Após lançar a C 400 X, a BMW não perdeu tempo e apresentou esta versão GT que, tal como o nome indica, pretende satisfazer os que ambicionam mais conforto e equipamento, aspetos importantes num veículo de Grande Turismo.
Por Fernando Neto
Fotos Paulo Calisto
A BMW quer estar presente, e em força, em praticamente todos os segmentos de mercado. Falando em específico das duas rodas, a área de mobilidade ocupa cada vez mais espaço na gama da marca alemã, pelo que é com naturalidade que temos assistido à chegada de modelos como a G 310 GS, G 310 R, ou das scooter C evolution (elétrica) e maxi-scooter C 650 Sport e C 650 GT.
Foi na edição nr.30 da Motos, de Agosto de 2018, que apresentámos o primeiro contacto à BMW C 400 X, na altura a nova scooter de média cilindrada da marca alemã. Dois meses depois era mostrada na EICMA a versão GT, um modelo que, tal como versão Grande Turismo da automática de maior cilindrada, pretende oferecer um maior conforto aos seus utilizadores face ao modelo original.
A mesma base
Mesmo sendo uma versão mais equipada – algo a que a marca alemã tem vindo a acrescentar em vários modelos nas suas gamas de duas e quatro rodas – toda a base desta C 400 é a mesma da automática que havíamos testado no verão do ano passado em Itália. Falamos de um modelo fabricado na China, para uma mão de obra mais barata, mas desenvolvido pela marca na Alemanha, pelo que a qualidade de componentes e de construção não merece reparos. O motor é portanto o mesmo monocilíndrico de 350 cc, de refrigeração líquida e quatro válvulas, de uma árvore de cames à cabeça. Possui veio de equilíbrio e debita uma potência máxima de 34 cv às 7.500 rpm, sendo o binário máximo de 35 Nm às 6.000 rpm. A primeira alteração surge com o peso do conjunto, que nesta GT é 8 kg superior ao da X (212 kg em ordem de marcha), mantendo-se a transmissão variável contínua. Não falta o sistema ASC (controlo de tração), já praticamente imprescindível mesmo nestas scooters de média cilindrada, e o escape é também semelhante ao modelo já conhecido.
Passando para a ciclística, voltamos a encontrar um quadro tubular em aço, com ferro na zona de ancoragem com o braço-oscilante, e também em termos de suspensões tudo se mantém, com uma forquilha convencional na frente, duplo amortecedor na retaguarda, e o mesmo curso em ambos os eixos. Em termos de travagem não foram realizadas alterações, com a presença de dois discos na frente de 265 mm e pinças radiais de 4 êmbolos (ABS de dois canais da Continental); tal como nas rodas e pneus, de 15’’ na dianteira e 14’’ atrás que montam borrachas Angel Scooter da Pirelli.
Mais conforto
A BMW quis manter o ar de família C, mas desde logo se percebe como a GT é bem mais encorpada, para oferecer mais conforto e proteção aerodinâmica. Na frente mais volumosa destacam-se as luzes LED, assim como um ecrã de grandes dimensões, sendo ainda de notar a presença de uma ignição sem chave (keyless) agora de origem, tal como a presença de plataformas para os pés do passageiro em vez dos pousa-pés do modelo anterior. O assento é outro, este mais envolvente e com um pequeno apoio para as costas do condutor, mas em termos de espaços de carga e arrumação tudo se mantém, com dois porta-luvas na dianteira e um espaço sob o assento com o sistema Flexcase, um local extensível que aumenta a capacidade de carga sempre que o veículo está parado. É claro que a nossa unidade apresentava diversos opcionais, como não poderia deixar de ser, com os pacotes Comfort (punhos aquecidos e assento aquecido) e Connectivity, onde está presente a excelente instrumentação TFT a cores com o correspondente Multi-Controller no punho esquerdo. Muitos outros opcionais podem ainda ser colocados, mas de uma forma geral não nos parece que façam grande falta, pois esta scooter tem tudo o que é necessário para as deslocações diárias e outras maiores de fim-de-semana.
Ergonomia e detalhes
O ano passado as sensações com a 400 X foram muito positivas, pelo não esperávamos algo muito diferente com esta GT. A estética, na nossa opinião, não resulta tão bem neste modelo mais turístico, apesar da construção ser boa e de alguns componentes serem bem vistosas, como as luzes LED dianteiras e traseiras. A posição de condução é excelente e o nível de conforto elevado, mas pareceu-nos algo difícil retirar o modelo do descanso central, sendo necessário realizar muita força. A proteção aerodinâmica é elevada, e no meu caso acho até exagerada para o meu 1.66m, pois o ar é totalmente retirado da face e sente-se depois este a empurrar ligeiramente as costas a velocidades mais elevadas, sendo este um dos contras que existem por vezes nos ecrãs mais elevados. Os porta-luvas dianteiros são bem construídos e tudo está bem montado e funciona bem, mas sendo esta uma versão GT, o espaço sob o assento não é o melhor, existindo scooters de menor cilindrada com bem mais arrumação. Nesta 400, visto o sistema Flexcase ter de ser recolhido em andamento, só conseguimos transportar um capacete jet em andamento, local onde depois podemos guardar um integral quando estacionamos. Além disso, o fundo deste espaço merecia ser forrado em vez de ter plástico duro à mostra. A instrumentação TFT é excelente e podemos aceder a diversas informações sobre o veículo, assim como emparelhá-la com o nosso smartphone para ouvir música, atendar chamas ou usar o TFT como sistema de navegação. Para isso será necessário descarregar uma app específica.
Boas sensações
Dinamicamente tudo funciona de forma muito agradável, tal como na C 400 X. O motor monocilíndrico nem é o mais suave do segmento a baixa rotação – no primeiro toque do acelerador – mas logo de seguida suaviza e as acelerações são bastante fortes. Somente a velocidades elevadas sente-se um pouco o peso adicional do conjunto mas, ainda assim, bem embalada a GT alcança os 150 km/h. E como existe pouco travão motor é muito fácil realizar bons consumos, pois esta 400 faz muitos metros apenas com o embalo. A nossa média andou nos 4l/100 km, e mesmo em condução mais rápida e intensiva nunca ultrapassámos os 4,3 l/100 km. As suspensões funcionam bem e somente com passageiro começam a surgir algumas limitações nas mesmas (esgotando por vezes o curso), pelo que nessa altura é possível melhorar um pouco a dinâmica ao colocarmos um pouco mais de pré-carga nos amortecedores traseiros. A travagem é muito boa, potente, progressiva e com um bom tato, e também os pneus Pirelli são de qualidade.
Fazendo um balanço, gostámos bastante desta C 400 GT, mas será que vale a pena o investimento adicional face à C 400 X? Dependerá sempre da opinião e dos gostos de cada um, mas pessoalmente gostei mais da X, que ainda por cima me possibilitaria poupar cerca de 1000 euros!