Andámos na CFMOTO 800 MT, uma trail vencedora, que nos surpreendeu favoravelmente, talvez até em maior medida do que o esperado. Concluímos o ensaio dizendo a nós próprios: “esta CFMOTO 800 MT é um caso sério”. Já é tempo de dissipar quaisquer dúvidas sobre a capacidade de um fabricante que, sem uma imagem bem estabelecida no segmento das trails, está a ganhar força e que se mostra ao mercado com esta magnífica carta de apresentação, um modelo que é claramente notável.
Não estamos a falar de um fabricante menor. Fundada em 1989, a CFMOTO ocupa, hoje em dia, uma posição privilegiada entre os gigantes chineses da construção de motos. Em 2019, assinou um importante acordo de parceria com a KTM, ao abrigo do qual fabrica alguns modelos para a marca austríaca, enquanto utiliza motores KTM em algumas das suas próprias propostas. E não nos deveríamos surpreender, nem com o nível de qualidade alcançado pelos seus produtos nem com as semelhanças, por exemplo, entre a KTM 790 Adventure e esta CFMOTO 800 MT, ambas equipadas com o mesmo bilindrico de 799 cc.
A partir deste experimentado e testado motor, a CFMOTO seguiu outro caminho de desenvolvimento, criando esta moto com o envolvimento de uma terceira empresa, também ela resultante da ligação austríaca: o famoso estilista Kiska, responsável por inúmeros trabalhos realizados sob as diretrizes da KTM e Husqvarna. E o resultado é um modelo que corresponde à Adventure em alguns detalhes – a altura do assento, por exemplo – é mais longo e um pouco mais leve, tem uma capacidade de depósito menor e está equipado com uma suspensão Kayaba com menos curso do que a WP. Para nós, este modelo provou ser uma verdadeira fonte de agradáveis surpresas, especialmente em termos de posição de condução, conforto, desempenho, facilidade de utilização e equipamento. E esta proeza é digna de registo…
EQUIPAMENTO DE GRANDE NÍVEL
Antes de mais, descobrimos um depósito muito estreito à altura dos joelhos, que se encaixam perfeitamente nele. O guiador é talvez um pouco curto e, embora no início pareça que está fora das suas mãos, depressa se habitua às suas dimensões, que são tão contidas como as das manetes. O assento, por outro lado, é exemplar em termos de altura, amortecimento, tamanho e forma. A chave de ignição permite retirar a metade traseira e, no seu interior, encontra-se um conjunto de sete ferramentas com a devida capa com velcro. Uma vez retirada esta parte (a da frente é aparafusada), deparamos-mos com a bateria, posicionada num local pouco habitual, mas de muito fácil acesso, embora não deixe espaço livre para nada.
O que não é nada confortável é a operação de retirar a borracha dos apoios para os pés. Pois ao contrário dos habituais parafusos Allen ou da simples pressão, aqui está um par de parafusos de estrela antiquados que os prendem à zona de fixação. Felizmente, o padrão do piso e a espessura dos próprios pneus são relativamente compatíveis com a utilização de botas de todo-o-terreno, pelo menos no piso seco. O pedal do travão tem um apoio fixo, tal como a alavanca de mudanças, mas que é generosamente dimensionada e dentada de forma aceitável.
EQUIPAMENTO
O indicador dos piscas e o cruise-control não são um prodígio de funcionalidade, mas a buzina, por outro lado, destaca-se bastante e está perfeitamente ao seu alcance. O ecrã TFT de 7” deve ser suficiente para assegurar a boa legibilidade da informação oferecida, embora a tipografia e o tamanho das letras e números não ajudem. Avisos importantes, como o que lembra que o descanso está colocado, podem passar despercebidos… algo que parece impossível de acontecer numa KTM, onde são exibidos de forma mais explícita e apelativa. Um ponto positivo para a segurança é o facto de estar equipado com pneus sem câmara e a pressão é exibida no ecrã. Estes detalhes, bem como o referido cruise-control, fazem parte do equipamento de série. Além disso temos ainda os punhos e assento aquecidos; descanso central; proteções laterais; Quickshifter (que funciona lindamente); luzes de nevoeiro; USB (2); tomadas de 12V e suportes para malas. As ditas malas opcionais estão impecavelmente acabadas, não sobressaem excessivamente dos lados e podem ser retiradas sem dificuldade, o que nem sempre é o caso com alguns modelos até de estatuto mais elevado.
TRAIL FÁCIL
A CFMOTO 800 MT é muito manobrável, confortável, agradável e fácil de conduzir, de forma a que se possa habituar rapidamente à sua montada. Consideramo-lo um meio de transporte ideal, porque oferece um elevado grau de conforto, não só para o condutor, mas também para o pendura. A altura do para-brisas pode ser ajustada por meio de dois simples botões laterais e, na posição mais elevada, a sua cabeça está completamente protegida do vento, mas ao mesmo tempo é suficientemente baixa para que se esqueça que esta existe quando a conduz fora de estrada.
Embora a embraiagem seja um pouco estranha na sua resposta, a caixa de velocidades é perfeita no seu manuseamento, sendo suave e precisa como poucas outras e proporcionando uma localização fácil e imediata do ponto-morto.
Mas e o motor? Vejamos. Tem duas modalidades de condução à sua disposição: Rain e Sport. No primeiro descobre-se um motor mais preguiçoso, lento, com uma resposta pouco refinada quando se trata de subir de rotação e que também não se “estica” muito, mas que tem uma gama média poderosa.
Em estrada notámos um certo nível de vibração a partir dos 150 km/h, enquanto que, fora de estrada e com os pneus originais mistos, basta uma pitada de entusiasmo ao rodar o acelerador para gerar uma escorregadela violenta da roda traseira. Embora bem controlado, é meio caminho andado para colocar em sentido alguns condutores menos experientes. Para eles, e dado que a CFMOTO 800 MT não tem controlo de tração, o nosso conselho é inequívoco: ao sair de estrada, esqueça completamente o modo desportivo e selecione o Rain! É muito mais progressivo e suave, resultando em menores perdas de tração e em derrapagens mais contidas que apresentam menor risco. Embora, neste caso, apreciássemos uma subida de rotação mais fluida e linear até atingir os médios regimes, precisamente os que mais irá utilizar, já que somos auxiliados por um elevado binário que favorece a condução “automática”, com quase nenhumas trocas de relação.
ÁGIL
A agilidade de todo o conjunto vem à tona desde o primeiro momento. A CFMOTO é boa a curvar, muda de direção obedientemente e, embora não exibindo uma extrema rigidez do quadro, é estável e com o grau de equilíbrio necessário. Fora de estrada, a posição de condução, especialmente quando se rola em pé, está perto da perfeição e a moto é mesmo muito divertida de conduzir. Não se sente pesada, não cansa e inspira muita confiança (exceto, talvez, pelo facto de o ABS traseiro não poder ser desativado). Com o travão dianteiro, que tem um desempenho excelente, não há nenhum problema de maior. Mesmo em terrenos muito escorregadios a ação do ABS é bem recebida; é também evidente que o baixo centro de gravidade também facilita a condução lenta e trialeira, onde a estabilidade verdadeiramente exemplar também sobressai.
Quanto à suspensão, tivemos a oportunidade de testar duas unidades diferentes da MT 800 Touring e enquanto a primeira mostrou uma certa tendência para saltar de traseira, a segunda deu conta de um comportamento saudável e equilibrado, muito neutro nos saltos, o que nos leva a concluir que se tratava simplesmente de uma questão de afinação.
Por Carlos Larreta
Fotos Israel Gardyn
CONCLUSÃO
Não é fácil penetrar num segmento tão competitivo como o das trail, mas a CFMOTO tem implantado uma série de argumentos que, sem dúvida, fazem da sua proposta uma aposta segura. A Touring está cheia de argumentos e o sorriso que deixa no rosto quando a conduz não é coincidência. Portanto, não sejamos preconceituosos; esta é uma moto que pode colocar as suas rivais em apuros.
RIVAIS
BMW F 850 GS
Um motor muito forte que oferece um desempenho brilhante, mas também dá conta de um equipamento limitado, que terá de complementar pagando pelos extras
Moto Guzzi V85 TT Centenario
Com um preço ligeiramente mais baixo do que a BMW, apresenta um bom conforto e uma acrescida facilidade de utilização, bem como cursos de suspensão comedidos
FICHA TÉCNICA
CFMOTO 800 MT TOURING
Motor Bicilindrico paralelo, 8v, Refrigeração líquida
Cilindrada 799 cc
Potência 95 CV às 9.000 rpm
Binário 77 Nm às 7.500 rpm
Limitável a A2 Sim
Caixa 6 velocidades, quickshift
Velocidade máxima n.d.
Quadro Multitubular, motor portante
Suspensão dianteira Forquilha invertida Kayaba, 43 mm, ajustável, curso 160 mm
Suspensão traseira Amortecedor Kayaba ajustável na pré-carga, curso de 150 mm
Travão dianteiro Dois discos de 320 mm, pinças radiais de 4 pistões, ABS
Travão traseiro Disco de 260 mm, pinça de 2 pistões, ABS
Pneu dianteiro 100/80-19”
Pneu traseiro 150/70-17”
Distância entre eixos 1531 mm
Altura do assento 850 mm
Peso (a seco) 231 kg
Depósito 19 litros
Consumo n.d.
PREÇO 11 9709€ (TOURING); 10 980€ (SPORT)