A melhor descrição do passeio de “chapa amarela” realizado em Vale das Onegas, Freguesia de Alcaravela, concelho de Sardoal, distrito de Santarém, no passado dia 15 de outubro é que foi um encontro de gerações, que já vai na sua VII edição e é fácil perceber porquê.
Este tipo de eventos, muito comum por esse Portugal fora, ainda que tendo por base sobretudo os ciclomotores até 50 cc (daí a designação de chapa amarela) é muito mais que isso!
Acabam sempre por aparecer veículos mais recentes ou com mais cilindrada (e até é bom que assim seja) para conhecer um pouco dos seus antepassados fumarentos e ruidosos, mas a maior riqueza está na dimensão humana!
Encontramos jovens motards, com diversas presenças do sexo feminino, que surgem montados em veículos que eram dos pais ou dos avós! Que facilmente duplicam ou mesmo triplicam a idade do condutor/a!
Por outro lado, temos condutores já não tão jovens com 50, 60 ou mesmo 70 anos que idade que continuam a sentir prazer em andar em duas rodas e aproveitam para se reunir nestes momentos.
Resumindo: aqui não há conflito de gerações! Só encontro!
Como decorreu o passeio?
Ao realizar-se ao sábado de tarde existe o inconveniente de alguns potenciais participantes não poderem marcar presença por estarem a trabalhar, mas a grande contrapartida é que se pode aproveitar melhor o serão e se for o passeio ao domingo… nada feito!
O local de partido é no espaço da Associação da Terra onde são feitas as inscrições, não existem verificações técnicas ou documentais, é feito um breve briefing, dados os conselhos habituais sobre a importância de cumprir o código da Estrada, não ultrapassar o “líder”, uma explicação sumária do trajeto e começa a aventura, com algum fumo azulado à mistura, a querer imitar o azul do céu e a contrastar com o branco e amarelo da capela!
Desta vez responderam à chamada cerca de 80 participantes, muitos com passageiro/a, para uma aventura de cerca de 70 km por alguns dos lugares mais bonitos da região, sendo que a dificuldade é sempre escolher onde ir.
A paragem para reforço alimentar e dar a oportunidades para os motores, a maioria refrigerada a ar, arrefecerem foi feita junto à Praia Fluvial das Fontes, ali ao lado do Zêzere e com uma vista deslumbrante, nomeadamente sobre a Ilha do Lombo.
O regresso teve ainda um encanto adicional: fizemos alguns km’s na Nacional 2 (isso mesmo) que atravessa o concelho de Sardoal entre os de Vila de Rei e de Abrantes. Refiro-me ao traçado original, que atravessa o Centro da Vila de Sardoal e passa ao lado do Penedo Furado e não aquele que muita gente faz por via rápida entre Sardoal e Vila de Rei. Ganham meia hora, mas perdem um dos mais bonitos trajetos de toda a EN2! Estou à vontade para o afirmar porque já a percorri na totalidade!
No final de tudo é hora de pensar no estômago. Comida caseira de verdade! Feita por gente que sabe de culinária a sério, que cozinha sem pressa, com amor e carrega nas mãos o conhecimento de saberes e sabores ancestrais! Como alguém me dizia:
– A comida daqui sabe mesmo à que a minha avó fazia! Que saudades! Acho que repeti duas vezes! Estou quem nem posso! Mal vai que a motorizada não seja capaz de me levar!
Pequenos percalços existem sempre, mas mostram que não podemos dar nada por adquirido e nem tudo é um mar de rosas! Ao que apurei, o saldo conta-se por uma pequena saída de estrada, sem consequências e duas avarias, sendo que uma delas foi apenas uma vela do motor que alargou e a outra ainda está para apurar no “Senhor Dr. das Motorizadas”. Curiosamente foi numa pequena 50 cc e de uma marca japonesa!
Para a noitada ficam os mais resistentes, os que não têm pressa, que querem desfrutar um pouco mais da alegria de estarmos juntos.
Afinal de contas, é sábado à noite, sobrou comida, nomeadamente entradas, e uma bebida fresca entre amigos sabe tão bem!
Texto: Pedro Pereira
Fotos: Pedro Pereira e Membros da Associação de Vale das Onegas