Estando a Niken integrada no segmento das desportivas de turismo da Yamaha, a marca não levou muito tempo até apresentar uma versão mais confortável e turística da sua carismática moto de três rodas. Terá a aplicação deste conceito mais vantagens ou desvantagens numa sport turismo? É o que fomos tentar descobrir!
Por Fernando Neto / Fotos Paulo Calisto
Já havíamos testado a Yamaha Niken na edição nr. 32 da Motos, de Outubro de 2018, e na altura o nosso colaborador Tomás Salgado realizou uma apreciação bastante completa do modelo que, tal como referido pela própria marca, consegue oferecer uma elevada segurança em todos os tipos de piso, em especial os mais escorregadios. De qualquer forma, este conceito de três rodas não é novo para a Yamaha, pois a scooter Tricity desde conquistado muitos novos utilizadores desde 2014, em especial aqueles vindos do mundo automóvel que precisam de sentir confiança para se “aventurarem” aos comandos de um veículo que inclina e precisa de equilíbrio.
Características
Tal como a versão base da Niken, esta GT tem como modelo base a Tracer 900, através do seu motor CP3 de três cilindros em linha, com uma potência de 115 cv e um binário máximo de 87,5 Nm às 8.500 rpm. Aliás, quase que podemos dizer que do motor para trás temos uma Tracer, sendo então na frente que a Niken se destaca. O sistema Leaning Multi-Wheel apoia-se no princípio de Ackermann, e neste caso encontramos rodas dianteiras paralelas e equidistantes , com 410 mm entre elas, com um conjunto de paralelogramas a fazer um dos lados esticar enquanto o outro encolhe, sendo o mesmo princípio das nossas pernas quando fazemos ski (a maioria de nós nunca o fez, mas podemos sempre imaginar). No caso da Niken, permite alcançar interessantes 45ª de inclinação! Na frente estão ainda montadas duas bainhas Kayaba de cada lado; as da frente a incluírem o sistema hidráulico (com afinação na compressão e extensão) e mola; e as traseiras que servem para manter alinhado o conjunto roda/travões. As rodas dianteiras são de 15’’e montam pneus Bridgestone específicos para este modelo e o guiador é também diferente do da Tracer.
O quadro é também um pouco diferente da versão de duas rodas, sendo construído em tubos de aço com zonas de aço fundido, e o braço-oscilante em alumínio possui também uma robustez, rigidez e flexibilidade de acordo com os propósitos do modelo, tal como o mono-amortecedor. O motor tricilíndrico foi devidamente afinado face à Tracer, com um aumento na inércia da cambota, mas também os mapas de injeção/ignição são específicos. Os carretos da caixa de velocidades são fabricados numa liga de aço de elevada durabilidade e a relação de transmissão é também mas curta face à Tracer. Tal como a Niken, esta GT possui também três modos de condução: 1 (o mais agressivo), 2 (standard) e 3 (o mais suave), controlo de tração TCS com 3 modos (sendo um deles desativado), embraiagem assistida e deslizante e ainda quickshifter, além de um sistema de cruise control.
Novidades
Até agora comparámos as duas versões Niken com a bem conhecida Tracer 900, mas falando do que esta GT tem de novo, encontramos então um para-brisas mais elevado, assento mais confortável para condutor e passageiro, malas laterais com as respetivas armações, suporte de bagagem traseiro, punhos aquecidos e ainda descanso central e duas tomadas de 12V para uma maior comodidade! Assim sendo, o objetivo foi o de manter todas as qualidades da Niken em termos de segurança e prazer de condução em zonas sinuosas, mas oferecendo outras mais-valias nas deslocações, daí o GT de Grande Turismo!
Fácil
Pessoalmente nunca tinha andado com a versão base da Niken, pelo que tudo aqui foi uma descoberta para mim. As dimensões do modelo são elevadas e podem até assustar os menos experientes, mas afinal de contas a Niken conduz-se mesmo como uma moto de duas rodas. A frente possui grandes dimensões, é verdade, mas mesmo nas manobras é bastante fácil de movê-la e nunca existe tendência para esta tombar de forma inesperada devido ao peso superior. Tudo é igual a uma moto de duas rodas, inclusivamente nos semáforos, onde não podemos fixar o sistema e deixar os pés nos pousa-pés, como fazemos em algumas scooters de três rodas. Na verdade, esta Niken GT perde sempre um pouco nas dimensões e agilidade para uma moto convencional, mas é fácil e divertida de conduzir, e tal como é referido pela própria marca, dá mesmo mais confiança, especialmente em asfalto mais escorregadio ou polido devido à presença das duas rodas na frente. E isto na entrada em curva, a meio desta e depois à saída, onde podemos acelerar à vontade pois a frente vai sempre colada ao chão e temos controlo de tração para corrigir qualquer coisa (ou desligá-lo se quisermos curtir ainda mais). Muito divertida! Por exemplo, no local onde realizámos estas fotos nunca teríamos atingido estas inclinações aos comandos de uma moto de duas rodas. Com esta não se passou nada!
Turismo
O que estamos a referir já era conhecido da versão base, pelo que desta GT é preciso salientar que o conforto é mesmo top! Os assentos são excelentes, a posição de condução muito boa e a proteção aerodinâmica é também muito aceitável, pelo que os principais argumentos de uma moto turística estão encontrados. Nem é à toa que várias Niken GT acompanharam em 2019 o Giro de Itália, mostrando aos fãs de ciclismo de todo o mundo como é fácil conduzir várias horas por dia aos comandos deste modelo. Mais destaques: a confiança que nos dá o funcionamento da suspensão da frente. Somente com muitas horas de testes foi possível certamente alcançar um funcionamento tão perfeito, com uma excelente absorção das irregularidades e dinâmica, mesmo quando apenas uma das rodas sobre impactos. E ao abordarem os buracos nunca se esqueçam que se os deixarem passar pelo meio das rodas da frente irão acertar em cheio com a roda traseira, com o mono-amortecedor traseiro a ser menos suave que o desejável. Nós apenas suavizámos a pré-carga através do controlo remoto e ficou bem melhor.
Em termos de travagem, é necessário fazer alguma força na manete para parar um conjunto grande em pesado, sendo o shifter da caixa de velocidades um pouco duro, pelo que só o usámos em condução mais desportiva. Mas é claro que apreciámos outras características importantes numa sport turismo, como é o caso dos punhos aquecidos com três níveis, as malas laterais (com bastante arrumação e fáceis de retirar, assim como as suas armações), o cruise control, a presença de um descanso central e uma instrumentação completa com tudo o que é necessário. Tal como nos outros modelos equipados com este motor, o modo de condução 2 (o intermédio) é o mais adequado em grande parte das situações, e falando do tricilíndrico, na Niken nota-se mais o “poço” que ele faz em médio regime, por volta das 4.500/6000 rpm, infelizmente naquela fase em que mais queremos ter motor para sair da curva ou ultrapassar. Normas Euro 4 a fazerem-se sentir, mesmo se em baixos e altos regimes o motor é bem veloz, e sempre com um belo ruído de escape a acompanhar. Também devido ao elevado peso (sempre são 267 kg em ordem de marcha) e dimensões, o consumo de combustível também é mais elevado que na Tracer 900, pelo que registámos uma média de 6,2 l/100 km, sendo difícil andar abaixo dos 6l. Mais detalhes: os espelhos retrovisores estão longe do condutor e nem sempre dão a melhor visão e quando conduzimos com a estrada molhada as duas rodas da frente mandam a água da estrada diretamente para as nossas pernas!
Não foi fácil resumir em poucas palavras tudo aquilo que sentimos com a Niken GT, mas voltando ao título do trabalho a resposta não pode ser exata. Nem esta moto pode ser considerada o futuro do motociclismo, nem achamos que seja uma máquina exótica para quem não sabe o que fazer ao dinheiro. A Niken GT é uma proposta muito válida, com prós e contras face a uma moto tradicional, e que merece ter o seu espaço no mercado. Uma moto irreverente, muito confortável e que no campo da segurança sem dúvida que nos convenceu. É mais uma boa opção no mercado!