António Zambujo canta De manhã cedinho eu salto do ninho / E vou pra paragem… Estou quase assim! Não vou para a paragem, mas não me quero atrasar! O alojamento onde fiquei é agradável, mas tenho que ir, não para a paragem à espera do 7, mas para Mirandela e iniciar a viagem rumo a Sul!
É domingo. A quietude é grande, o dia acordou fresco e soalheiro, mas sei que esta paz não vai durar muito e assim que chego a Mirandela ao palanque a azáfama é enorme, como seria de prever!
Faço um ligeiro aquecimento, alguns alongamentos e assim que chega a minha vez, ligo o GPS que me vai guiar nos próximos dias, seleciono o modo de condução que me permite desligar o abs na roda traseira e faço-me aos trilhos! Daqui para a frente é a sério e os pneus são novinhos! Adoro a sensação de usar pneus novos porque dão uma confiança incrível e melhoram muito a sensação de controlo da máquina.
Os primeiros km’s são de habituação e aquecimento, mas rapidamente apanhamos o ritmo e mantemo-nos fiel a ele. Sei por experiência própria que é vulgar, sobretudo no começo, haver quem conduza de forma mais exuberante e até agressiva, mas não me preocupa. Será adrenalina, testosterona ou apenas excitação? Um pouco disso tudo?
Não quero nem saber, vou focado na condução, a desfrutar dos trilhos e das paisagens, além de que prometi a mim mesmo que vou tentar evitar cometer exageros que coloquem a minha integridade em risco ou a dos outros, além de que a recuperação, à medida que os anos passam, começa a ser mais lenta. Dever ser a velhice a chamar por mim! Também acontece convosco?
É delicioso ver como a vegetação se altera de uns lugares para os outros, como a ação humana, por exemplo no Douro Vinhateiro, é omnipresente e noutros locais quase inexistente! Regra geral, os trilhos são mais que bons e uma ou outra pequena armadilha que possa existir é mesmo para nos fazer voltar à realidade. Estamos a conduzir em off-road!
Quase sem dar por isso, o GPS indica que estamos próximos do destino! Fiz apenas três ou quatro paragens pelo caminho para me alimentar, beber líquidos e abastecer uma vez. Se fosse numa ligeira moto de enduro teria abastecido pelo menos duas vezes e talvez até uma terceira, mas reconheço que em caminhos mais técnicos e lentos menos peso e inércia fazem toda a diferença!
Percorri a etapa de forma até bastante conservadora, como que a poupar energias e a evitar riscos inúteis, mas o mais importante é que me diverti imenso e estou pronto para mais uma etapa, apesar de ter engolido mais pó do que gostaria, mas também faz parte!
Após o final da jornada, recolho a minha bagagem, aceito o convite para uma cerveja fresca, e depois vou em direção ao alojamento tomar um bom banho. Vou aproveitar para escrever e publicar esta crónica, lubrificar a corrente e fazer uma inspeção sumária à moto…
Foi verdadeiramente um dia de emoções!
Até amanhã
Texto e fotos: Pedro Pereira