Recordar – Yamaha XT 350: No pós Segunda Guerra Mundial o Japão, profundamente devastado com o conflito, rapidamente recuperou e começou a reerguer toda a sua indústria em várias áreas, incluindo nas motos, sendo que na década de 70 já era um colosso. A família XT, que podemos traduzir por “Cross-Trail”, teve um papel importante na afirmação da Yamaha, sobretudo nos motores a quatro tempos, sendo que ao nível das motorizações o terreno já estava desbravado pelas DT (Dual Terrain).
POR: Pedro Pereira
FOTOS: Paulo Calisto
A Yamaha XT 350, que apresentamos nestas páginas, não foi a primeira da sua espécie, até porque chegou ao mercado apenas em 1985, mas pelo menos em Portugal foi, provavelmente, uma das mais populares, sendo uma “dual purpose” muito equilibrada e acessível. De tal forma que foi a primeira moto para muitos motociclistas, que procuravam um pouco mais que as 50 ou 125 cc, a dois tempos.














História da Yamaha XT
A Yamaha não foi das primeiras marcas japonesas a investir nos motores a quatro tempos. As suas rivais Honda, Kawasaki e Suzuki estavam mais avançadas e já tinham lançado modelos emblemáticos, como a família CB da Honda, que estavam agora a dizimar a concorrência, nomeadamente a europeia e norte-americana.
Cientes desse facto, em Iwata decidiram percorrer um caminho diferente e procurar algo que o mercado ainda não oferecia: uma moto com motor a quatro tempos, ligeira, robusta, capaz de se aventurar pelos caminhos mais inóspitos e explorar os trilhos mais exigentes. Ao que consta, parte da decisão foi tomada porque os norte-americanos pediam uma moto desse perfil, sem os inconvenientes dos motores a dois tempos ao nível de consumos ou ruído e o mais fiável possível.
A primeira XT ficou disponível em 1976 e foi um choque tremendo. O seu monocilíndrico a quatro tempos debitava cerca de 28 cv, o peso era contido e a diversão estava garantida sendo que o sucesso, primeiro nos Estados Unidos e depois na Europa, excedeu as melhores expetativas. Aliás, após as vitórias nos dois primeiros Ralis Paris-Dakar em 1979 e 1980, pelas mãos do francês Cyril Neveu, a sua afirmação era já uma certeza.
Daí para a frente tudo mudou, mas coube à Yamaha, com a XT, desbravar o caminho e fazer algo que ninguém tinha feito antes, sendo que foram lançando sempre diferentes declinações de “cross trail”, com motores a quatro tempos. A XT 350, que veio na senda da anterior 250, foi lançada no meado da década de ’80 e a sua produção manteve-se até ao ano 2000, praticamente sem alterações que não fossem cosméticas. Confiança no produto ou teimosia? Talvez um pouco de ambas.
XT 350: pau para (quase) toda a colher
Com uma estética “refrescada”, tendo abandonado o tradicional farol redondo e sem carenagem, a XT 350 tinha tudo para agradar. Destaque inequívoco para o monocilíndrico com 346 cc refrigerado a ar, com 4 válvulas por cilindro, comandadas por uma dupla árvore de cames (dohc) e alimentado por um carburador de “duplo corpo” (YDIS) que mais parece serem dois carburadores independentes, mas não são. Interessante também o facto de ter dois coletores de escape, apesar de ter apenas um cilindro.
Debitando cerca de 30 cv e um binário de 29 Nm, era capaz de uma velocidade de ponta de quase 140 km/h, mas a velocidade de cruzeiro ficava abaixo disso, entre os 100 e 120 km. Os valores não são surpreendentes, até porque o peso total aproximava-se dos 140 kg a cheio, mas eram francamente interessantes e como era económica (consumos abaixo dos 4 litros sem dificuldade), os 12 litros do depósito davam facilmente para 250 km ou mais.
A moto era robusta, tinha elevada altura ao solo e boa capacidade de carga, incluindo para pendura e bagagens. Aliás, foi a primeira moto “a sério” de muita gente que ia nela para todo o lado, dentro e fora do asfalto. Mesmo com as suspensões de origem, muito macias, era possível fazer percursos de enduro, graças à elevada altura ao solo, embora implicasse especial atenção ao sistema de travagem, nomeadamente na roda traseira, que tinha instalado um sistema de tambor.
Equipada com jantes de 21 e 18 polegadas estava também garantido a oferta de pneus para todos os gostos. Acresce que tinha padrões de cores atraentes, que foram mudando ao longo dos anos, manómetros e instrumentos bastante completos e até uma grelha traseira, para o transporte de bagagem.
Impressões de condução
Este exemplar que aqui usamos, propriedade do Jacinto Paixão, foi matriculada em 1989 e está com um bom aspeto, embora tenha as normais marcas do tempo, podem chamar-lhe “patine”, mas como nunca foi restaurado não há como negar que tem uma ótima presença e está pronta para a aventura.
A posição de condução é a de uma pura trail e, ao contrário do que muita gente pensa, é facílima de colocar em funcionamento (nunca chegou a ter motor de arranque). Rodar ignição, abrir a torneira de gasolina, “puxar o ar“, se o motor estiver frio, não tocar no acelerador e com a bota direita ir fazendo movimento suaves, mas completos, em busca do “ponto morto superior”. Nessa altura basta fazer um movimento descendente mais decidido com a perna e o motor arranca naturalmente. O facto de o descompressor ser automático (um pequeno cabo de aço ligado do pedal a um martelo de uma das válvulas de escape) dá uma boa ajuda.
Seja a quente, seja a frio, costuma ser uma brincadeira colocar o motor a trabalhar, mas se “afogar” por excesso de gasolina, má afinação ou simplesmente deixar tombar a moto… aí tudo se torna mais complicado. Foi pena a marca nunca a ter dotado de motor de arranque e, já agora, um travão de disco atrás, como fizera a Suzuki com a sua DR 350, sua grande rival à época.
Em andamento sentimo-nos bem aos comandos desta trintona simpática e divertida, embora as suspensões sejam nitidamente macias de origem. A caixa de seis velocidades está bem escalonada e o motor sobe bem de rotação, sendo que a não vale a pena explorar muito mais das 7.000 rpm, apesar da zona vermelha apenas começar às 8.500 rpm.
O cantar do monoclíndrico é agradável e a ponteira de escape não o abafa em demasia, algo impensável nos dias de hoje, com todas as restrições ao nível de ruído. Por outro lado, quando atingimos as rotações médias o carburador de duplo corpo admite mais gasolina e parece que o motor ganha uma nova vida, apesar dos consumos se ressentirem e haver o risco, real, de consumir algum óleo, se andarmos nesses regimes com regularidade.
Notas finais
Há muitos anos que não conduzia uma Yamaha XT 350 e recordar é viver. Voltar a andar numa é uma viagem no tempo para trás, que faz perceber um pouco mais os seus encantos e limitações, sendo que só agora começa a ser apreciada, ainda que seja bastante vulgar e fácil de encontrar no mercado.
Yamaha XT 350
Pontuação:
Estética | 3,5 |
Prestações | 4 |
Comportamento | 3,5 |
Suspensões | 3 |
Travões | 3 |
Consumo | 4 |
Preço | 4 |
Ficha técnica:
Motor | 1 cilindro, quatro tempos, refrigeração a ar |
Distribuição | 4 válvulas, duas árvores de cames |
Cilindrada | 346 cc |
Potência | 31 cv às 7500 rpm |
Binário | 29,5 Nm às 7000 rpm |
Embraiagem | Multidisco em banho de óleo |
Final | Por corrente |
Caixa | Seis velocidades |
Arranque | Por pedal |
Quadro | Tipo diamante em tubos de aço |
Suspensão dianteira | Forquilha telescópica |
Suspensão traseira | Monoamortecedor tipo Monocross |
Travão dianteiro | Disco de 220, pinça de pistão simples |
Travão traseiro | Tambor |
Pneu dianteiro | 90/90 – 21” |
Pneu traseiro | 110/80 – 18 |
Comprimento total | 2210 mm |
Largura total | 865 mm |
Altura total | 1210 mm |
Distância entre eixos | 1420 mm |
Altura do assento | 855 mm |
Peso | 140 Kg (a cheio) |
Depósito | 12 litros |
Cores | Vermelho e Branco, mas variável ao longo dos anos |
Importador | Yamaha Portugal |
PVP | 663 contos em 1990 (cerca de 3315€) |