Depois de, na semana passada, termos apresentado On Any Sunday, é chegada a altura de apresentar (mais) um filme de culto. Aliás, atrevo-me a escrever que Easy Rider é, para muitos de nós, O filme! Fiz uma pequena brincadeira junto de alguns amigos que gostam de motos e todos, menos um, foi o primeiro filme de que se lembraram em primeiro lugar! Elucidativo, sendo que a banda sonora também tem parte da culpa!
A escolha dos filmes que apresento, como não podia deixar de ser, é algo ingrata, seja para mim, seja para os que nos acompanham nestas crónicas!
Como vão perceber, ao longo das mesmas, as escolhas nem sempre são pacíficas e, imagino eu, que seriam muitas as situações em que iriam apresentar outras escolhas tão ou mais interessantes, o que mostra que somos todos diferentes e ainda bem! Podem sempre fazer a vossa lista pessoal e comparar com esta!
Só para reforçar isso, escrevo já que não vou apresentar a Kawasaki GPZ 900R de Tom Cruise em Top Gun, a Kawasaki ZZR 250 amarela de Uma Thurman em Kill Bill ou a Ducati 996 que Trinity conduz em Matrix Reloaded. A explicação é simples: tenho que escolher apenas 10!!!
Easy Rider
Este filme chegou ao mundo em 14 de julho de 1969, ano da chegada à Lua (apenas 6 das depois), mas é como se fosse um filme de hoje, mais ainda a banda sonora, com especial destaque para Born to be Wild dos Steppenwolf que era atual à data, continua a ser e, arrisco escrever, vai ser sempre!
Mesmo de olhos fechados é fácil fazer a associação ao mundo das motos de estilo chopper, neste caso feitas à mão pela equipa de Ben Hardy, destinadas à aventura, à liberdade, ao heavy metal e, já agora, a alguns excessos inerentes à condição humana, sejam drogas, violência, álcool, sexo…
Easy Rider, geralmente traduzido como “Sem Destino” conta, em cerca de 95 minutos, a história da busca da liberdade e de si mesmo por Peter Fonda (Wyatt) e Dennis Hopper (Billy, que também foi o realizador), dois motards que empreendem uma viagem entre Los Angeles e Nova Orleães, com o objetivo de marcarem presença no Mardis Gras, ou seja, a terça-feira de Carnaval.
Ambos representam, de certa forma, o anti-herói americano e são completamente contra o sistema. O primeiro, com a célebre bandeira das estrelas do EUA no depósito da sua Harley (Capitão América), no blusão e no capacete é a alegoria do homem da lei Wyatt Earp e o segundo, trajando roupas indígenas, representa o “matador” Billy the Kid.
Pelo caminho “acolhem” Jack Nicholson (George Hanson), um advogado alcoólico que os evita de ficarem na prisão e lhes abre os olhos para uma nova dimensão do mundo, tornando-se os 3 inseparáveis e decidem os 3 prosseguir viagem juntos.
Este road movie faz-nos viajar de moto, pelos desertos e paisagens americanas, mas é muito mais que isso! É uma viagem ao interior de cada um de nós! Eu próprio já vi o filme várias vezes ao longo da minha vida e cada vez que o vejo, sinto que me toca de forma diferente! Façam a experiência.
Ainda que correndo o risco de ser hiperbólico, escrevo que quem nunca viu o filme é uma pessoa mais pobre, gostando ou não de motos e mesmo sabendo que o fim da história é trágico!
Curioso que, em termos de prémios, o filme foi praticamente um fiasco, até porque foi um filme com um orçamento reduzido (low budget) e até “contra a corrente” de Hollywood! Não recebeu qualquer óscar da Academia e só mesmo o Festival de Cannes lhe reconheceu a genialidade atribuindo o prémio de realizador “estreante” a Dennis Hopper, mas nas bilheteiras as coisas correram bem melhor!
Ainda uma última nota curiosa: é mais ou menos aceite que a fonte de inspiração para este filme vem de um filme italiano! Nada mais, nada menos, que Il sorpasso (A Ultrapassagem), comédia italiana de 1962, em que tudo começa em Roma e depois se desenrola por Itália fora, mas com um carro e não com motos! Talvez valha a pena ver também!
Para a próxima semana teremos novo filme. É já uma produção deste século e completamente diferente dos anteriores, sendo que seria completamente impossível de fazer naquela altura por uma razão muito simples: a tenologia não o permitia! Até quarta-feira.
Texto: Pedro Pereira