A meio caminho entre a utilitária Street Twin e as mais exclusivas e desportivas Thruxton 1200, a Speed Twin é uma das Modern Classics mais interessantes da gama Triumph. Além disso apresenta um nome histórico para os conheceres da marca se bem que, como habitualmente, os componentes e a eletrónica sejam de uma moto totalmente contemporânea.
Por Fernando Neto Fotos Paulo Calisto
Lançada em 1938, a Speed Twin original foi um modelo marcante para a marca e mesmo para a história do motociclismo, modelo que na altura surpreendeu ao montar um motor bicilíndrico paralelo. Passados todos estes anos, o objetivo com o novo modelo foi buscar as linhas contemporary custom, a facilidade de condução do sucesso de vendas que tem sido a Street Twin (modelo lançado em 2016 e que recebeu melhorias o ano passado), e juntar a potência, binário e tecnologia da Thruxton R. O resultado? Uma Modern Classic ágil, moderna e que não se nega a uma condução mais empenhada.
Características
Como tal, é mais leve 10 kg que a Thruxton e 7 kg que a versão R, através da simplicidade de vários componentes – como toda a secção traseira curta que parece a de uma moto personalizada – e de uma ciclística trabalhada nesse sentido, com novas rodas em alumínio fundido, suportes em alumínio e bateria mais leve. O próprio motor é também mais leve e o quadro deriva da Thruxton R, enquanto em termos de suspensões encontramos na frente uma forquilha convencional KYB de 41 mm com 120 mm de curso e na traseira dois amortecedores da mesma marca e com o mesmo curso, com ajuste na pré-carga da mola. A Speed Twin monta pinças Brembo de 4 êmbolos na frente, que trabalham em discos flutuantes, e na traseira está montada uma pinça Nissin, com as jantes de 7 braços a montarem pneus de dimensão bem ajustada (atrás temos um 160/60 ZR17), e de elevada qualidade, como são os Pirelli Diablo Rosso III. Em termos de equipamento original encontramos um acelerador eletrónico, ABS e controlo de tração comutável, três modos de condução (Road, Rain e Sport), embraiagem assistida, iluminação em LED (com DRL) , tomada USB de carregamento e imobilizador.
Em relação ao motor, estamos perante um bicilíndrico paralelo de 8 válvulas, arrefecido a líquido, que já conhecíamos das versões Thruxton (versão HP, de resposta um pouco mais agressiva que nas Scrambler), pelo que os números são de 97 cv às 6.750 rpm e um binário sempre elevado e plano, com um máximo de 112 Nm às 4.950 rpm. Um bicilíndrico com cambota de baixa inércia mas cabeça de elevada compressão, e que face à Thruxton possui uma cobertura das cames em magnésio, embraiagem revista e tampas de motor otimizadas para a tal redução de peso. Face à Street Twin de 2019, a potência deste motor é superior em 49% e o binário em 40%.
Estilo e conforto
Neste aspeto a Triumph também não tem brincado em serviço, com modelos a apresentarem uma construção cada vez mais perfeita e de acabamentos notáveis. Não existem fios à vista (algo tanta vez descurado nas naked) e tudo tem um aspeto formidável, como se a moto tivesse saído de uma (boa) casa de transformação. Mas saiu mesmo de uma comum linha de montagem, e se ainda assim algo não convence existem mais de 70 acessórios da marca para personalização, oferecendo mais conforto, estilo ou apenas um sentido prático. Já no seu formato original a Speed Twin monta um guiador cónico elevado com espelhos retrovisores nas extremidades, enquanto a posição de condução é bem relaxada, com pousa-pés colocados 38 mm mais na frente e 4 mm mais abaixo que nas Thuxton. O assento corrido é amplo e bem acessível e estão em destaque as ponteiras de escape de formato desportivo, tipo megafone. A contemplar ainda muitos componentes em alumínio escovado e também é merecedor de alguma atenção a bela tampa do depósito de combustível, tipo “Monza”.
Em cidade e AE
A Speed Twin é de facto uma moto lindíssima, pequena e muito fácil de manobrar e de conduzir. Oferece uma correta posição de condução e o conforto do assento é satisfatório, e mesmo antes de apreciarmos a dinâmica podemos falar do som dos escapes, um ruído clássico, atrativo, e que até oferece pequenos “rateres” em desaceleração. Do motor não surgem grandes novidades, sendo vivo e com muito binário, fazendo pouca rotação. Apresenta uma excelente caixa de velocidades e adequa-se de forma excelente às linhas e a todo o carácter que esta moto apresenta, sendo por vezes até algo brusco na forma como responde em cidade, enquanto a embraiagem é um pouco “pastilha elástica”, exigindo algum hábito. Nada de grave – não deixa de ser fácil conduzir a Speed Twin em ambiente urbano – mas isto só significa que em estrada será mais entusiasmante, até porque em AE – ainda por cima se estiver vento ou frio – as sensações não serão ótimas, até porque a posição de condução é bem erguida e não iremos desfrutar. Para andar a direito e viajar a gama Triumph tem motos melhores!
Em estrada
De qualquer forma, o modo de condução Road será sempre o melhor e o mais adequado para boa parte das situações, oferecendo uma boa resposta ao acelerador e com o melhor tato. As suspensões parecem demasiado simples em termos visuais mas acabam por filtrar bem as irregularidades, e mesmo em condução desportiva o duplo amortecedor traseiro aguenta-se lindamente. Em estrada sinuosa a Speed Twin revela-se, deixando de ser apenas a moto “muito gira” para ser também divertida e eficaz, e todo o conjunto da ciclística funciona bastante bem, porventura melhor que em ritmo de passeio. Se as suspensões são simples, a travagem também não é de topo, mas chega e sobra para as prestações do modelo, ajudando ainda a presença de excelentes Pirelli Diablo Rosso III para momentos interessantes de condução. Não falámos ainda da instrumentação, muito agradável em termos estéticos e que oferece as informações tradicionais neste tipo de modelos na marca britânica: parciais, horas, nível de combustível, autonomia, modo de condução em vigor, consumo instantâneo e médio. E falando do consumo, a nossa média rondou os 5,2 l/100 km, dando para fazer um pouco menos mas também mais, variando sempre de acordo com a nossa inspiração em rodar o punho direito. Informações presentes em dois mostradores redondos, o da direita com o taquímetro em destaque e um “red-line” que tem início logo às 7.000 rpm. Mas acreditem que até lá a diversão compensa!
Em suma, se acham que a Boneville é demasiado retro, indo buscar inspiração às motos dos anos ’50, então esta, de estética e desempenho mais desportivo, a lembrar as dos anos ’70, poderá ser a tal. É muito agradável de conduzir, divertida mesmo em várias situações e só é pena não ser um pouco mais barata, mas verdade seja dita, a Triumph não tem descurado nem na qualidade de construção nem no equipamento das suas motos!