo na pressão indicada no manual.
Insufle, por exemplo, até metade da pressão indicada, e verifique se está tudo ok. Pode até dar algumas pancadas com a roda no chão. Se ouvir o ruído do ar a sair é sinal que algo correu mal e o mais provável é ter de repetir tudo. No melhor cenário o problema está na válvula e no pior… causou um furo na câmara de ar.
Neste caso concreto foi mantida a câmara de ar original. Estava em ótimo estado e não era velha. A pressão indicada é de um 1.5 bar e foi a seguida, colocando, no final, a tampa protetora de borracha.
8 – Colocar o pneu no sítio
Se chegou até aqui e correu tudo bem, pode sempre fazer uma paragem para uma bebida fresca! Tenha o manual por perto para ver os valores de aperto dos parafusos e tenha a chave dinamométrica à mão que depois lhe vai servir para outros usos. Uma sugestão é escrever os valores de binário num papel antes de iniciar a tarefa. Assim, evita manchar com óleo o manual da sua moto. Fica a dica.
Aproveite a oportunidade para olhar com mais atenção para a corrente e respetivo desgaste, tal como o da cremalheira e pinhão. Pode ser necessário trocar e a sugestão é trocar todos ao mesmo tempo. Tal como fez para retirar a roda, vai ser necessária inserir a roda na corrente antes de iniciar a montagem.
Só depois se preocupa em alinhar a roda para que o disco entre no respetivo espaço entre as pastilhas de travão. Quando for inserir o eixo na roda, com um pouco de massa lubrificante, não se esqueça de colocar ambos os guias esticadores tal como estavam antes. Só assim vai conseguir garantir o alinhamento da roda. Se for necessário ajustar a folga (os valores constam do manual ou estão mesmo no “guarda-corrente”, como é o caso) é fundamental que fiquem equidistantes nas duas rodas (existem umas ranhuras para esse feito. Em alternativa, uma faça uma medição cuidadosa. Quando finalizar, não tenha ainda pressa em apertar completamente.
9 – Verificações finais
Ainda antes de seguir cuidadosamente os valores de aperto indicados no manual, é chegada a altura de bombear repetidamente o sistema de travagem, através respetivo pedal de travão, para que o circuito hidráulico ganhe pressão, mas esta tarefa tem também outro objetivo.
Ao forçar a travagem repetida vezes, já com a roda no chão, além de criar pressão no circuito, está a garantir que a roda fica devidamente alinhada. Sugere-se até que faça esta operação também em cima da moto e não apenas ao lado. Só depois deve efetuar os respetivos apertos mencionados no manual e considerar que esta etapa acaba.
Por curiosidade, nesta moto em concreto, o binário da porca do eixo é de 88 nm e as duas contraporcas de ajuste da corrente, caso tenham sido ajustadas, têm um aperto de 27 nm. Estes valores são para cumprir com rigor.
10 – Conduzir de novo a sua moto
Falta o derradeiro teste. O momento da verdade em que vai fazer a avaliação na estrada e tentar perceber se está tudo bem. Dependendo do tipo de pneu, sobretudo nos que têm um cardado mais agressivo, não é caso, a traseira da moto pode ficar ligeiramente mais alta.
Lembre-se que um pneu novo vai necessitar de algum tempo de adaptação ao uso (rodagem) e é normal que tenha alguma goma que vai depois desaparecer com a utilização. É aplicada para a preservação do mesmo, uma vez que entre a produção e a aplicação podem demorar vários meses ou até anos.
Por último, ande particularmente atento à pressão nos primeiros dias. Pode dar-se o caso de existir um pequeno furo ou uma válvula defeituosa.
Convém ainda ter presente que um pneu usado não é lixo comum e devem ser reciclados.
Mostra ainda a experiência que nas primeiras vezes pode ser algo mais complexo e demorado, mas depois acaba por ser simples e até uma fonte de alegria ver como apurámos as nossas competências e nos tornamos mais autónomos.