Hoje apetecia-me mesmo ficar mais um bocadinho na cama! É claro que não perdi a vontade de ir andar de moto, mas não posso negar que já sinto algum cansaço e mesmo que não dormisse mais nada, a verdade é que os lençóis eram bastante convidativos.
A moto, agora já bastante empoeirada, está à minha espera, sorridente e a convidar-me para irmos os dois fazer mais km’s e sermos muito felizes! Como recusar um convite destes?! É bom ter uma amiga colorida assim!!!
Mais uma vez, o nosso caminho é para Sul! Logo pela manhã o sol mostra-se de frente e entre os óculos e a pala do capacete tentamos encontrar uma posição que nos permita maior conforto visual e, ao mesmo tempo, nos deixe visualizar os trilhos. É mesmo sol de Outono! Baixo e direto! Mesmo a lente fotossensível não faz milagres!
A etapa de hoje é muito diversificada, em boa medida também por causa da ação humana à volta da Barragem do Alqueva. O que há algumas décadas era pouco mais que deserto são agora campos a perder de vista com agricultura mais ou menos intensiva: olivais, amendoeiras, vinha…
Mais tarde tudo muda. Por conhecer minimamente alguns destes trilhos que separam a serra algarvia/alentejana adoto uma postura ainda mais defensiva e cuidadosa. Há piso mais escorregadio e arenoso, várias descidas com significativa inclinação, mas há um elemento que deve chamar ainda mais a nossa atenção: muitas curvas e de várias tipologias!
As curvas são, para quem gosta de andar de moto em todo-o-terreno, um dos elementos mais desafiantes e que maior gozo pode proporcionar. Porém, implicam alguma técnica para serem executadas e aqui a Africa Twin exige mais alguns cuidados, mais ainda porque estou mais familiarizado com uma moto muito mais leve, não tenho assim tanta técnica e mesmo a preparação física podia ser melhor! Além disso há piso escorregadio e improvisar numa moto deste porte nem sempre é fácil…
Numa paragem para tirar algumas fotos, cheirou-me vagamente a mar! Isto significa o óbvio, sem sequer ter que olhar para o GPS. Estamos quase a chegar ao final da última etapa! Vila Real de Santo António está muito próxima e não me engano! Estamos mesmo no final da jornada!
Quando chego ao palanque há uma multitude de sensações: alegria por chegar ao fim são e salvo, misturada com tristeza por estar a acabar!
Quem me dera ter tempo para amanhã fazer um pouco do regresso até à capital também por fora de estrada, mas a dura realidade é outra e não será possível, além de que estou fora de casa há vários dias! Para piorar o sentimento, os pneus estão ambos em muito bom estado pelo que era mais um motivo para regressar a Lisboa “por maus caminhos”, mas são trocados pelos estradistas no fim da etapa. Muito obrigado!
Acima de tudo estou feliz por ter chegado ao final e é esse o sentimento dominante em toda a gente, o que não invalida que não possam existir aspetos a melhorar para a edição do próximo ano, como as muitas ligações por alcatrão, em parte também por causa do Instituto da Conservação da Natureza, mas o balanço global é altamente positivo e temos que fazer mais em prol do ambiente, caso da campanha de reflorestação a que a FMP se associou.
Amanhã contarei o regresso, sendo que a crónica detalha fica para a sua Revista Motos de novembro.
Até amanhã e obrigado por nos fazerem companhia! Sem vocês isto não tinha graça nenhuma!
Texto e fotos: Pedro Pereira