Permitam-me, antes de mais, fazer uma nota prévia. Conhecia a marca Icon (não confundir com a francesa Ixon), mas admito que nunca tinha usado antes qualquer equipamento deste fabricante! Afinal de contas, estamos a falar de uma marca com apenas 20 anos de existência e em que a divulgação no nosso país tem sido diminuta, apesar do seu elevado potencial!
Assim, quando me preparei para a aventura do Lés-a-Lés (LaL) assumo que estava um pouco apreensivo, até porque recebi o equipamento da Parts Europe poucos dias antes e não tive tempo para lhe fazer uma “rodagem” maior. Afinal de contas, pelo menos o capacete e as botas, necessitam de um período de adaptação à nossa fisiologia e pode não ser boa ideia começar logo por um LaL!
Por outro lado, o facto de o site não ter informação disponível em Português (aspeto a rever) pode deixar apreensivo alguns dos consumidores, a que acresce o facto de, segundo a informação disponível na Internet, apenas ter disponíveis 12 agentes “físicos” em Portugal, fora os online.
Capacete Icon Variant Pro
A escolha de um capacete deve obedecer a vários critérios que vão desde a questões de natureza estética, passando pelas cores, o fim a que se destina e até mesmo o orçamento para a compra do mesmo, sendo que não recomendo a compra de capacetes usados, mesmo que em bom estado aparente, sobretudo se for para um uso mais intensivo.
Por gosto pessoal e tendo presente o formato do LaL, escolhi um capacete mais do tipo “aventura”. A opção por cores claras deve-se ao facto de aquecer menos e ser bastante visível em todas as circunstâncias, algo que valorizo.
O Icon Variant Pro correspondia às minhas exigências com a aliciante de ter um aspeto “cru”, sem pintura, deixando ver a construção artesanal da calota exterior, algo que me agradou imenso e deixou de boca aberta várias pessoas a quem já o mostrei. Ou se gosta ou se detesta! O facto de ter um formato mais “ovalóide” potencia ainda a estética diferente e até agressiva do modelo.
Não é um capacete leve (pesa cerca de 1700 g) e é tricompósito (fibra de vidro, dyneema® e fibra de carbono), sendo bem construído, bastante robusto e ventila bem com 8 canais de entrada e 2 de saída (amplamente testado num LaL com calor como não há memória). Sobre o facto de ser ou não silencioso não me posso manifestar muito porque as velocidades a que andei até agora não foram muito elevadas e o próprio facto de ter uma pala dianteira não ajuda.
O tamanho XL (perímetro da cabeça próximo dos 62 cm) assentou-me perfeitamente e rapidamente se tornou confortável, mais depressa até do que estava à espera e é por aqui que dou uma nota mais positiva ao conforto do mesmo, ajudado pelo tecido hydradry® que ajude à comodidade e a evitar a transpiração. O sistema de fecho é o comum anel em duplo D.
Estranho não ter uma viseira solar (não tenho hábito de usar óculos de sol) e assim torna-se necessário manter a pala (muito fácil de remover). Também não vem com pinlock, mas indica que a viseira tem um tratamento prévio para o mesmo efeito (fog-free Variant Pro). A testar quando vier o tempo mais fresco. Sem a pala quase parece outro capacete!
Depois do LaL, retirei os interiores para lavagem manual (como sempre faço a todos os meus capacetes e recomendo), limpei novamente a viseira (continua excelente), tal como o exterior e a minha opinião, para já, é muito positiva. Veremos como resiste ao desgaste, mas para isso necessito de mais tempo.
O preço recomendado, de acordo com a Parts Europe, é de 333,14€, mas com IVA a 19%.
Botas Icon Stormhawk Waterproof
É uma parte do equipamento que muita gente não valoriza (e nem sequer usa, como vejo todos os dias e presenciei também no LaL), mas depois do capacete e das luvas, que são inseparáveis, é um elemento fundamental do nosso equipamento técnico que custa até a aceitar como pode ser tão negligenciado.
Não se trata apenas uma proteção para situações de queda, mas é também uma questão de conforto e bem-estar para os nossos pés que “sofrem” imenso quando andamos de moto: com o calor, com o frio, com a humidade, com as constantes solicitações no movimento de “sobe e desce” do pedal das mudanças (caixas automáticas e sistemas similares aqui são uma bênção) ou a efetuar a travagem da roda traseira…
Adoro botas e verifico, com agrado, que o mercado oferece uma grande diversidade de produtos, com especificações adequadas ao uso que se pretende dar. Há artigos para todos os gostos e sendo considerados como EPI (equipamentos de proteção individual) isso significa que oferecem uma segurança adicional e uma robustez que o calçado tradicional não tem e ajuda a perceber os custos de aquisição mais elevados.
A escolha das Icon Stormhawk Waterproof teve a ver, sobretudo, com 4 exigências: queria umas botas robustas, confortáveis, à prova de água e respiráveis. Depois do LaL posso afirmar que cumprem os 4 requisitos! No caso específico da água foram testadas na chegada ao palanque da Covilhã (estava um calor tremendo) em que estive debaixo de uns aspersores vários minutos e os pés continuaram enxutinhos!
A opção pelo número 44 (calço 43,5, em regra) revelou-se adequada e o período de habituação às mesmas foi rápido. São umas botas algo aparatosas, sem exageros, mas confortáveis e muito fáceis de (des)calçar. O sistema de (des)aperto por meio de “rodinha” (BOA®) é prático, mas exige alguma habituação: empurra-se a rodinha para dentro, roda-se no sentido dos ponteiros do relógio e aperta. O processo inverso usa-se para desapertar. Bem mais eficaz e seguro do que os tradicionais atacadores, fecho de correr ou velcro. Sou fã deste sistema há vários anos e nunca tiver uma falha do mesmo.
Quando as recebi, para remover o “cheiro a novo”, a melhor opção é simplesmente deixar que fiquem uma noite a “arejar” e no dia seguinte, como que por milagre, o cheiro desaparece e estão prontas para a ação e as botas “Falcão da Tempestade” são destinadas a isso mesmo!
Sem entrar em demasiados detalhes técnicos, são construídas em pele, com inserções laterais em D30®, membrana respirável, sistema de aperto BOA®, zona refletora na traseira e uma sola “à prova de bomba”! Além disso, estão certificadas pela Norma EN 13634:2017, o que representa uma garantia adicional.
Chegaram ao final do LaL (cerca de 2400 km’s, em 5 intensivos dias), foi só limpar o exterior com um pano húmido, tal como a robusta sola e estão prontas para outra, sendo que não se nota qualquer desgaste, nem mesmo nas solas ou na zona do pé esquerdo, que usei intensivamente para movimentar o pedal das mudanças!
Mesmo sendo umas botas “4 estações”, considero que para um uso diário em clima quente podem existir escolhas mais adequadas ou mesmo optar por este modelo numa cor mais clara, como o cinza, mas isso não invalida que sejam de facto uma excelente opção.
O preço recomendado, de acordo com a Parts Europe é de 202,24€, mas com IVA a 19%.
Texto: Pedro Pereira