Ao longo dos últimos anos temos visto cada vez mais unidades das Yamaha R1 nas grelhas de partida do campeonato do mundo de SBK e nos campeonatos nacionais, e isso não será ao acaso. Para manter o bom nível do modelo, a marca japonesa renovou mais uma vez as suas motos (R1 e R1M), que surgem agora já homologadas com a norma Euro 5.
Por Fernando Neto
Fotos Yamaha
A Yamaha tem orgulho em estar presente em todos os segmentos de motos desportivas, através das suas R125, R3, R6 R1 e R1M, através das quais está presente em inúmeros campeonatos por todo o mundo. As percentagens de vendas são equilibradas entre todos os modelos, com números ligeiramente superiores para as máquinas de baixa cilindrada, mas voltando às R1, foi em 2015 que a última grande revolução foi feita, para em 2018 terem surgido algumas melhorias. Para este ano a novidade foi o lançamento da exclusiva versão de aniversário GYTR, enquanto para 2020 temos então as motos destas páginas, com que já andámos. Desde 2015 não faltaram diversos títulos em campeonatos internacionais, incluindo no Endurance, mas mesmo se o campeonato mundial de SBK tem faltado, importa dizer que nas últimas duas temporadas 25 pódios já foram obtidos e que a R1 representa 25% da grelha do mundial, com as suas cinco motos. E mais, observando as principais classes dos campeonatos italianos, espanhol, francês, alemão e britânico, a Yamaha R1 representa 42% dos modelos na grelha de partida. Por alguma razão será.
O novo modelo
A marca refere que grande parte do consumidor final que adquire a R1 acaba por utilizar a moto em estra e em pista, mas a influência na M1 de GP continua a ser notória, mesmo se a mais recente geração já é um modelo Euro 5 (a primeira Yamaha na gama a cumprir), tendo sido melhorado em todos os campos. Em termos de motor a potência manteve-se nos 200 cv (às 13.500 rpm), sendo o binário máximo de 113,3 Nm às 11.500 rpm, através de um formato crossplane que pretende oferecer uma superior tração e carácter. Em termos de melhorias no tetracilíndrico, as cabeças dos cilindros foram revistas, com uma admissão mais curta e cames redesenhadas; e o sistema de injeção foi também melhorado para uma melhor combustão e resposta. Por outro lado, e para cumprir as apertadas normas ambientes, o sistema de escape em titânio conta agora com 4 catalisadores no seu interior. O sistema de lubrificação foi melhorando, tentando melhorar ainda mais a fiabilidade e reduzir as perdas de potência nas rotações mais elevadas.
Eletrónica
A aposta na eletrónica continua em força, através de uma unidade de medição de inércia de 6 eixos, pelo que temos possibilidade de ajuste dos modos de potência (PWR), controlo de tração (TCS), controlo de deslizamento (SCS), controlo do arranque (LCS, que foi ajustado), controlo de “cavalinho” (LIF) e ajuste do quickshifter bidirecional (QSS). A tudo isto junta-se agora o controlo do travão motor (EBM) e o controlo de travão (BC), uma unidade de ABS leve e que agora oferece uma maior sensibilidade em curva. O acelerador ride-by-wire é agora totalmente eletrónico, com um sensor magnético no punho e a ECU tem uma nova função de diagnóstico por causa do Euro 5.
Em termos de conjunto exterior, as carenagens foram revistas para uma melhor aerodinâmica, sendo o ecrã também mais elevado para uma melhor proteção. A iluminação foi melhorada, a entrada de ar frontal é agora em alumínio para uma maior rigidez e estabilidade a velocidades elevadas e vários painéis junto ao depósito e ao escape foram revistos.
Quanto à ciclística, continuamos a encontrar inúmeros componentes em alumínio, jantes e sub-quadro em magnésio, e uma nova forquilha KYB de 43 mm, com uma nova válvula interior, para assegurar um melhor feedback. Atrás o mono-amortecedor KYM foi melhorado em termos de afinações e mantém os ajustes na baixa e alta velocidade da compressão. O amortecedor de direção foi também revisto e as pastilhas de travão são novas, para uma melhor capacidade de desaceleração. Quanto aos pneus, a R1 e a R1M vêm equipadas com os novos RS11 da Bridgestone, que estreiam também algumas novas tecnologias no seu interior.
R1M
Tudo o que dissemos anteriormente é válido também para a R1M, com exceção das suspensões, já que a topo de gama continua a montar unidades eletrónicas da Ohlins (ERS), a que se somam as carenagens totalmente em carbono (agora inclusivamente a traseira), as funções de afinação / comunicação e wireless atualizadas para descarregar dados (CCU e YRC/Y-TRAC), um pneu traseiro mais largo (200), depósito e braço-oscilantes polidos e ainda a participação nas experiências Yamaha em pista (YRE). No que toca às suspensões, a inovação está presente na montagem de uma unidade pressurizada na dianteira (NPX-EC) de 43 mm, (reservatório integrado no interior com nitrogénio pressurizado em 6 bar) como encontramos nas WSBK e MotoGP, o que segundo a marca oferece muitas vantagens em termos de precisão, controlo e rapidez! Na traseira o TTX36 também sofreu melhorias para se ajustar à nova forquilha. A R1M é agora numerada, com uma pequena placa na parte da frente do depósito.
A nova R1 já está disponível em Icon Blue e em Midnight Black, enquanto a R1M chega em Novembro apenas na única decoração (espetacular) Icon Performance. Agora, vamos acelerar!
Em Jerez
Nesta apresentação internacional rodámos com as motos totalmente de origem, em que apenas os espelhos retrovisores e os pousa-pés do passageiro foram retirados, enquanto na R1M rodámos com os pneus slick V02 da Bridgestone. Motos novas, um traçado de Jerez de La Frontera fantástico e por vezes com os pilotos oficias da marca, Alex Lowes e Michael VD Mark a fazerem-nos companhia em pista… Não podíamos pedir muito mais! Andámos com a R1 de manhã, e nas várias sessões as sensações retiradas foram muito semelhantes às que recordávamos do modelo: uma moto pequena e ágil, divertida e com muito carácter. O motor é forte e linear, e sinceramente não notámos grandes diferenças (tal como esperávamos após vermos os números da ficha técnica), nem no aspeto sonoro nem no desempenho, pelo que as alterações no interior do tetracilíndrico vieram essencialmente fazer face ao escape mais “abafado” motivado pela EU5. Tentando abusar sempre mais um pouco, em travagem ou curva (entrada, a meio e saída), as suspensões revelaram sempre um grande acerto, facilitando a pilotagem que é ajudada por uns pneus RS11 muito eficazes, até num escorregar progressivo que não assusta. O quickshifter bidirecional funciona bem, pelo que só usávamos a embraiagem no paddock, mesmo se engrenávamos a primeira velocidade antes da curva de acesso à reta da meta, para a R1 ir mais colada ao asfalto. A travagem continua a apresentar um excelente feeling e uma boa capacidade, mas parece ser necessário realizar mais força na manete que em algumas rivais, pelo que – também por causa disso – fomos ajustando o travão motor ao nosso gosto. Quanto às outras ajudas eletrónicas, funcionam de uma forma muito pouco intrusiva (o que é ótimo), permitindo rodar bastante depressa de forma livre mas com segurança. Gostámos também da proteção aerodinâmica, que protegeu bem nas duas retas mais longas onde chegávamos aos 265 km/h.
Com a R1M
Durante a tarde, com a R1M as sensações foram algo diferentes, como esperávamos. Com pneus slick mais aderentes (e carcaça mais dura), a quem se juntam as suspensões eletrónica ajustadas no modo T1 (a afinação ideal para circuito com slicks), todo o conjunto ficou mais firme, mais colado ao solo, mesmo se as suspensões ajustam-se em tempo real à condução. Depois, com o nosso ritmo a aumentar, a ciclística pareceu ficar cada vez melhor… Uns bons segundos por volta a menos e a R1M ficaria perfeita, como Lowes e Van Der Mark iam mostrando ao nosso lado. A forquilha pressurizada funciona, como seria de esperar, às mil maravilhas, apresentando um comportamento que o comum dos mortais nunca levará aos limites. Mas sendo uma suspensão de topo, não funciona apenas bem em corridas. Simplesmente dediquem algum tempo à sua afinação no painel (ou através do smartphone), assim como a toda a eletrónica presente até ficarem com a R1 ao vosso gosto. Poderá inclusivamente ficar confortável para uma ida à padaria.
Conclusão
Com as novas R1 a Yamaha está bem preparada para as próximas temporada que aí vêm. No seu formato de origem são motos muito competitivas e divertidas, em estrada e em pista, bastando depois algumas tarefas simples para ficaram máquinas fortíssimas em circuito, como têm demonstrado em diversos campeonato Superstock por esse mundo fora. No geral, continuam a ser excelentes motos, excelentes bases para competição, e que já estão preparadas para “o que der e vier” através da homologação Euro5.