Tal como outras MV Agusta, esta Dragster 800 RR é, no mínimo, uma moto muito pouco racional. Nem sempre é fácil compreender algumas motos desta marca que, por outro lado, conseguem oferecer uma dose de loucura e paixão difícil de igualar. Uma saudável relação amor vs ódio que felizmente continua a existir no mercado das duas rodas.
Por: Fernando Neto / Fotos: Paulo Calisto
Eventualmente com exceção da Turismo Veloce, uma moto bastante versátil que ainda assim, não deixa de apresentar um ADN desportivo muito vincado, a restante gama MV Agusta continua a ser baseada na paixão. Basta irmos ao renovado site da marca em www.mvagusta.com para ficarmos a babar literalmente para os vários modelos da marca italiana, que ainda por cima estão constantemente a receber novas e exuberantes decorações. Tal como um representante da marca dizia recentemente na apresentação da Serie Oro no nosso país, existem motos muito mais fáceis e confortáveis para nos deslocarmos no dia-a-dia, e nem sempre uma MV pode estar de “bom humor”, mas afinal de contas também nem sempre as mulheres são fáceis de compreender, e não é por isso que deixamos de gostar delas…
Equipamento
Tendo nascido através da evolução do modelo Brutale de três cilindros (o nome original da moto destas páginas é Brutale Dragster 800), é fácil de entender que a Dragster é então a famosa naked da marca levada ao extremo. Uma versão mais radical em termos estéticos e de ergonomia para quem saber bem o que quer, certamente para quem uma Brutale era demasiado normal! Ainda assim, esta versão das fotos é a mais simples, pois existem as edições limitadas da 800RR RC (250 unidades) e da 800RR Pirelli (200 unidades), mas todas partilham a maior parte dos componentes. Falamos de um motor tricilíndrico de 798 cc que debita uma potência de 140 cv às 13.100 rpm, para um binário máximo de 87 Nm às 10.100 rpm. Encontramos eletrónica Ride by Wire, com controlo de tração de oito níveis de intervenção, diversos mapas de motor e quickshifter bidirecional, sendo a embraiagem deslizante. Nesta versão mais recente o motor foi melhorado, a nível das relações primárias, guia das válvulas e ação das cames. A caixa de velocidades é nova e exige menos força na engrenagem das mudanças, e ponto de ancoragem do motor no quadro também foi revisto. Os travões Brembo possuem sistema ABS da Bosch com controlo da altura da traseira, e é claro, esta Dragster destaca-se imediatamente pela presença de jantes em alumínio com raios. As suspensões são marzocchi na frente e ZF atrás (marca da Sachs), o depósito é de 16,5 litros de capacidade e o peso a seco é de 168 kg. Outros detalhes: os suportes em alumínio do guarda-lamas dianteiro, a presença de um amortecedor de direção regulável em oito posições, a traseira apresenta agora um grande farolim único e na frente podemos escolher entre iluminação diurna por LED ou noturna. O guiador é bastante largo e os espelhos retrovisores estão colocados nas extremidades destes.
Detalhes
Encontramos ainda mais alguns detalhes cuidados, como a proteção contra o calor no pisca traseiro ou até mesmo a forma hábil como os pousa-pés do passageiro estão escondidos, mas também existem pormenores menos bem conseguidos: a instrumentação que parece acusar o peso dos anos (nem nível de combustível tem) quando já se pedia um painel TFT, o facto de vir equipada com pneus Pirelli Diablo Rossi II quando os Rosso III já estão há muito no mercado, e diversos pormenores de ergonomia. Os espelhos, por exemplo, oferecem uma visão muito reduzida, e ao estarem colocados nas extremidades do guiador são um pesadelo de utilizar na cidade; e todo o conjunto é demasiado duro, e falamos de quadro, suspensões, assento (chega a magoar a lateral deste), e até punhos. Apenas as suspensões podemos melhorar, estas que têm afinações de difícil acesso, e mesmo assim ficaram durinhas depois de abrirmos todos os hidráulicos. E é claro, não pensem fazer turismo com passageiro, algo que certamente terão logo retirado da ideia depois de terem visto as primeiras fotos da Dragster.
Condução
A posição de condução é algo agressiva para uma naked, mas nem se esperava outra coisa numa moto que parece ser sido fabricada para ser conduzida depressa (não, não é para estar na sala)! A caixa de velocidades é muito boa (primeira relação com um tato fenomenal), e o shifter bidirecional é dos mais suaves que conhecemos, e de pensavam que o motor tricilíndrico era um poço de binário, na verdade este sente-se realmente bem entre as 7.000 e as 13.000 rpm! Sempre que rodamos totalmente o punho o som da admissão é incrível, vindo das entranhas mais profundas desta MV, mas se andarmos de forma suave o belo ruído do tricilíndrico é até bastante baixo. Em baixos regimes, mesmo com o motor a não bater, não é dos motores mais suaves, embora seja muito mais fácil de usar que um V2, por exemplo.Por tudo o que já dissemos, é fácil de imaginar que a Dragster prefere as estradas imaculadas, onde o prazer de condução é enorme. Em locais mais irregulares e/ou com buracos esta MV é bastante desconfortável e as suspensões têm dificuldade em filtrar tudo, pelo que se pode tornar nervosa e com muitos dos esforços a passar para os pneus. Além disso, o ângulo de coluna de direção é muito radical, pelo que se não são adeptos de uma frente muito leve o melhor é apertarem bem o amortecedor de direção. O tato dos travões é bom e a potência destes é elevada, enquanto a nível de eletrónica andámos quase sempre no modo Normal, que já de si é bastante sensível ao acelerador. Quanto ao controlo de tração, não chegámos a sentir a sua presença, e só o desligámos totalmente para realizarmos a foto da última página! Em termos de economia, registou um consumo médio de 6,2 l/100 km, medido na bomba, valor que pode sempre variar numa moto deste estilo.
Resumindo, esta é uma moto super divertida e até mesmo entusiasmante, mas exige mãos algo experientes e mesmo assim não é em qualquer local que podemos tirar todo o partido do carácter da Dragster. Uma máquina de espírito italiano e que não é de compromissos, no fundo o exemplo oposto da típica moto japonesa que faz tudo bem. E é claro, em termos estéticos é tão bela que para muitos chega a ser demasiado exuberante. Talvez a outra decoração seja mais do vosso agrado.