A última da sua espécie
Se em Itália sempre houve uma longa tradição de motos super-desportivas de dois cilindros, por que não fazer algo para enfrentá-las? Moto de nicho, a 1125R e a sua versão naked (CR) foram os últimos produtos do carismático fabricante norte-americano Buell, sob a alçada da Harley-Davidson, antes da marca fechar portas.
POR Jesse Mach • Fotos Paloma Soria
No final da primeira década de 2000, a Buell apresentava a sua gama mais completa de motos, com quase uma dezena de modelos bicilíndricos de grande cilindrada. As Lightning, naked´s equipadas com um motor Sportster de 900/1200 cc refrigerado por ar, a Ulysses, uma trail de asfalto e a 1125R como navio almirante, a primeira Buell refrigerada por líquido. Apenas foi comercializada em preto, branco e vermelho, o seu desenho não foi do agrado de todo o público e as suas soluções técnicas marcaram a diferença.
As motorizações de dois cilindros sempre foram muito bem vistas nos EUA, mas do ponto de vista europeu as coisas são diferentes. Erik Buell mostrou a sua proposta em forma de moto desportiva para o seu mercado, além de ser uma variante para competir nos campeonatos americanos de velocidade dessa época. Nessa altura, a Harley Europa colocou também em andamento as chamadas BBQ Series, um troféu monomarca com duas categorias para que os clientes pudessem correr com a Buell 1125R e Harley XR1200, lcom um nível de preparação mínimo.
A Buell 1125R destaca-se pela sonorização rouca e profunda, pela excelente maneabilidade (graças à curta distância entre eixos) e também, por algum nervosismo do trem dianteiro, devido a uma geometria algo radical, embora o funcionamento da forquilha minimize tudo isto quando se roda ‘a sério’. O motor conta com uma dose de baixos e médios regimes que nos catapulta até à curva seguinte, sendo a capacidade de fazer recuperações também muito melhor que em outras motos da concorrência.
Técnica Buell
A 1125R rompeu com a tradição da marca em equipar motos com o bicilíndrico em V a 72 graus, com dupla árvore de cames, refrigeração líquida e cabeça de quatro válvulas. O desenvolvimento foi realizado pela Buell, mas a produção ficou a cargo da conhecida empresa austríaca Rotax, sendo os corpos de admissão de 61 mm da Dell’Orto, enquanto que o motor completo pesava 71 kg. A caixa é de seis velocidades e adota uma embraiagem deslizante HVA (Hydraulic Vacuum Assist).
Em termos de ciclística, Erik foi fiel à sua tecnologia IRC (Intuitive Response Chasis), pelo que integrou o depósito de combustível no interior das vigas de alumínio do quadro. Pesa menos 4,5 kg do que a geração anterior com o mesmo comprimento, sendo mais largo para poder albergar 21 litros de gasolina. Outra modificação importante é que, neste caso, o braço-oscilante já não desempenha as funções de depósito de óleo do motor. A geometria da moto é muito agressiva e a sua configuração permite colocar o motor muito adiantado no quadro, com o objetivo de alcançar um centro de gravidade muito baixo, com 54% do peso no eixo dianteiro.
O impressionante trem dianteiro da 1125R é constituído por uma forquilha invertida de 47 mm, desenvolvida pela prestigiada marca Showa, e caracteriza-se pelas suas hastes em titânio e regulação na pré-carga da mola, compressão e extensão. O travão dianteiro perimetral ZTL (Zero Torsional Load) foi também sempre outra das senhas de identidade da Buell. O objectivo prende-se com a redução da massa não suspensa e, neste caso, usando uma exclusiva pinça Nissin de oito êmbolos.
Outra das particularidades da Buell 1125R é a sua transmissão secundária por correia dentada, o duplo radiador lateral de refrigeração, o escape curto sob o motor, o amortecedor traseiro horizontal sem bielas e a aerodinâmica muito trabalhada.
Às motos Buell podem ser apontadas muitas críticas, mas não há dúvida de que Erik atreveu-se a levar a cabo um sonho de construir algo diferente, acreditando em soluções diferentes numa plataforma custom como base, ao longo dos últimos 30 anos. Uma marca única no segmento das duas rodas e muita coragem por parte do visionário Erik Buell.